Ex-edil de Nampula julgado por porte ilegal de armas
Sitoi Lutxeque (Nampula) | Lusa
13 de dezembro de 2017
Além de Manuel Tocova, também é arguido o ex-deputado da RENAMO, Pedro Maria, acusado de alugar a arma para o ex-edil interino. A sentença sairá no dia 20 de dezembro.
Publicidade
Começaram a ser julgados nesta quarta-feira (13.12), no Tribunal Judicial de Nampula, no norte de Moçambique, o ex-presidente da Assembleia Municipal e ex-edil interino, Manuel Tocova, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), e o ex-deputado da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Pedro Maria.
Ambos são acusados de porte ilegal de armas. A sentença será conhecida no próximo dia 20. O Ministério Púbico quer a responsabilização exemplar dos dois arguidos, enquanto a defesa deseja que o tribunal suspenda a pena ou a substitua por uma multa.
A sessão, que durou aproximadamente duas horas, iniciou com a contextualização da acusação feita pelo Ministério Público, na pessoa de Valdemiro Jack, que considerou que os arguidos agiram de forma livre, consciente e deliberadamente sabendo que condutas ligadas ao porte ilegal e empréstimos de armas são criminalizadas por lei no país.
Segundo a acusação, "agrava a responsabilidade criminal o facto de Manuel Tocova ser servidor público". "Na altura do contrato, Tocova era presidente da Assembleia Municipal", ressaltou Valdemiro Jack. "Atenua a responsabilidade criminal a espontânea confissão do crime, no caso do co-arguido Pedro Maria Ussene", acrescentou.
Contrato de aluguer Na audiência e perante o juíz, Pedro Maria disse que alugou a sua arma ao ex-edil interino de Nampula, mediante um contrato celebrado entre as partes com promessas de receber três mil meticais, o equivalente 43 euros, mensalmente.
Ainda segundo Maria, foi o próprio Tocova que lhe propôs o aluguer da arma, que seria utilizada para a sua defesa pessoal, depois de ser nomeado para ocupar o cargo de presidente da Assembleia Municipal. Pedro Maria confirmou que a proposta foi aceite, uma vez que na altura estava doente e precisava de dinheiro para garantir o seu tratamento e alimentação.
Já Manuel Tocova disse ter ido ao encontro de Pedro Mário, por sugestão de José Natiel, já falecido, antigo colega no partido RENAMO. Tocova confessou que a arma era para a sua defesa, porque como presidente da Assembleia Municipal, não tem direito a segurança. Contudo, afirmou no seu depoimento que não utilizou a arma alegadamente por ela estar estragada e porque não sabia manejá-la.
Perícia atesta funcionamento da arma
Entretanto, o relatório do laboratório de balística diz que a arma estava apta para qualquer disparo. Mas Tocova refutou perícia ao considerar que o documento não espelha a verdade dos factos e terá sido forjado. Ainda assim, os dois co-arguidos mostraram-se arrependidos pela prática do crime de porte de arma.A advogada do ex-deputado da RENAMO, Ernestina José, pediu ao tribunal para que a sentença a ser pronunciada no próximo dia 20 seja uma pena suspensa ou então comutada numa multa pelo facto "de o arguido estar atualmente doente".
Tribunal /Tocova - MP3-Mono
Ainda de acordo com a defesa do ex-deputado, "militam a favor do arguido o comportamento, a espontânea confissão e o imperfeito conhecimento do crime".
O advogado Albertino Miguel, que assiste Manuel Tocova, não quis falar com a imprensa. Postura parecida com a do ex-edil. "Só esperamos a sentença, não tenho mais nada a dizer", observou.
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.