Na Zambézia, o Ministério Público está a investigar o assassinato de dois cidadãos pela polícia, por não usarem máscara facial como prevenção ao coronavírus. Populares revoltaram-se contra o ocorrido.
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Testemunhas acusam membros da Polícia da República de Moçambique (PRM) de terem executado dois cidadãos em Lugela, província central da Zambézia, no passado fim-de-semana, por não usarem máscara facial, conforme determinado como medida preventiva de contágio do novo coronavírus.
Os disparos terão ocorrido quando as vítimas recusaram acatar a ordem de colocação de máscara pelos agentes.
Esta quinta-feira (03.09), a procuradoria provincial da Zambézia convocou a imprensa para dizer que os corpos dos dois cidadãos se encontram na morgue do Hospital Central de Quelimane para a autópsia.
Segundo o porta-voz da procuradoria Domingos Julai, "Estamos a aguardar os resultados das autópsias. Depois haverá que apurar as devidas responsabilidades”.
Julai avançou que neste momento não há detidos. "Naturalmente que há suspeitos e foram desencadeados mecanismos também de contatos a indivíduos que possam facilitar a obtenção de informação fidedigna sobre a autoria destes factos, a responsabilização com relação aos óbitos ocorridos no distrito de Lugela”, disse ainda Julai.
Revolta popular
O assassinato levou à revolta de cidadãos, que vandalizaram prédios públicos como o Comando Distrital da Polícia da República de Moçambique, a unidade do Serviço de Investigação Criminal e o Tribunal Judicial de Lugela.
O porta-voz da PRM, Sidner Lonzo, desdramatizou as consequências: "Não houve danos avultados. Algumas janelas ficaram quebradas. Não houve também danos graves referentes à integridade física dos nossos colegas, nem dos indivíduos que estiveram defronte do comando distrital de Lugela”, disse Lonzo.
Na madrugada de quarta-feira (02.09) ocorreu outro incidente mortal envolvendo a polícia num dos bairros da cidade de Quelimane. Durante uma patrulha, um agente atingiu a tiro o próprio chefe, que acabou por sucumbir aos ferimentos.
Segundo o porta-voz Lonzo, tratou-se de um acidente. "Este colega estava em serviço e teria recebido uma informação dando conta da existência de malfeitores numa residência. Ele orientou que se fizesse um flanqueamento nas vias para que os malfeitores não se escapulissem. Nesse momento, um colega nosso, por um erro de execução, acabou efetuando disparos e um destes acabou atingindo o nosso colega chefe das operações da primeira esquadra”, disse.
Apesar de tudo indicar que se tratou de um acidente, o autor dos disparos permanece detido enquanto decorrem investigações junto dos Serviços de Investigação Criminal de Quelimane.
De capulanas a máscaras: alfaiatarias de Moçambique inovam em tempos de Covid-19
Em Moçambique, a grande procura levou muitas pessoas a investirem na produção e no comércio de máscaras faciais feitas de capulana.
Foto: DW/R. da Silva
As máscaras de capulana
As pessoas procuram pelas máscaras na tentativa de conter a propagação do coronavírus no país. O uso da máscara é também uma recomendação do Governo e, em alguns casos, obrigatório. As müascaras feitas de capulana estão a ganhar o mercado, conquistar os clientes e render um bom dinheiro.
Foto: DW/R. da Silva
Nova utilidade da capulana
É a capulanas como estas que muitos produtores recorrem para fabricar o seu mais novo produto: máscaras faciais. A capulana passou a ter mais esta utilidade por causa do coronavírus. O preço da capulana continua a ser o mesmo, custando entre o equivalente a 1,20 a pouco mais de 4 euros, dependendo da qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Tradição em capulanas
Na baixa de Maputo, a "Casa Elefante" é uma das mais antigas casas de venda de capulana da capital moçambicana. Vende variados tipos do produto. São muitas as senhoras que se deslocam ao local para a compra deste artigo para a produção das máscaras. As casas de venda de capulana passaram a ter muita afluência para responderem à grande procura pelos artigos por causa do coronavírus.
Foto: DW/R. da Silva
Produção caseira
Esta alfaiataria caseira funciona há cerca de 15 anos, em Maputo. Antes, a proprietária dedicava-se a costurar uniformes escolares. Por causa do coronavírus, passou a investir mais na produção de máscaras. Ela vende aos informais a um preço de 0,20 euros cada unidade.
Foto: DW/R. da Silva
Aproveitar a demanda
A alfaiataria da Luísa e da Fátima dedica-se à produção de vestuário de noivas e não só, mas também à sua consertação. Quando começou a procura pelas máscaras de produção com recurso à capulana, as duas empreendedoras tiveram que redobrar os esforços para produzi-las sem pôr em causa a confecção habitual. O rendimento diário subiu de cerca de 40 euros para 60 euros, dizem.
Foto: DW/R. da Silva
Produção a todo o vapor
Estes alfaiates, no mercado informal de Xiqueleni, costumam dedicar-se ao ajustamento de roupas de segundam mão, compradas no local. Mas devido à intensa procura pelas máscaras, dedicam a maior parte do tempo a produzir estes protetores faciais à base da capulana. Também eles estão a aproveitar a grande demanda pelo acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Informais a vender máscaras
Desde que o Governo determinou a obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes e aglomerações, há pouco mais de uma semana, muitos vendedores informais, mulheres e homens, miúdos e graúdos compraram-nas para a posterior revenda. Um dos principais locais para a venda ao consumidor final são os terminais rodoviários.
Foto: DW/R. da Silva
Máscara para garantir a viagem
Os maiores terminais rodoviários, como por exemplo a Praça dos Combatentes, são os locais de aglomerados populacionais e onde muitos cidadãos acorrem para comprar as máscaras caseiras. Quando um passageiro não tem a máscara, sabe que pode encontrar o produto sem ter que percorrer longas distâncias e garantir o embarque nos meios de transporte.
Foto: DW/R. da Silva
Grande procura em Maputo
Neste "Tchova", carrinho de tração humana, há vários artigos. Os clientes estão a apreciar as máscaras, e não só, que o vendedor informal exibe. Os clientes referem que compram as máscaras não só para evitar a propagação do coronavírus, mas também porque os "chapeiros" exigem o uso das mesmas, sob pena de não permitirem a viagemm de quem não tiver o acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Bons rendimentos
Os vendedores informais aproveitam a muita procura pelas máscaras caseiras para juntar ao seu habitual negócio. Jorge Lucas, além de vender acessórios de telefones, diz que "há muita procura" pelas máscaras feitas de capulana e que este negócio está a render "qualquer coisa como 20 euros por dia".
Foto: DW/R. da Silva
Quase 20 euros por dia
António Zunguze vende uma máscara pelo valor equivalente a 0,80 euros. Por dia, diz que consegue levar para casa o equivalente a quase 20 euros e explica que a procura é muita nos mercados informais. António compra as máscaras nas alfaiatarias e vai, posteriormente, revendê-las nos terminais de semi-coletivos.
Foto: DW/R. da Silva
Propaganda, "a alma do negócio"
Este jovem montou um megafone para anunciar que, além das sandálias, já tem igualmente máscaras para a venda. Na imagem, as máscaras podem ser vistas no topo da sombrinha e o megafone instalado no muro. O jovem refere que na sua banca não tem havido muita procura, mas acredita que melhores dias virão.
Foto: DW/R. da Silva
Máscaras até nos salões de beleza
Alguns salões de beleza também não perderam a oportunidade e estão a revender as máscaras. Neste salão, já não há clientes devido ao período de restrições para conter a propagação do coronavírus. O salão também investe na venda de máscaras feitas de capulana.