INGC diz que corte de comunicações e eletricidade está a condicionar muito as suas ações. Mas ajuda externa já começa a chegar. Quanto à reação do Presidente Filipe Nyusi, há muitas críticas: considera-se que foi tardia.
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A previsão continua a ser de chuvas fortes e muito fortes para os próximos dias para o centro e sul de Moçambique e os rios Pungué e Buzi já transbordam. Isso poderá complicar mais a situação calamitosa criada pelo ciclone Idai, que atingiu as províncias centrais de Sofala, Zambézia e Manica na última quinta-feira (14.03).
Dar ajuda as milhares de pessoas desalojadas e em situação de perigo não está a ser tarefa fácil, como conta à DW África o porta-voz do INGC, Instituto Nacional de Gestão de Clamidades, Paulo Tomás: "Os nossos armazéns ficaram destruídos. Há necessidade de fazer a assistência alimentar via ponte aérea para alguns locais onde não há transitabilidade via terrestre. Há dificuldades também na comunicação com alguns pontos. Estas é que são as maiores dificuldades neste momento. E a cidade da Beira está sem energia, logo não há água disponível."
Segundo a Federação Internacional da Cruz Vermelha, o ciclone, que fustiga agora o Zimbabué e o Malawi, destruiu 90% da segunda maior cidade de Moçambique, a Beira, lugar mais afetado. E o INGC informa que até agora 84 pessoas morreram. Mas o Fundo das Nações Unidas para a Infância, UNICEF, prevê que o número venha a aumentar.
Ciclone Idai devasta cidade da Beira
01:12
Falta domínio de toda a situação
Cem mil pessoas estão em risco de morte e, segundo relatos divulgados pela imprensa local, há pessoas penduradas em edificios há horas a necessitarem urgentemente de salvamento.
Sobre o pronto socorro aos grupos críticos, Paulo Tomás, do INGC, não conseguiu fornecer dado algum: "Em relação aos salvamentos, tendo em conta os que estão em sítios isolados, não posso precisar bem esses dados. As operações estão a acontecer na Beira. Só tenho números globais das pessoas afetadas - situavam-se em 8842 pessoas, o correspondente a 1797 famílias e destas grande parte [da] província de Sofala."
Na cidade da Beira, há mais gente que não cruza os braços. O município gerido por Daviz Simango, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a segunda maior força da oposição, está no terreno, junto das comunidades, a avaliar o impacto do ciclone.
Além disso, segundo o porta-voz do partido, Sande Carmona, "também está na luta para tentar repor o que depende do presidente do Conselho Municipal para viabilizar a vida dos munícipes", garante.
Críticas ao Presidente da República
O Presidente da República, Filipe Nyusi, interrompeu a sua visita a eSwatini no sábado (16.03.) para acompanhar a situação de emergência de perto. No começo da sua visita, várias correntes de opinião criticaram-no por, no seu entender, ter abandonado as vítimas para uma visita que poderia ter sido dispensada.
"São um pouco mais de 500 mil pessoas que vivem na cidade da Beira e um chefe de Estado estar a passear... Consideramos isso de passeio, porque não há nada que esteja acima da vida de pessoas. Portanto, qualquer tipo de agenda podia ser adiada para atender a situação de vidas de pessoas", aponta Sande Carmona, do MDM.
Dificuldades em apoiar vítimas do ciclone Idai são grandes
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"Só pelo facto de ser a Beira [nessa situação, explica-se tudo, quando se trata de um Governo da FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique] em relação a Beira", acrescenta.
Filipe Nyusi enviou a cidade da Beira membros do Conselho de Ministros para agilizarem um balanço que permita tomar decisões quanto ao apoio humanitário na reunião de terça-feira (19.03) do Conselho, que deverá acontecer excepcionalmente na Beira.
Enquanto isso, a ajuda humanitária internacional começa a chegar. Neste domingo (17.03), 20 toneladas de biscoitos energéticos chegaram a cidade da Beira, quatro das quais entregues esta segunda-feira em Nhamatanda, Sofala, informa a OCHA, o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, no Twitter. E mais ajuda deve chegar nos próximos dias.
Ciclone Idai causa mortes e destruição
Ciclone Idai faz mais de 200 mortos em Moçambique, no Zimbabué e no Malawi. Cerca de 90% da cidade moçambicana da Beira foi destruída com a passagem do ciclone Idai, segundo a Cruz Vermelha.
Foto: picture-alliance/AP/C. Haga
Ciclone Idai faz mais de 200 mortos
A passagem do ciclone Idai afetou mais de 1,5 milhões de pessoas em Moçambique, no Zimbabué e no Malawi, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Mais de 200 pessoas morreram nos três países e milhares estão desalojadas. O levantamento do número de vítimas está por concluir, dado que há locais de difícil acesso devido à subida do nível dos rios.
Foto: picture-alliance/AP/C. Haga
Beira é a cidade mais atingida de Moçambique
Há pelo menos 84 mortos em Moçambique, segundo os últimos dados. Mas o Presidente Filipe Nyusi afirma que "tudo indica que poderemos registar mais de mil óbitos". A cidade da Beira foi a mais afetada. Os ventos e chuvas fortes deixaram a cidade parcialmente destruída, sem luz nem telecomunicações.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Ciclone visto do espaço
Esta imagem de satélite feita pela NASA mostra a passagem do ciclone Idai pelos países africanos. "A situação é terrível, a magnitude da devastação é enorme", disse o líder da equipa de avaliação da Cruz Vermelha na Beira, Jamie LeSueur. "Enquanto o impacto físico do Idai começa a emergir, as consequências humanas ainda não estão claras", lê-se num comunicado.
Foto: NASA
Deslocados à procura de abrigo
Milhares de pessoas estão desalojadas na zona centro de Moçambique. O Presidente Filipe Nyusi, que sobrevoou a região, indicou que aldeias inteiras desapareceram nas enchentes e que há regiões totalmente incomunicáveis. "Vimos durante o voo corpos flutuando, um verdadeiro desastre humanitário de grandes proporções", assinalou o chefe de Estado.
Foto: DW/B. Chicotimba
Estrada de acesso à cidade da Beira fechada
Com as fortes chuvas, o nível dos rios subiu. Um deles, o rio Haluma, transbordou e cortou a estrada nacional 6, espinha dorsal do centro de Moçambique e única via de acesso à Beira. A cidade ficou isolada. Em entrevista à AFP, o ministro do Meio Ambiente de Moçambique, Celso Correia, afirmou que "este é o maior desastre natural ocorrido no país".
Foto: DW/A. Sebastião
Motoristas isolados na estrada
Isolados na estrada nacional 6, única via de acesso à Beira, moçambicanos aguardam até que a via seja desbloqueada. Formou-se uma longa fila de camiões e outros veículos. Os ventos fortes derrubaram postes.
Foto: DW/A. Sebastião
Noutras vias, mais destruição
A estrada número 260, que liga Chimoio a Mossurize, também não escapou à intempérie. A ponte sobre o rio Munhinga foi arrastada, isolando os dois distritos. Formaram-se enormes buracos nas rodovias, a isolar zonas de Moçambique e a dificultar o acesso às equipas de socorro.
Foto: DW/B. Chicotimba
A fúria das águas
A ponte sobre o rio Haluma, em Nhamatanda, zona central de Moçambique, ficou submersa. É mais uma zona afetada pelas cheias e pelo nível elevado dos rios. Uma camioneta que transportava dez pessoas foi arrastada ao passar pelo local. Seis pessoas morreram e quatro conseguiram salvar-se, penduradas em cima de um camião basculante.
Foto: DW/B. Chicotimba
População precisa de ajuda médica
Mais de cem salas de aulas ficaram destruídas nas regiões mais afectadas pelo ciclone e cheias nos distritos moçambicanos de Chinde, Maganja da Costa, Namacurra e Nicoadalá. Em visita à Zambézia, o Presidente Filipe Nyusi afirmou que, além de bens alimentares, a população necessita também, com prioridade, de assistência médica.
Foto: DW/M. Mueia
Ciclone Idai leva a cancelamento de voos
A passagem do fenómeno também afetou os transportes aéreos. O aeroporto da Beira ficou inoperante entre quinta-feira (14.03.) e domingo (17.03). Todos os voos domésticos foram suspensos. Dezenas de voos previstos para descolar do aeroporto internacional de Maputo, o maior de Moçambique, foram cancelados. O fecho dos aeroportos também dificultou a chegada de ajuda humanitária.
Foto: Getty Images/AFP/E. Josine
Depois de Moçambique, Zimbabué e Malawi
O ciclone Idai atingiu a Beira na quinta-feira (14.03), tendo seguido depois para oeste, em direção ao Zimbabué e ao Malawi, afetando mais milhares de pessoas, em particular nas zonas orientais da fronteira com Moçambique. Casas, escolas, empresas, hospitais e esquadras ficaram destruídas. Estradas e pontes desapareceram, o que dificulta os trabalhos de resgate.
Foto: picture-alliance/S. Jusa
Plantações devastadas pela força do ciclone
No Zimbabué, o número de mortos após a passagem do ciclone Idai chega a 82. O Presidente Emmerson Mnangagwa disse que a resposta do Governo está a ser coordenada pelo Departamento de Proteção Civil através dos comités de Proteção Civil nacional, provincial e de distrito, com o apoio de parceiros humanitários.
Foto: picture-alliance/S. Jusa
Ciclone Idai chega ao Malawi
Os distritos de Chikwawa e Nsanje, no Malawi, ficaram inundados com a passagem do ciclone Idai. Segundo o balanço mais recente do Departamento de Gestão de Riscos, no país foram registadas 56 mortes. Quase 1 milhão de pessoas foram afetadas pela passagem do ciclone. De acordo com a Federação Internacional da Cruz Vermelha, 80 mil viram as suas casas destruídas e estão sem onde se refugiar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Gumulira
Cheias nos rios aumentam risco de doenças
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou as autoridades para a importância de se levar a cabo um levantamento dos estragos nos serviços de saúde, já que o agravamento das cheias nos próximos dias, devido à continuação de chuvas fortes, aumenta o risco do aparecimento de doenças transmissíveis pela água e pelo ar.