Moçambique: Edil de Nampula reconhece má governação
Sitoi Lutxeque (Nampula)
22 de setembro de 2020
O edil da cidade de Nampula, no Norte de Moçambique, aponta “inexperiência” e “sabotagem” como causas da sua má governação. Paulo Vahanle diz que "aprendeu a lição" e promete melhores dias.
Publicidade
O autarca de Nampula, Paulo Vahanle, quebrou o silêncio e reconheceu as críticas dos habitantes da cidade. "Éramos novos na governação e os outros que deviam dar-nos alguma experiência foram os que nos sabotaram", justiça-se.
"Tudo isso fez com que, realmente, tivéssemos dificuldades nos primeiros dias", reconhece. "A sociedade moçambicana e os órgãos de comunicação social também têm desempenhado o seu papel, ajudando-nos a melhorar a prestação de serviços, por isso estamos gratos", acrescenta.
Segundo o autarca da RENAMO, a maior força da oposição, a futura gestão da cidade vai centrar-se no desenvolvimento e na limpeza urbana. "O desafio é maior. Estamos cada vez mais a lutar para reforçarmos os meios de limpeza. Há pouco tempo conseguimos ancinhos, vassouras para todos os trabalhadores, varredores de rua, porque chegamos à conclusão que só com o nosso empenho é que podemos mudar a nossa cidade e melhorar a prestação de serviços", referiu.
Promessas políticas
Para alguns cidadãos de Nampula, as promessas do autarca não passam de discurso político para amainar a revolta dos munícipes.
"No primeiro mandato ele não conseguiu fazer nada e neste segundo, que termina em 2023, diz que vai mudar [a cidade], [mas] eu não acredito. O que nós assistimos é que ele inicia uma obra, mas não a termina e, mesmo assim, provoca mais uma obra num outro bairro", lamenta o morador Júlio Pedro.
O jornalista e ativista social Juma Aiuba considera que justificar-se com a sua "inexperiência" é um ato infeliz por parte de Paulo Vahanle. "O grande problema do município de Nampula é uma questão de competência. Ele devia reconhecer é que não tem competência. Uma coisa é experiência e outra é competência técnica", adverte.
"Ele não consegue fazer uma equipa tecnicamente competente. Ou seja, ele montou uma equipa baseada apenas na [sua] confiança política. Todos os presidentes não têm experiência quando dirigem pela primeira vez; o senhor Ferreira no Chimoio não tem experiência, mas está a gerir", exemplifica.
No início do mês, a delegação central do partido RENAMO esteve na cidade de Nampula para sugerir novas estratégias a Paulo Vahanle para gerir a cidade.
Mercados de Nampula são perigo à saúde pública
Mercados de Nampula são um perigo à saúde pública - alguns não possuem sanitários. Apesar dos esforços dos governantes em alguns locais, muitos vendedores enfrentam mau cheiro para garantir o seu sustento.
Foto: DW/S. Lutxeque
Hipotecar a saúde a favor da sobrevivência
Fátima Sualehe é vendedeira de hortícolas no mercado da Padaria Nampula. Ela desenvolve esta actividade há mais de dois anos, quando se separou do seu esposo. Aqui, ela enfrenta o cheiro ruim produzido pelas águas negras. Mas "é para garantir o sustento dos meus cinco filhos", disse a vendedeira de espinafre.
Foto: DW/S. Lutxeque
Espaço dos CFM transformados em mercado
Nos 18 bairros que a cidade de Nampula tem a apetência de vender, aliada ao desemprego, acarreta no aumento da actividade comercial. Isso faz com que mesmo lugares impróprios sejam ocupados pelos vendedores. Um desses lugares é o recinto dos "Caminhos de Ferro de Moçambique", onde está instalado o famoso "Mercado da Padaria Nampula".
Foto: DW/S. Lutxeque
Nas ruas da cidade
A cidade de Nampula está a ficar praticamente sem ruas e passeios. Nestes locais, vendedores encontram maior atrativo para a prática comercial. "Nos mercados não há muitos clientes, por isso a aproveitamos esses locais para vender nossos produtos e ganhar dinheiro", justificam quase todos os vendedores "assaltantes das ruas".
Foto: DW/S. Lutxeque
"Reciclar" consumíveis e vender
Todas as manhãs, mulheres e crianças escalam o mercado grossista do Waresta, o maior estabelecimento comercial de venda a grosso e a retalho. Nem todos vão para vender, muito menos comprar os produtos. Aproveitam-se da chegada e descarregamento dos camiões de grande tonelagem, transportando produtos, para selecionar os que não estão em decomposição e postereriormente colocá-los nas bancas.
Foto: DW/S. Lutxeque
Lixo e locomotivas
A luta pela sobrevivência de milhares dos moçambicanos, sobretudo os residentes na província mais populosas do país, já está a causar prejuízos e acidentes ferroviários. Os vendedores acumulam lixo e até chegam a embaraçar as locomotivas. As autoridades municipais falam em transferência dos vendedores, enquanto as empresas ferroviárias não param de sensibilizar os vendedores para o abandono.
Foto: DW/S. Lutxeque
Insuficiência de sanitários públicos
Muitos mercados da cidade de Nampula não tem sanitários públicos. Um dos maiores mercados é o da Padaria Nampula, no centro da cidade. Para atender as necessidades biológicas, os vendedores que ficam quase todo o dia a praticar a actividade comercial fazem as necessidades ao relento, mesmo no recinto dos estabelecimentos comerciais.
Foto: DW/S. Lutxeque
Sanitários em abandono
Enquanto muitos estabelecimentos comerciais não possuem sanitários públicos, no mercado grossista do Waresta existem dois desses melhorados, construídos pelas autoridades. Mas, de acordo com os gestores dos mesmos, os vendedores preferem fazer suas necessidades biológicas ao relento, distanciando de pagar uma taxa de 10 meticais por cada vez que necessitam.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mercados a céu aberto
Apesar dos esforços da edilidade, reconhecido pelos munícipes, a cidade, que ainda ostenta o título da terceira maior de Moçambique, tem alguns dos seus mercados com aspetos rurais. Há muitos mercados e bancas a céu aberto, e outros de construção precária. Em tempos chuvosos, os vendedores vivem à deriva.
Foto: DW/S. Lutxeque
Partidarização dos mercados
Os partidos políticos na cidade de Nampula também procuram ganhar protagonismo através de propagandas baratas. Em quase todos os mercados da periferia existem bandeiras dos três partidos políticos com assento parlamentar (RENAMO, FRELIMO e MDM). A situação agudizou-se no período das campanhas eleitorais, mas até agora nenhum partido removeu os seus materiais de propaganda.
Foto: DW/S. Lutxeque
Esforços da Edilidade
O Conselho Municipal de Nampula, liderado por Paulo Vahanle, tem, apesar das dificuldades financeiras que herdou do antigo Governo (quando assumiu o poder depois das eleições intercalares) se esforçado para melhorar os mercados. Um deles é o mercado do Waresta, o maior da cidade, que está a beneficiar-se das obras de reabilitação.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mercado Novo
O Mercado Novo, localizado no centro da cidade, é o primeiro e mais organizado. Aqui não existe lixo no chão, muito menos degradação. Há lojas organizadas e com sistema de escoamento de águas negras. Está localizado a pouco mais de 200 metros do edifício da edilidade, e a menos de cem metros do Mercado Central. Foi criado no Governo de Mahamudo Amurane, edil já falecido.