Moçambique: FDS abatem cabecilhas de grupos terroristas
Delfim Anacleto | Lusa | kg
1 de junho de 2020
As Forças de Defesa e Segurança de Moçambique abateram 78 insurgentes no distrito de Macomia, incluindo dois cabecilhas. O governo provincial de Cabo Delgado garante que aquela vila está sob o controlo das autoridades.
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As autoridades moçambicanas afirmam que o distrito de Macomia, na província nortenha de Cabo Delgado, tende a voltar à normalidade depois da invasão de grupos terroristas.
O ministro da Defesa Nacional de Moçambique, Jaime Neto, disse este domingo (31.05) que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) abateram 78 terroristas e feriram outros 60. Os insurgentes atacavam a vila de Macomia desde a quinta-feira passada (28.05).
Jaime Neto disse ainda que entre os terroristas abatidos constam dois cabecilhas de nacionalidade tanzaniana. Um deles é o insurgente Njorogue, envolvido nos primeiros ataques armados em Moçambique em 2017. "Nesta contraofensiva, foram abatidos dois principais chefes. Consta que o Njorogue foi aquele que iniciou com os ataques a Mocímboa da Praia no dia 05 de Outubro de 2017", afirmou.
As forças governamentais apreenderam diversos materiais com os atacantes, incluindo viaturas, motocicletas, bicicletas e outros bens roubados da população. Depois da expulsão dos terroristas de Macomia, as FDS continuam a procurar pelos insurgentes para identificar as suas bases.
"A nossa força neste momento vai trabalhar dia e noite para perseguir principalmente aqueles cabecilhas. Vamos também fazer a limpeza dos lugares onde eventualmente encontram-se escondidos", diz.
O ministro Jaime Neto referiu que o sucesso destas operações depende, em grande medida, do envolvimento da população, através de denúncias. "Aproveitar esta oportunidade para apelar à população para continuar a colaborar da mesma maneira que tem estado a colaborar, porque no final do dia a perda é para todos nós. Os terroristas estão a destruir administrações distritais e bancos", sublinhou.
Controlo?
Em relação à situação atual depois da invasão dos malfeitores, o governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, garante que a vila de Macomia já está sob o controlo das autoridades. "Foi um trabalho bem feito da restauração de forma pontual. A nossa força esteve desde o primeiro minuto que eles [terroristas] tinham entrado. A nossa força não desistiu, foi em defesa sempre da nossa população", afirmou.
"As últimas batalhas que foram travadas pelas Forças de Defesa e Segurança foram enormes, foram muito produtivas. O esforço sempre é compreender quem é o inimigo e como está a operar. Estamos a aprender como lidar com essa força e estamos a encorajar a maneira como as FDS estão a abordá-la", disse.
Vandalismo
O governador de Cabo Delgado sublinhou que alguns populares que regressaram das matas onde se refugiaram partiram para a vandalização de bens alheios.
"Por serem os primeiros a chegar na vila, estão a criar um oportunismo negativo, que é o furto de bens das famílias que ainda não chegaram à vila. Por causa disso, nós queremos apelar à nossa população para que haja ordem, disciplina e, para que no seu regresso, não estejam a criar vandalismo nas outras residências", disse.
Na sua comunicação à imprensa este domingo, Valige Tauabo admitiu que os malfeitores estão a impedir o desenvolvimento da província. A eletricidade e as comunicações móveis ficaram afetadas nalguns distritos do norte de Cabo Delgado. As autoridades falam de vandalização pelos grupos armados. Uma situação cuja resolução poderá ser para breve, conforme referiu o chefe do conselho executivo provincial.
Zonas de guerra transformadas em locais de desenvolvimento
Regiões da província de Maputo testemunharam ataques e mortes durante a guerra civil em Moçambique. Antigos cenários de guerra tornam-se hoje palco para o desenvolvimento local do comércio e da indústria.
Foto: DW/R. da Silva
Um passado de mortes
A região onde fica a aldeia 3 de Fevereiro, a norte da província de Maputo, foi a mais dilacerada pela guerra civil. Na altura, a imprensa tinha como manchetes para as suas capas o sofrimento dos residentes desta região. Não há números exatos, mas houve muitas mortes na sequência de ataques atribuídos à Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o atual maior partido da oposição.
Foto: DW/R. da Silva
A escola mais atacada
Este estabelecimento de ensino, construído na época colonial, dedicava-se à formação de professores africanos. Durante a guerra civil, foram reportados ataques e os alunos muitas vezes deslocavam-se à vila da Manhiça. Hoje, a escola é a sede do Instituto Médio Politécnico Alvor.
Foto: DW/R. da Silva
Abrigo para os fugitivos
Esta varanda já tinha donos: os deslocados dos arredores da vila da Manhiça encontravam neste lugar o mais seguro apenas para passar a noite. A varanda foi atacada algumas vezes, o que os desesperou. Hoje, como se pode notar, no local há estabelecimentos comerciais.
Foto: DW/R. da Silva
Marcas da guerra
Há zonas, como Magude, cujos edifícios nunca mereceram reabilitações que possam fazer esquecer as marcas da guerra. Este edifício faz parte da missão católica de Magude, que foi atacado durante a guerra, e que nunca mais conheceu uma reabilitação.
Foto: DW/R. da Silva
Única entrada, única saída
Esta é uma ponte que desperta curiosidade aos que pela primeira vez visitam a vila de Magude. Pela mesma ponte passam peões, motociclistas, viaturas e locomotivas. Por baixo, passa o rio Inkomati, que não impedia ataques durante a guerra a esta pequena vila.
Foto: DW/R. da Silva
Repovoamento de animais
O distrito de Magude localiza-se mais a nordeste da província de Maputo. Esta zona foi severamente afetada pela guerra e a população bovina baixou drasticamente. Mas agora, com projetos de repovoamento destes animais, Magude é dos maiores produtores de carne na província.
Foto: DW/R. da Silva
Isolamento
O distrito de Magude é um dos mais isolados da província de Maputo. O seu desenvolvimento está a ser muito lento, apesar de a guerra ter terminado há mais de 20 anos. Falta muita coisa por melhorar. Esta loja, por exemplo, ainda apresenta marcas da guerra.
Foto: DW/R. da Silva
Coluna militar
A guerra abateu-se muito sobre Maluana. Este posto administrativo do distrito de Manhiça ficou conhecido pelos ataques que sofria. A coluna militar era a única que ajudava as pessoas a passar por esta zona. Pouco depois da guerra, as marcas eram ainda visíveis - como carcaças de viaturas queimadas. Agora, está a registar um desenvolvimento, com o comércio informal a ganhar força.
Foto: DW/R. da Silva
Centro de tecnologias
O Governo de Moçambique criou um centro de tecnologias nesta região severamente afetada pela guerra, o que antes era impensável. É um edifício que foi instalado no meio da mata, precisamente numa estrada de terra que dá acesso ao centro de formação de militares de Munguine, mais a leste da província de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
De cenário de guerra a pólo económico
A região de Bobole, no distrito de Marracuene, também foi uma zona de guerra. Aliás, as atrocidades começavam nesta região e o cenário era de "cada um por si e Deus por todos". As colunas militares começavam ou descansavam neste ponto. Hoje, a multinacional Heineken instalou aqui a sua empresa e Bobole está a ter novo rosto económico.
Foto: DW/R. da Silva
Estância turística
Esta é a entrada para a aldeia de Taninga. Tal como a 3 de Fevereiro, esta aldeia testemunhava frequentemente mortes e muitos dos residentes destas duas aldeias vizinhas acabaram por se refugiar na vila da Manhiça e outros na cidade de Maputo. Hoje, há uma estância turística que faz esquecer as marcas da guerra.
Foto: DW/R. da Silva
Proteção dos corredores ferroviários
Os que viveram os momentos de instabilidade e que precisavam frequentemente se deslocar contam que o comboio de passageiros era igualmente atacado. O corredor do Limpopo era crucial para o transporte de mercadorias para países vizinhos. A RENAMO e o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) acabaram por assinar um acordo para não atacar corredores ferroviários de todo o país.