Moçambique: Dhlakama anuncia trégua por tempo indeterminado
Leonel Matias (Maputo)
4 de maio de 2017
O líder da RENAMO disse, esta quinta-feira (04.05), que chegou a acordo com Nyusi para a retirada das forças governamentais na Gorongosa, a partir de 8 de maio. Disse ainda que o seu regresso a Maputo "está para breve".
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Afonso Dhlakama, líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), maior partido da oposição em Moçambique, anunciou, esta quinta-feira (04.05), e após três tréguas a prazo, a prorrogação da atual trégua por tempo indeterminado. O anúncio surge, explica Dhlakama, para "tranquilizar o povo moçambicano e os homens de negócios" e "para que Moçambique tenha uma imagem de paz, de um país com todas as condições para os investimentos".
O líder da RENAMO, que falava aos jornalistas via teleconferência, a partir da Gorongosa, onde se encontra refugiado, afirmou ainda que a "paz está a começar e será uma paz efetiva". Relembre-se que a atual trégua vigora desde 27 de dezembro.
Um dos sinais do atual ambiente de paz no país é, indicou Afonso Dhlakama, um acordo que alcançou com o Presidente Filipe Nyusi, com quem tem conversado regularmente ao telefone. No âmbito deste acordo, acrescenta, as forças governamentais vão retirar-se, a partir da próxima segunda-feira (08.05), de todas as 26 posições que ocupam na Gorongosa, o bastião da RENAMO. Como explicou Dhlakama, "o acordo é que, até finais do primeiro semestre (finais de junho), terão que se retirar de todas as posições militares do Governo para os seus quartéis".
Dlakhama "motivado" Relativamente ao diálogo que decorre entre delegações do Governo e da RENAMO para tratar os assuntos militares e de descentralização da administração do Estado, Dhlakama admitiu que o processo está a ser lento, devido à delicadeza e complexidade dos temas. No entanto, afirma estar "motivado". "Sei que as coisas irão mudar. Não estarão como sempre estiveram desde 1992 - altura da assinatura do acordo geral de paz em Roma", afirmou.
O grupo sobre assuntos militares está a discutir o modelo de enquadramento dos oficiais da RENAMO nas forças governamentais e a possibilidade da sua integração na polícia e no serviço de informação e segurança do Estado.
Ao nível do grupo sobre descentralização, o enfoque está a ser dado à eleição dos governadores provinciais, já no próximo escrutínio em 2019.
Ambos os grupos prevêem concluir os seus trabalhos até meados de setembro para que os documentos sejam submetidos a votação no Parlamento ainda este ano.Questionado sobre quando é que pensa abandonar a Gorongosa e regressar a Maputo, Afonso Dhlakama disse que "falta pouco", acrescentando que é preciso garantir aspetos de segurança e conhecer o pensamento do Governo para evitar a repetição de incidentes do passado. "Dentro em breve, se tudo correr bem, estaremos juntos aí nas ruas de Maputo a preparar as eleições autárquicas e presidenciais", afirmou.
04.05.2017 Dhlakama /Trégua - MP3-Mono
Reações
As reações à prorrogação da trégua não se fizeram esperar. A União Europeia considerou que "é um desenvolvimento muito bem-vindo. Demonstra a crescente confiança entre as partes e contribui para a criação de um ambiente propício para a continuação das negociações de paz com vista a encontrar uma solução política sustentável".
Num declaração, a União Europeia dá conta ainda que continua a apoiar o processo de paz em Moçambique na sua qualidade de grupo de contacto designado pelo Governo e a RENAMO.
O eterno segundo lugar: uma vida na oposição em África
Não são apenas os presidentes que não mudam durante décadas nalguns países africanos. Também os chefes da oposição ocupam o cargo toda a vida, vedando o caminho às novas gerações. Conheça alguns eternos oposicionistas.
Foto: Reuters
O guerrilheiro moçambicano
Afonso Dhlakama é um veterano entre os oposicionistas africanos de longa duração. Em 1979 assumiu a liderança do movimento de guerrilha Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. Este tornou-se num partido democrático. Mas Dhlakama é famoso pelo seu tom combativo. Por vezes ameaça pegar em armas contra os seus inimigos. E concorreu cinco vezes sem sucesso à presidência do país.
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Morgan Tsvangirai - o resistente
O ex-mineiro tornou-se num símbolo da resistência contra o Presidente vitalício do Zimbabué, Robert Mugabe. Foi detido, torturado, sofreu fraturas do crânio e uma vez tentaram, sem sucesso, atirá-lo do décimo andar de um edifício. Após as controversas eleições de 2008, o líder do Movimento pela Mudança Democrática chegou a acordo com Mugabe sobre uma partilha do poder.
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O primeiro jurista doutorado na RDC
Étienne Tshisekedi foi nomeado ministro da Justiça antes de terminar o curso. Só mais tarde se tornou no primeiro jurista doutorado da República Democrática do Congo. Teve vários cargos na presidência de Mobuto, mas tornou-se crítico do regime. Foi preso e obrigado a abandonar o país. Liderou a oposição de 2001 até a sua morte em fevereiro de 2017. Perdeu as eleições de 2011 contra Joseph Kabila.
Foto: picture alliance/dpa/D. Kurokawa
Raila Odinga: a política fica em família
Filho do primeiro vice-presidente do Quénia, Raila Odinga nunca escondeu a ambição de um dia assumir a presidência. Foi deputado ao mesmo tempo que o pai e o irmão. Mas não se pode dizer que seja um militante fiel de algum partido: já mudou de cor política por quatro vezes. Após a terceira derrota nas presidenciais de 2013, apresentou queixa em tribunal contra o resultado e ... perdeu.
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O Dr. Col. Kizza Besigye do Uganda
Besigye já foi um íntimo de Museveni, para além do seu médico privado. Quando começou a ter ambições de poder, transformou-se no inimigo número um do Presidente do Uganda. Foi repetidas vezes acusado de vários delitos, preso e brutalmente espancado em público. Voltou a candidatar-se nas presidenciais de maio de 2016, durante as quais ocorreram novamente distúrbios violentos.
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Juntos por um novo Chade
Saleh Kebzabo (esq.) e Ngarlejy Yorongar são os dois rostos mais importantes da oposição no Chade. Embora sejam de partidos diferentes, há muitos anos que lutam juntos pela mudança política no país. Mas desavenças no ano de eleições 2016 enfraqueceram a aliança. A situação beneficiou o Presidente perene Idriss Déby, que somou nova vitória eleitoral.
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O Presidente autoproclamado
Desde o início da sua atividade política que Jean-Pierre Fabre se encontra na oposição do Togo. O líder da “Aliança Nacional para a Mudança” concorreu por duas vezes à presidência. Após a mais recente derrota, em abril de 2015, rejeitou os resultados do escrutínio e autoproclamou-se Presidente. Sem sucesso.
O pai foi Presidente do Gana na década de 70. Nana Akufo-Addo demorou muitos anos até seguir-lhe as pisadas. Muitos ganeses não levam muito a sério as tentativas desesperadas para chegar à presidência, tendo dificuldades em identificar-se com este membro das elites. Mas em novembro de 2016, Akufo-Addo candidatou-se pela terceira vez e venceu as eleições. Desde janeiro de 2017 é Presidente do Gana.