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Moçambique entre ataques, ciclones e redução de apoios

DW (Deutsche Welle)
6 de junho de 2025

Moçambique enfrenta uma crise humanitária profunda, com deslocamentos, desastres e pouco apoio. No norte do país, a resposta é limitada e os desafios crescem diante da vulnerabilidade extrema das comunidades.

Deslocados internos em Cabo Delgado
Extremismo no norte, ciclones e violência pós-eleitoral agravaram a vulnerabilidade em MoçambiqueFoto: ALFREDO ZUNIGA/AFP/Getty Images

Moçambique tem enfrentado, nos últimos anos, uma sucessão de crises humanitárias resultantes de uma combinação de factores críticos. A região norte do país encontra-se particularmente afectada.

A província de Cabo Delgado continua a ser palco de ataques terroristas, enquanto fenómenos climáticos extremos e tensões políticas pós-eleitorais agravam ainda mais a fragilidade do tecido social.

Crise sem fim no norte

Neste cenário, as organizações humanitárias denunciam limitações crescentes na capacidade de resposta. A escassez de recursos financeiros compromete seriamente a assistência às populações vulneráveis, que enfrentam níveis alarmantes de carência.

A Cáritas Diocesana, braço humanitário da Igreja Católica, tem estado na linha da frente do apoio às comunidades afectadas em Cabo Delgado. No entanto, a organização viu-se recentemente obrigada a reduzir significativamente o seu alcance.

"Não há fundos por causa das crises mundiais. Cada organização agora tem de procurar reinventar-se para poder trabalhar. Nós, que dependemos de financiamento, ficamos praticamente sem fazer nada e fazemos intervenção à medida que aparece um pequeno fundo. Estamos numa crise mesmo", afirma Manuel Nota, diretor da Cáritas Diocesana em Pemba.

Algumas vítimas reconstruíram abrigos com destroços do material destruído pelo ciclone Chido em MecúfiFoto: Delfim Anacleto/DW

Também a Associação Social de Apoio Comunitário (ASAC), que atua nas províncias de Nampulae Cabo Delgado, denuncia o subfinanciamento das iniciativas humanitárias, especialmente em resposta aos ciclones mais recentes e o terrorismo que já dura sete anos no norte moçambicano.

"Perdemos muitos apoios. No caso do conflito em Cabo Delgado, estamos sem apoio, e em Nampula não houve muitos apoios como a situação humanitária especificamente destes últimos ciclones exigia”, lamenta Mussa Juma, presidente da ASAC.

O impacto destas calamidades é evidente nas comunidades locais. Em Mecúfi, uma das zonas afetadas pelo ciclone Chido no final de 2024, a reconstrução das habitaçõescontinua por fazer. A falta de materiais e de apoio técnico dificulta a recuperação.

"Em termos da reconstrução de residências também está difícil, porque nas zonas onde se podia buscar o material já não existe, porque o ciclone devastou até lá, derrubando as árvores que as pessoas cortavam para as construções", conta Saíde Bacar, residente local.

Crise esquecida

Um relatório recente do Conselho Norueguês para Refugiados colocou Moçambique entre os dez países com as crises de deslocamento mais negligenciadas do mundo. O documento, divulgado esta semana, destaca que a violência armada em Cabo Delgado continua a desarraigar comunidades, enquanto as tensões aumentaram em todo o país após as eleições gerais de 9 de outubro.

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Poucas semanas depois, o ciclone tropical Chido provocou "estragos em infra-estruturas já frágeis, afundando ainda mais a população em crises". A organização alertou ainda para o subfinanciamento crónico da ajuda humanitária no país.

Em abril, os ataques terroristas intensificaram-se em Cabo Delgado, forçando novas deslocações de civis. A Associação Kwendeleya tem acompanhado de perto a evolução do conflito e os seus impactos. O ativista cívico Abudo Gafuro Manana alerta para o aumento do número de deslocados internos.

Novas deslocações em massa

"Nos últimos dois meses, os ataques cresceram e incidiram, sobretudo, nos distritos de Meluco, Macomia e um pouco na zona de Quissanga. Houve uma deslocação de mais de 350 mil pessoas, a maior parte das vítimas saiu das zonas para onde estava a regressar", explica Abudo Gafuro Manana.

O ativista adverte que, caso os ataques persistam, a crise poderá agravar-se ainda mais. "Nestes últimos dias, temos acompanhado a ocorrência de ataques esporádicos dos terroristas, e esses ataques criam insegurança para qualquer um. Então, a população prefere sair daquelas zonas e procurar uma região parcialmente segura para, depois de abrandar a situação, voltarem às zonas de origem", diz.

Enquanto a violência persiste e o apoio internacional continua aquém do necessário, o futuro de milhares de moçambicanos permanece incerto. As vozes no terreno alertam: sem uma intervenção urgente, coordenada e sustentada, a crise poderá tornar-se ainda mais devastadora.

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