Economia moçambicana deve crescer a partir deste ano
Lusa
25 de janeiro de 2020
Consultora britânica estima que a economia de Moçambique recupere do abrandamento de 1% em 2019, acelerando para 4,2% este ano e 6,5% nos próximos dois anos, graças ao setor da construção e à reestruturação da dívida.
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"No seguimento de dois ciclones e de uma seca severa noutras partes do país, o crescimento económico abrandou para uns estimados 1% em 2019; a economia vai recuperar o fôlego em 2020, com uma expansão de 4,2%, alimentada pelos atuais esforços de reconstrução [da dívida] e pela atividade da construção, bem como pela política monetária", escreve a consultora britânica Economist Intelligence Unit (EIU).
Numa análise à economia de Moçambique, enviada aos clientes e a que a agência de notícias Lusa teve acesso e divulgou este sábado (25.01), os peritos da unidade de análise económica da revista britânica The Economist escrevem que apesar da aceleração, "a produção de carvão em 2020 vai cair devido às paragens programadas, e a agricultura vai continuar fraca, ainda a recuperar dos ciclones e da seca".
Em 2021 e 2022 a EIU prevê um crescimento médio de 6,5%, essencialmente à custa da indústria do gás e dos grandes investimentos que estão a ser feito, principalmente no norte do país.
A inflação, por seu lado, vai subir de 2,8% no ano passado para 3,1% este ano, "com o metical a perder valor e o banco central a cortar nas taxas de juro", e aumenta para 7,8% em 2024, potenciada pela política monetária e pelo crescimento económico propiciado pelos investimentos no gás.
Reestruturação da dívida
Ao longo dos próximos meses, Moçambique vai "gradualmente recuperar um acesso melhorado aos mercados de capitais, no seguimento da aceitação pelos credores, em setembro, da reestruturação dos 727,5 milhões de dólares [quase 660 milhões de euros] em títulos de dívida soberana" decorrentes da transformação da dívida corporativa da EMATUM (Empresa Moçambicana de Atum) em dívida soberana.
No entanto, alerta a EIU, referindo-se aos empréstimos da Mozambique Asset Management (MAM) e da ProIndicus, "a reputação soberana de Moçambique não vai recuperar completamente enquanto os dois empréstimos sindicados, de mais de 1,1 mil milhões de dólares [quase mil milhões de euros], continuarem em incumprimento financeiro".
Assim, apontam, "as relações com os doadores vão continuar difíceis e o financiamento vai continuar a ser um aspeto com alguma dificuldade".
Na análise à economia de Moçambique, a EIU aborda ainda a relação do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que cortou o apoio financeiro na sequência da divulgação da dívida oculta: "Em sentido geral, a ausência de uma reforma abrangente no quadro do FMI significa que as políticas serão casuísticas".
O acesso limitado a financiamento "vai acabar por forçar o Governo a implementar algumas grandes reformas, como a retirada gradual dos subsídios e a privatização de ativos do Estado", agora que o executivo está menos preocupado com a resistência à consolidação orçamental, mas os efeitos dos ciclones vão temperar o ritmo e a escala das reformas, concluem os analistas.
As areias de Inhambane: do artesanato à construção de casas
As areias do rio Mutamba são fundamentais para a subsistência de muitas famílias em Inhambane. As areias têm vários usos como o fabrico de tijolos ou vasos, mas esta exploração tem consequências ambientais e sociais.
Foto: DW/L. da Conceição
Tudo começa aqui
O rio Mutamba, em Inhambane, é rico em areias escuras, que são aproveitadas para fabricar tijolos e outros produtos. Devido à crise e à falta de alternativas, centenas de habitantes da região têm encontrado aqui uma fonte de sobrevivência. Há também cada vez mais menores a trabalhar neste setor, que estão sujeitos a muitos perigos, como picadas de cobra.
Foto: DW/L. da Conceição
Perigos ambientais
Muitas famílias têm recorrido ao rio Mutamba para conseguirem obter areia e vender nos estaleiros. Já se notam os efeitos da destruição da natureza, com buracos nas margens do rio. Getrudes Namburete, do Centro Terra Viva, é contra a atividade. E foi proibida a exploração sazonal há quatro anos - só quem tem licença pode explorar. Mas o problema continua e não há fiscalização neste setor.
Foto: DW/L. da Conceição
Estaleiros
As areias extraídas do rio Mutamba são vendidas num estaleiro local. Um carro pequeno de caixa aberta carregado com areia custa 275 meticais, cerca de 4 euros. A exploração é feita mediante o pagamento de uma taxa anual de 1200 meticais (18 euros) na Direção Provincial dos Recursos Minerais e Energia.
Foto: DW/L. da Conceição
O tijolo mais procurado
Os tijolos de Mutamba são os mais procurados pelas pessoas que querem construir residências. Os proprietários das estâncias turísticas da região também compram estes tijolos para construírem algumas infraestruturas. Quem não consegue comprar blocos nos estaleiros vive habitualmente em casas feitas com material precário. O preço de cada tijolo de Mutamba custa em média sete meticais (0,10 euros).
Foto: DW/L. da Conceição
Negócio de família
José Vilankulo é natural do distrito de Jangamo. Ele e a mulher dedicam-se ao fabrico de tijolos para a construção de casas. Aprenderam a arte de fazer tijolos com familiares. Vilankulo conta que o negócio costumava ser rentável, mas nos últimos três anos tem havido menos clientes.
Foto: DW/L. da Conceição
O forno tradicional
É possível fazer centenas de tijolos nestes fornos tradicionais. Nem todos têm fornos próprios. Por isso, muitas pessoas usam os fornos tradicionais de terceiros, a troco de dinheiro. Os custos eram elevados, mas os preços diminuíram com a crise económica dos últimos anos.
Foto: DW/L. da Conceição
Desde 2000 a fazer tijolos na região
Benjamim Samissone vive na região há mais de 18 anos. Faz tijolos e queima. Vende a nível local e possui um forno próprio, já em fase de degradação. Arrenda também o forno a pessoas que querem queimar os seus tijolos. Por mês, produz em média cerca de 600 tijolos - atualmente emprega três trabalhadores sazonais.
Foto: DW/L. da Conceição
"Deixei de estudar"
Há dois tipos de trabalhadores, os sazonais e os contratados. Os sazonais recebem 1,5 meticais por tijolo (2 cêntimos de euro). Os contratados têm um salário de 2 mil meticais por mês (30 euros). Armando Augusto, 20 anos, natural de Cumbana, é um trabalhador sazonal e está no setor há dois anos. Deixou o ensino no 8º ano do secundário, quando perdeu os pais. Aqui há muitos jovens como ele.
Foto: DW/L. da Conceição
Problemas de transporte
Esta é uma carroça que costuma ser usada para transportar tijolos. Há poucos fornos na região e os tijolos têm de ser levados de um lado para o outro. Este é um dos meios de transporte usados para pequenas distâncias.
Foto: DW/L. da Conceição
Construção de muros
Devido ao custo elevado do saco de cimento, muitas famílias têm recorrido aos tijolos de Mutamba para construírem muros nos seus quintais, embora também saia caro.
Foto: DW/L. da Conceição
Vasos de Mutamba
A areia de Mutamba também é usada na produção de vasos. É um produto muito concorrido a nível nacional, seja por particulares ou por grandes hotéis. Cada vaso chega a custar 1500 meticais (22 euros).