Nesta sexta-feira, o Presidente de Moçambique inicia uma visita à província de Cabo Delgado, palco de ataques. Analista diz que a importância da visita resume-se no diálogo que Nyusi vai manter com as populações.
Publicidade
O programa da visita a que a DW África teve acesso indica que, nesta deslocação à província nortenha de Cabo Delgado, o Presidente Filipe Nyusi vai escalar Palma e Mocímboa da Praia, dois distritos que, juntamente com Macomia e Nangade, têm sido alvo de ataques.
Os ataques têm sido levados a cabo por grupos armados, alegadamente de inspiração islâmica, com o recurso a catanas, e saldaram-se já em dezenas de mortos, vários deles decapitados, um número indeterminado de deslocados e mais de uma centena de casas destruídas.
Estes ataques irromperam numa altura em que estão a avançar as obras para a exploração de gás natural em Cabo Delgado com o envolvimento de algumas das grandes petrolíferas mundiais. Prevê-se que a produção de gás arranque em 2023.
Diálogo no centro da visita
"Penso que a importância desta deslocação é mesmo no sentido do diálogo. [O Presidente Filipe Nyusi] vai dialogar profundamente com as populações e elas vão ter também a oportunidade de explicar como é que as coisas têm acontecido", avalia o analista Alexandre Chiure.
A deslocação do Presidente aos distritos de Palma e Mocímboa da Praia acontece em cumprimento de uma promessa que Filipe Nyusi tinha feito durante uma recente visita a Cabo Delgado. Na altura, não conseguiu dialogar com as populações destes distritos devido ao mau tempo. Realiza-se, igualmente, dois dias depois do Conselho Nacional de Defesa e Segurança ter recomendado uma ação enérgica das Forças de Defesa e Segurança para elevar o nível de proteção das populações e dos seus bens.
O órgão de consulta do Chefe de Estado e Comandante em Chefe das Forças de Defesa e Segurança considerou ainda ser urgente que a situação volte à normalidade.
Apelo de reforço a vigilância
Alexandre Chiure espera que esta deslocação seja uma oportunidade para "o Presidente entender melhor o que está a acontecer, dialogar com as populações e encorajá-las, fazendo-lhes ver que o Governo está a tomar medidas e a levar o assunto a peito e que está preocupado em controlar a situação."
Ele espera que, durante a visita, Nyusi lance "um apelo muito forte para o reforço da vigilância a nível dos bairros e das aldeias, para ajudar as Forças de Defesa e Segurança a encontrar estes malfeitores que têm estado a atacar as populações indefesas."
Chiure observa a propósito que "a guerrilha é muito difícil de vencer. E, porque as Forças de Defesa e Segurança não podem estar em todo o lado, uma colaboração com a população seria útil, porque esses atacantes vivem dentro das comunidades, algumas delas são conhecidas, então é preciso denunciar essas pessoas para ajudar a controlar a situação."
Pemba: degradação em tempos de boom
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios históricos de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Casas históricas em ruínas
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios do centro histórico de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação. A degradação não poupa prédios com elevado valor histórico como esta casa, que foi na era colonial e até 1979 a residência do governador da província de Cabo Delgado.
Foto: Eleutério Silvestre
Mercado central de Pemba
O mercado localiza-se na cidade baixa da cidade desde 1940. Foi uma atração turística de Pemba, que em tempos coloniais era chamada Porto Amélia. Os números e as letras na placa por cima da fachada da entrada, resistem as intempéries naturais e ainda testemunham o quanto foi importante o mercado para os colonos portugueses.
Foto: Eleutério Silvestre
Negócio parado: as bancas do mercado
Nestas bancas simples eram expostos cereais, leguminosas e outros produtos alimentares. Antes do total abandono nos anos 2000, o mercado era frequentado por cidadãos da classe média de diferentes bairros de Pemba, atraídos pelo nível de higiene que caraterizava na exposição dos produtos. Vendia-se o melhor peixe e a melhor carne da cidade de Pemba.
Foto: Eleutério Silvestre
Abandono total: o cinema de Pemba
O cinema de Pemba, localizado na periferia da cidade baixa, era o único da cidade. Até 1990, eram projetados filmes na sala: das 14 às 16 horas os filmes para menores e das 17 às 21 horas as longas metragens para maiores de 18 anos. O cinema era ponto de encontro de cidadãos de diferentes idades de Pemba. O edifício funcionou também como ginásio de 2008 a 2012.
Foto: Eleutério Silvestre
Novas construções na vizinhança
Em vez de renovar e adaptar edifícios históricos já existentes, constroem-se novos prédios em Pemba, a capital da província moçambicana de Cabo Delgado. Este projeto do anfiteatro de Pemba é fruto de uma parceria público privada, entre o Hotel Wimbe Sun e o Conselho Municipal de Pemba. Mais um exemplo de que os investimentos vão para a construção e não para a reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Construir de raiz em vez de reabilitar
Mesmo para escritórios, que facilmente poderiam ser instalados em prédios históricos renovados, a opção preferida é construir de raiz. Assim sendo, o "boom" económico causado pela descoberta de grandes quantidades de gás na Bacia do Rovuma na província de Cabo Delgado não beneficia o centro histórico da cidade de Pemba. Este edifício é destinado para albergar uma filial bancária.
Foto: DW/E. Silvestre
Antiga delegação da Cruz Vermelha
Esta casa localiza-se na principal via de acesso à cidade baixa de Pemba. Serviu em regime de arrendamento como primeira delegação da Cruz Vermelha na província. A partir deste edifício, a Cruz Vermelha desencadeou ações humanitárias durante a guerra civil de Moçambique. Em 1999, a Cruz Vermelha de Moçambique abandonou a casa e mudou para infraestruturas próprias modernas.
Foto: Eleutério Silvestre
Armazém histórico de Pemba
Este armazém na cidade baixa faz parte dos edifícios históricos abandonados. Durante a guerra civil, serviu para o armazenamento de alimentos. Foi aqui que os residentes do bairro mais antigo de Pemba, Paquitequete, compravam produtos de primeira necessidade. Teve um papel muito importante durante a emergência de fome que assolou a população de Pemba durante a guerra civil no ano de 1980.
Foto: Eleutério Silvestre
Porto de Pemba
Quando o centro histórico está em degradação, uma das zonas mais dinámicas de Pemba é o porto. Do lado direito, as antigas instalações, do lado esquerdo a zona de ampliação destinada a carga do material da exploração do gás. O cais flutuante foi construído pela empresa francesa Bolloré. A esperança é que o boom do gás ajuda a reabilitar para além do porto também os edifícios históricos de Pemba.