Secretário-geral das Nações Unidas visita Moçambique
Leonel Matias (Maputo)
11 de julho de 2019
Secretário-geral da ONU, António Guterres, de visita a Moçambique, apelou a comunidade internacional para prestar mais apoio ao país e concretizar as ajudas prometidas.
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, reuniu-se esta quinta-feira (11.07.), em Maputo, com o Presidente Filipe Nyusi, no primeiro dia da sua visita de trabalho de dois dias a Moçambique.
Falando a jornalistas após o encontro, Guterres reiterou a solidariedade e a disponibilidade das Nações Unidas para apoiar o Governo nos esforços com vista a mitigação dos ciclones Idai e Kenneth dois eventos climáticos e na mobilização de recursos para a implementação do programa de reconstrução pós-calamidades.
Guterres lamentou que os apelos de ajuda lançados à comunidade internacional estejam longe de ser inteiramente cumpridos à dimensão dos problemas quer de resposta quer de reconstrução.
"Essa é uma questão decisiva em relação a solidariedade da comunidade internacional, é preciso não apenas apoiar mas apoiar a tempo."
Autoridade moralO secretário-geral da ONU considerou que Moçambique tem uma autoridade moral inegável, porque apesar do país não contribuir praticamente para o aquecimento global está na primeira linha das vítimas das alterações climáticas que provocam desastres naturais que se repetem cada vez com mais intensidade e devastação.
Moçambique tem direito de exigir forte apoio da comunidade internacional, defende secretário-geral da ONU
"Isso dá-lhe o direito de exigir da comunidade internacional uma forte solidariedade e um forte apoio quer na resposta aos dramas criados pelas tempestades que assolam o país quer na preparação e reconstrução do país para as situações futuras."
António Guterres reiterou o apoio ao processo de paz moçambicano e manifestou, igualmente, total disponibilidade da unidade da ONU de contra terrorismo e intervenção contra o extremismo violento para colaborar com Moçambique.
"Criando as condições para que, sobretudo as camadas mais jovens da população, possam ter uma acção positiva no combate ao extremismo, no combate a radicalização e não sejam vítimas desse extremismo dessa mesma radicalização."
Encontro com NyusiPor seu turno, o Presidente Filipe Nyusi, agradeceu o apoio da ONU, em particular do seu secretário-geral, pelo seu empenho pessoal para fazer face ao impacto dos ciclones Idai e Kenneth.
Nyusi disse ainda que durante o encontro com António Guterres partilhou informações sobre a situação política, económica, económica e social.
Falando dos passos em curso para a desmobilização, desmilitarização e reintegração dos homens residuais da RENAMO, o Presidente moçambicano disse esperar que não haja partidos armados antes das eleições de outubro.
Ataques no norte do país
Nyusi informou ter abordado também a questão dos ataques de homens armados no norte do país.
"Foi interessante a experiência que o secretário-geral nos transmitiu no sentido de combinar as forças de combate a isso. Podem ser combates militares mas também outras actividades que permitam que haja mais estabilidade, que as pessoas se sintam todas elas inclusas no processo de desenvolvimento do seu próprio país.
O secretário-geral das Nações Unidas visita esta sexta-feira (12.07.) a cidade da Beira e os centros de acomodação das vítimas do ciclone Idai.
Ciclones em Moçambique: Agora, a reconstrução
A cidade da Beira recebe durante dois dias a conferência internacional de doadores, após os ciclones Idai e Kenneth. Os ciclones afetaram mais de 1,5 milhões de pessoas. Este é um retrato de um país abalado.
Foto: Lena Mucha
Ajuda chega à Beira
Helena Santiago, de 53 anos, trabalha nos escombros da sua casa no bairro dos CFM - Maquinino, na Beira, onde vive com o marido e oito filhos. A sua casa não resistiu ao ciclone Idai. A conferência internacional de doadores que começa esta sexta-feira (31.05) na Beira poderá ser uma esperança para muitos afetados como Helena Santiago, pois uma das metas é a reconstrução.
Foto: Lena Mucha
Beatriz
Beatriz é fotografada com três dos sete filhos em frente ao seu campo de milho devastado. A sua aldeia natal, Grudja, esteve dias a fio debaixo de água. Beatriz e os filhos conseguiram salvar-se das enchentes que surpreenderam os moradores na manhã de 15 de março. Durante três dias, as pessoas ficaram à espera de ajuda no telhado da escola ou em cima das árvores, ou até que a água baixasse.
Foto: Lena Mucha
Centro de saúde destruído
Pacientes e crianças estão à espera de serem atendidos por uma equipa de emergência em frente ao centro de saúde de Grudja. O centro foi completamente destruído pelas inundações. Medicamentos e materiais de tratamento ficaram inutilizáveis devido à água.
Foto: Lena Mucha
Salvação
No telhado da escola primária Nhabziconja 4 de Outubro, muitas das pessoas salvaram-se das inundações. Algumas semanas depois do desastre, esta escola conseguiu retomar as aulas. Muitas outras escolas, no entanto, continuam fechadas.
Foto: Lena Mucha
Regina
Regina trabalha com a sogra, Laina, na sua propriedade. Antes da passagem do ciclone, Regina morava com o marido e os cinco filhos numa aldeia próxima de Grudja. As inundações destruíram a sua casa e as plantações. Ela e o marido refugiaram-se em cima de uma árvore e sobreviveram. Alguns dos seus filhos morreram nas inundações, outros ainda estão desaparecidos.
Foto: Lena Mucha
No Revuè
O rio Revuè, na localidade de Grudja, transbordou devido às fortes chuvas após o ciclone, inundando grande parte das terras circundantes. Nesta foto, tirada depois do nível da água ter voltado ao normal, estas mulheres lavam a roupa nas margens do rio.
Foto: Lena Mucha
Campos arruinados
Nesta imagem, as jovens Elisabete Moisés e Victória Jaime e Amélia Daute, de 38 anos, estão num campo de milho arruinado. Como muitos outros, tiveram que esperar vários dias nos telhados de Grudja depois das fortes chuvas, em meados de março. 14 dos seus vizinhos, incluindo 9 crianças, afogaram-se durante as inundações.
Foto: Lena Mucha
Escola primária tornou-se hospital
Mulheres e crianças estão à espera de tratamento médico, dado por uma equipa de emergência numa escola primária no distrito de Búzi, a oeste da cidade costeira da Beira. O ciclone Idai atingiu a costa moçambicana nesta cidade de cerca de 500 mil habitantes no dia 15 de março.
Foto: Lena Mucha
Fila para sementes
Em muitas partes do país, as plantações ficaram destruídas pelas enchentes. Durante um ano, pelo menos 750 mil pessoas deverão ficar dependentes de alimentos, segundo estimativas do Programa Alimentar Mundial. Em Cafumpe, no distrito de Gondola, 50 famílias receberam sementes de milho, feijão e repolho da organização de assistência alemã Johanniter e da ONG local Kubatsirana.
Foto: Lena Mucha
Reconstrução
Em Ponta Gea, na Beira, regressa-se à vida quotidiana. Muitas infraestruturas foram destruídas pelo ciclone. Nesta foto, cabos de energia destruídos e linhas telefónicas estão a ser reparados. Mas, a poucos quilómetros daqui, aldeias inteiras precisarão de ser reconstruídas. Em muitos sítios, ainda falta água e alimentos.