CIP alerta que crise parlamentar entre os dois principais partidos compromete eleições municipais. MDM considera que o Estado está a ser gerido de acordo com interesses e vontades e não baseado no interesse do Estado.
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Tensões entre as bancadas parlamentares da FRELIMO, partido no poder, e da RENAMO, maior partido da oposição, por causa do processo de desmilitarização da RENAMO levaram o Parlamento a desmarcar neste mês de junho uma sessão extraordinária que deveria aprovar a legislação que vai regular as eleições autárquicas de 10 de outubro próximo.
O CIP, Centro de Integridade Pública, lembra que houve anteriormente outros entraves ao processo. O investigador da ONG, Borges Nhamire conta: "Porque sofreu dois adiamentos: o primeiro adiamento do recenseamento eleitoral causado pelo censo geral da população e habitação realizado em agosto do ano passado e isso fez com que o recenseamento fosse adiado em cerca de seis meses. E depois quando o recenseamento ia finalmente acontecer voltou a ser adiado por causa da segunda volta da eleição intercalar de Nampula e isso atrasou completamente o calendário."
E Nhamire destaca que a situação compromete seriamente o calendário eleitoral "e não se esperava mais nenhum adiamento porque há prazos de submissão de candidaturas, por exemplo, que devem ser observados. E a lei deve ser revista e isso é muito urgente porque sem esta legislação não há como submeter as candidaturas."
Entretanto, o Parlamento não marcou nova data para aprovar a Lei Eleitoral e a próxima sessão ordinária está marcada par outubro, mês das eleições. Por isso o CIP considera que neste momento não há condições para a realização das eleições.
Moçambique: Eleições Autárquicas comprometidas?
Estado gerido segundo "vontades e interesses"
E um parecer semelhante tem o MDM, a segunda maior força da oposição. Sande Carmona é o porta-voz e crítica: "Nós olhamos para essa situação com muita preocupação e acima de tudo vemos que o nosso Estado está a ser gerido por uma situação de vontades e não por uma agenda do Estado. E assim sendo, a situação de gestão do Estado fica na situação em que está o Estado moçambicano."
E por isso o membro do MDM deplora: "Portanto, é lamentável e nós ficamos preocupados porque realmente este adiamento da revisão do pacote eleitoral compromete, de certa forma, as operações eleitorais para o dia dez de outubro."
E as queixas do MDM não ficam por aqui. Carmona conta que os deputados que vivem fora da capital do país, onde fica o Parlamento, já estavam em Maputo para a referida sessão extraordinária e tiveram de regressar aos seus círculos eleitorais sem uma explicação plausível sobre o adiamento sine die e sem terem discutido as razões do adiamento.
Imbróglio em caso de adiamento das eleições
Entretanto o impasse no Parlamento permanece. Quais seriam as consequências técnicas e políticas de um possível adiamento do escrutínio?
"Tecnicamente significa que as eleições são realizadas antes de fevereiro de 2019 para substituir os atuais titulares autárquicos ou não são realizadas. Então, fica uma situação complicada em que não se saberia qual é o mandato dos titulares dos órgãos autárquicos, estamos a falar das Assembleias Municipais e dos presidentes dos Conselhos Municipais atualmente em exercício", responde Borges Nhamire.
E ele prossegue: "Então, as consequências são por se pensar, mas para já podemos dizer claramente que não são positivas para um país que economicamente já está debilitado, do ponto de vista de segurança também e sob o ponto de vista democrático também não será bom."
A serem adiadas as autárquicas seria algo inédito na história eleitoral do país. E Nhamire lembra que isso seria devido a razões políticas e não técnicas ou financeiras. E o investigador do CIP ressalta ainda que Moçambique tem sido um exemplo em África na realização regular de eleições para uma sucessão pacífica das lideranças.
Moçambique: Eleições autárquicas de norte a sul
As eleições autárquicas em Moçambique tiveram lugar na quarta-feira (20.11). Em muitos lugares registou-se uma grande afluência às urnas e um ambiente calmo, apesar do clima de tensão político-militar vivido no país.
Foto: DW/ER. da Silva
Longas filas para votar
As eleições autárquicas em Moçambique tiveram lugar no dia 20 de novembro. Em muitos lugares registou-se uma grande afluência às urnas e um ambiente calmo, apesar do clima de tensão político-militar vivido no país. Esta assembleia de voto na Gorongosa, no centro do país, é o exemplo mais marcante. Pois, foi neste município que a RENAMO teve a sua base, que foi tomada pelas forças governamentais.
Foto: Reuters
À espera desde a madrugada
Eleitores fazem fila para votar em assembleia de voto em Pemba, Cabo Delgado. Em muitos lugares, formaram-se filas antes das 05h00. Em todo o país, alguma lentidão e realização de campanha junto às filas são alguns dos incidentes registados. No escrutínio participam 18 partidos, grupos de cidadãos e associações, para a eleição de edis e membros das assembleias municipais.
Foto: DW/E. Silvestre
Identificação à entrada
Funcionário eleitoral confere listas à entrada de uma assembleia de voto em Maputo, a capital moçambicana. Em alguns locais, houve problemas nos livros de registo de algumas assembleias de voto, onde os números não correspondiam exactamente aos nomes das listas.
Foto: picture-alliance/dpa
CNE garante condições do sufrágio
Biombo com o símbolo da Comissão Nacional de Eleições (CNE) protege a privacidade dos eleitores nesta escola em Pemba, Cabo Delgado. De acordo com a CNE, a afluência da população às eleições municipais é "muito grande". Nas últimas eleições, em 2008, a taxa de abstenção foi de 53,6%. Na altura, participaram apenas 43 municípios. Este ano, as eleições abrangem mais dez municípios (um total de 53).
Foto: DW/E. Silvestre
Como votar?
Funcionário eleitoral mostra o boletim de voto a um eleitor numa assembleia, em Maputo. Na cidade de Nampula, registou-se uma irregularidade: Filomena Mutoropa, candidata a presidente do município pelo Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO), foi deixada de fora do boletim de voto.
Foto: picture-alliance/dpa
Guebuza vota e apela ao voto
Um dos primeiros votantes foi o Presidente da República de Moçambique. Armando Guebuza votou na escola secundária Josina Machel, no centro da capital moçambicana. Guebuza exortou todos os moçambicanos a votaram nas eleições municipais, apelando ao eleitorado para exercer o seu direito da "melhor forma". A FRELIMO, o partido do Governo de Guebuza, tem sido o partido dominante nos últimos pleitos.
Foto: picture-alliance/dpa
Oposição tenta aumentar número de autarquias
Nas últimas eleições de 2008, a FRELIMO ganhou 42 dos 43 municípios. O MDM – Movimento Democrático de Moçambique ganhou na cidade da Beira. Depois da renúncia do edil da cidade de Quelimane, houve eleições intercalares em 2011, que acabaram com a vitória de Manuel de Araújo do MDM (na foto). Ele conquistou a segunda autarquia para o MDM e tenta defender a sua maioria nas eleições de 2013.
Foto: picture-alliance/dpa
O receio de votar num dos bastiões da RENAMO
Um eleitor vota na Gorongosa, um dos focos de tensão da crise político-militar moçambicana. À tarde, homens armados, alegadamente da RENAMO, atacaram a vila de Gorongosa, em Sofala, centro de Moçambique, "sem criar distúrbios" aos eleitores, de acordo com uma fonte do governo. O receio de ir votar é significativo, nesta região que tem sido palco de confrontos entre FRELIMO e RENAMO.
Foto: Reuters
Fraca participação em Metangula
Secretária de uma mesa de voto em Metangula, na província do Niassa no norte de Moçambique, espera por eleitores à entrada da assembleia de voto. Nesta região a afluência às urnas era baixa depois do pico das primeiras horas da manhã. A maior parte das assembleias de voto estão vazias, chegando a registar-se períodos de 10 a 15 minutos sem que um eleitor apareça.
Foto: DW/E. Saul
Ambiente de calma um pouco por todo o país
Um eleitor posa para a fotografia numa assembleia de voto da capital moçambicana. O ambiente de tranquilidade contrasta com o atual clima de tensão político-militar que se vive em Moçambique. Estas são as quartas eleições do género na história do país, ensombradas pelo boicote da RENAMO, o principal partido da oposição em Moçambique.