Jornalistas moçambicanos pedem fim da impunidade dos crimes
Leonel Matias (Maputo)
2 de novembro de 2017
No Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra os Jornalistas, organizações moçambicanas de defesa dos jornalistas denunciam vários casos de violência contra a classe.
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Assinala-se esta quinta-feira (02.11.17) o Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra os Jornalistas, uma data criada pela ONU em dezembro de 2013, após o assassinato de dois jornalistas franceses no Mali. O objetivo é estabelecer um movimento mundial para que os crimes cometidos contra os jornalistas sejam levados à barra dos tribunais. A primeira celebração deste dia ocorreu em 2014.
Em Moçambique, organizações de defesa dos jornalistas aproveitaram a data para denunciar a existência de vários casos de violência contra a classe e exigir a sua responsabilização.
Um comunicado do Sindicato Nacional dos Jornalistas de Moçambique (SNJM) "chama a atenção do Governo e da sociedade para a grave situação de violência contra jornalistas e outros profissionais da comunicação e para a questão da impunidade dos agressores também prevalecente no país".
Vários jornalistas agredidos
Segundo o SNJM, este ano, vários jornalistas foram agredidos e violentados no país, em crimes que estão relacionados com as suas atividades e os agressores não foram responsabilizados.Para além de agressões físicas e verbais, foram reportados casos de intimidações e ameaças, refere o Sindicato Nacional dos Jornalistas.
Por seu turno, o escritório moçambicano do Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA-Moçambique) exemplifica que há casos de situações em que o poder policial e militar intimidam os jornalistas, restringindo-os de fazer imagens em locais públicos.
Citou, igualmente, que os jornalistas foram impedidos recentemente de fazer a cobertura do início do julgamento que devia ser público do assassinato do Procurador Marcelino Vilanculos.
Cartas do MISA ao Governo sem resposta
Ernesto Nhanale é o director executivo do MISA-Moçambique, associação que tem como objetivo promover e defender a liberdade de expressão e de imprensa, garantindo a livre circulação de informação."Nós remetemos algumas cartas, por exemplo, ao Ministério do Interior, mas até ao momento não temos respostas. Esses casos representam restrições que deviam ser punidas ao nível da lei".
Dia internacional do fim da impunidade..... - MP3-Mono
Ernesto Nhancale denunciou ainda à DW África que os jornalistas têm sido alvo de processos judiciais, numa ação que visa intimidá-los. Só este ano "reportamos seis casos que os jornalistas nos procuraram para assistência jurídica, dois deles foram julgados e nós como imprensa saímos vitoriosos. Significa que as pessoas que apresentaram esses processos queriam simplesmente intimidar os jornalistas no exercício do seu trabalho".
Impunidade está a tornar-se uma prática
Para o Sindicato Nacional dos Jornalistas, a impunidade dos agressores contra os jornalistas está a tornar-se uma prática em Moçambique, pelo que apela à adoção de medidas efetivas de combate à violência contra os membros desta classe e à penalização dos culpados.
Ernesto Nhanale, do MISA-Moçambique, observa que apesar da legislação disponível no país "ainda não temos nem um caso julgado de pessoas que violaram as liberdades dos jornalistas no exercício da sua profissão, fora o caso Cardoso ( jornalista moçambicano assassinado em 2001, num processo que foi julgado em 2003).
O MISA-Moçambique promoveu esta quinta-feira, em Maputo, em parceria com o setor judiciário, uma reflexão conjunta sobre as melhores formas de articulação com os vários poderes do Estado, no sentido de garantir uma maior proteção dos jornalistas.
Segundo Ernesto Nhanala, "temos uma legislação um pouco protecionista para as fontes de informação, aquelas que se localizam na posição do poder político e económico e tão pouco para os jornalistas".
Alemanha e Moçambique no olho de dois fotógrafos
Moçambique é o ponto comum na exposição em Berlim que junta fotografias do moçambicano Mário Macilau e do alemão Malte Wandel. As crianças de rua em Maputo são o tema em destaque na obra de Macilau.
Foto: Mario Macilau
Crianças de rua, na visão de Macilau
Nesta foto, o fotógrafo moçambicano Mário Macilau optou por um plano de detalhe para abordar a questão da alimentação das crianças de rua. Esse é um dos temas fortes na obra de Mário Macilau que, em 2017, foi um dos vencedores do prémio internacional The LensCulture Exposure Awards.
Foto: Mario Macilau
Crescendo na Escuridão
Em 2017, a obra do fotógrafo moçambicano Mário Macilau esteve em exposição na Galeria Kehrer, na capital da Alemanha. As fotos foram extraídas de diversas séries produzidas por ele, especialmente do livro "Crescendo na Escuridão", que mostra a infância de crianças de rua em Maputo. A exposição inclui também fotografias do alemão Malte Wandel, que documenta a vida dos "Madgermanes".
Foto: DW/C. Vieira Teixeira
A casa
A foto intitulada "Escadas de Sombras" mostra o interior de uma casa abandonada do período colonial. "Entrei nessas casas e comecei a observar a forma como esse sonho das casas de luxo se foi perdendo e as casas foram envelhecendo", revela Macilau. "Não queria mostrar o lado de rua dessas crianças, por isso, a maioria das fotografias foi feita dentro das casas onde elas moram", afirma.
Foto: Mario Macilau
Brincadeira
O menino com a arma de fogo nas mãos é, quase sempre, uma imagem chocante. Macilau garante que, aqui, trata-se de uma arma de brinquedo, feita pelas próprias crianças. O fotógrafo quis mostrar não apenas a dura realidade da vida nas ruas, mas também o imaginário e as brincadeiras, apesar da falta de perspectivas dos menores.
Foto: Mario Macilau
A imagem da alegria
A diversão na praia estampada nos sorrisos. A foto retrata a liberdade e a alegria do momento. Nem só de desesperança é feita a vida das crianças retratadas por Mário Macilau. "São crianças normais, que também têm sonhos. Elas vão passear, brincam, vão à praia. Isso tudo faz parte do lazer delas", considera.
Foto: Mario Macilau
Duas visões em exposição
Moçambique é o elo de ligação que junta dois fotógrafos na exposição, diz a gerente da Galeria Kehrer, Pauline Friesescke. "Mário apresenta um olhar de grande proximidade com os seus protagonistas", afirma. Já o trabalho de Wandel "coloca em debate uma parte interessante da história da Alemanha" e de Moçambique.
Foto: DW/C. Vieira Teixeira
"Madgermanes": Protestos e resistência
Desde 2007, Malte Wandel documenta a vida dos "Madgermanes" – tanto daqueles que ficaram na Alemanha quanto dos que retornaram a Moçambique. Para o fotógrafo, "era importante mostrar pessoas diferentes, em diversos lugares e também de níveis sociais variados" descreve. Na foto em exposição em Berlim, os "Madgermanes" protestam pelo pagamento de parte do salário que era descontado para Moçambique.
Foto: Malte Wandel
Ambiente familiar
Malte Wandel fotografou diversas famílias dentro de casa. Na foto, a família de Jamal Trabaco, em Halle an der Saale, no estado alemão da Saxónia-Anhalt. "Para mim, era muito importante mostrar os ambientes privados, contar as histórias privadas e tornar essas famílias visíveis", explica o fotógrafo alemão.
Foto: Malte Wandel
Vítimas de ataques racistas
Foi na Praça Jorge Gomodai, em Dresden, que em 1991 o moçambicano Jorge João Gomodai foi atacado por jovens de extrema direita, vindo depois a falecer. "Nestes tempos em que Dresden representa o Movimento Pegida [Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente], muitas manifestações aconteceram nesta praça e escolhi-a como símbolo para mostrar que a história se repete", justifica Wandel.
Foto: Malte Wandel
Uma vida sem glamour
O fotógrafo alemão interessou-se por retratar a situação nada glamorosa em que se encontravam os ex-trabalhadores da RDA. A imagem demonstra a sala da casa de Nelson Munhequete, em Maputo. "A foto mostra que ele não teve uma chance", diz Malte Wandel. "Dar cada vez mais visibilidade a essa história é meu objetivo", conclui.
Foto: MalteWandel
A opinião do público
Durante uma visita à exposição, o artista plástico Thomas Kohl encantou-se com o trabalho de Mário Macilau. "Tem-se a impressão de que se trata de uma situação real e não de algo encenado", descreveu. Para Kohl, apesar de abordar o tema pobreza, "não há um julgamento nem uma realismo barato" no trabalho de Macilau.