Moçambique está longe de uma revolução verde
5 de setembro de 2013 Dos 44 países africanos que se comprometeram na declaração de Maputo, aprovada aquando da cimeira da União Africana de 2003, apenas oito cumpriram a meta, uma década depois.
Nesta declaração, os países africanos comprometeram-se a canalizar pelo menos 10% dos respetivos orçamentos para a agricultura e a garantir um crescimento anual do sector em 6%, objetivos necessários à chamada revolução verde.
Dados indicam que Moçambique e Angola atingiram entre 5% e 6 % da meta de 10%, enquanto o Zimbabué decresceu uma média de 15%.
As mudanças climáticas são apontadas como um dos entraves ao desenvolvimento do sector agrícola em África: afetam as práticas agrárias e as dinâmicas de produção, devido à infertilidade dos solos.
O vice-Presidente do Conselho de Administração da AGRA (Aliança para um Revolução Verde em África), Strive Masiyiwa, considera que se África pretender sucesso na concretização de uma revolução verde “os países precisam de registar e entender onde é que se encontram e em que ponto estão atrasados”.
Nesse sentido, “pela primeira vez, o Relatório sobre o Status da Agricultura em Africa mostra-nos o grande retrato e permite-nos fazer comparações entre países. Este fornece os necessários dados importantes e fiáveis e, esperamos, que levem a políticas mais informadas e maior responsabilidade”, aponta Strive Masiyiwa.
O terceiro Fórum da Revolução Verde reúne, em Maputo, entre 4 e 6 de setembro, mais de 150 especialistas na área de agricultura em África sob o lema “Pela aliança por uma revolução verde”.
Governo moçambicano vê pregressos
Moçambique enfrenta problemas de conservação da produção. Mas, segundo o vice-ministro da Agricultura, António Limbau, houve progressos na estratégia da revolução verde.
“O nosso governo aprovou alguns programas: os programas nacionais de fertilizantes, de sementes, de mecanização e também aprovou a estratégia nacional de irrigação”, defende António Limbau.
No entender do o vice-ministro da Agricultura de Moçambique essas linhas de ação são fundamentais: “são aquelas que vão constituir a espinha dorsal para permitir que a nossa agricultura se possa desenvolver”, sustenta.
Contudo, o desenvolviemnto da agricultura em África tem estado a ser criticado, nomeadamente por causa da propriedade das terras.
Para Jeremias Vunjane, da Associação Académica de Moçambique, verifica-se “uma abertura forçada para que os países africanos, principalmente Moçambique, aceitem os produtos geneticamente modificados”. “Nós entendemos que com estas aberturas aumenta o fenónemo de usurpação de terras em Moçambique”, alerta Vunjane.
Aposta dos bancos na agricultura
A África do Sul é dos países africanos cuja agricultura está muito avançada devido ao financiamento da banca aos agricultores.
A representante sul-africana no evento, Jakune Zune, defende a importância da banca como uma das estratégias para uma revolução verde em África.
“Precisamos de instiuições bancárias que dêm créditos bancários aos agricultores. Não é possível desenvolvermos uma agricultura que pretendemos sem a intervenção da banca”, sustenta Jakune Zune.
Além desse ponto, a representante África do Sul no Fórum da Revolução em África acrescenta: “a segunda questão que temos de ter em conta é a capacitação dos agricultores e dos empresários no sector, que estão a surgir mas sem nenhum conhecimento das técnicas de agricultura”.
A designada revolução verde pretrende transformar a agricultura num sistema altamente produtivo, eficiente, competitivo e sustentável de forma a garantir a segurança alimentar e a retirar milhões de pessoas da pobreza.
Entre os 44 países que honraram os seus compromissos no âmbito da Aliança para uma Revolução Verde em África estão, por exemplo, o Burkina Faso, Etiópia, Gana, Guiné-Conacri, Malaui, Mali, Níger e Senegal.