Ex-secretária particular de Armando Guebuza é ouvida na PGR
Leonel Matias (Maputo)
20 de fevereiro de 2019
Inês Moiane está detida no âmbito da investigação das dívidas ocultas. Segundo advogado, a sessão desta quarta-feira (20.02.) foi uma mera audição e não há nenhum desenvolvimento.
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Inês Moiane, ex-secretária particular do ex-Presidente moçambicano Armando Guebuza, foi ouvida nesta quarta-feira (20.02.) na Procuradoria-Geral da República. A audição ocorre quatro dias depois da legalização da prisão preventiva de Moiane, no âmbito da investigação das dívidas ocultas.
O advogado da ex-secretária, Alexandre Chivale, disse a jornalistas que a sessão se tratou de uma mera audição e que não há nenhum desenvolvimento. Inês Moiane foi detida na última quinta-feira (14.02.) e viu legalizada a sua prisão preventiva no sábado (16.02.) pelo Tribunal Judicial da cidade de Maputo.
Questionado pelos jornalistas se durante a audição a sua constituinte tinha sido confrontada com novos dados, o advogado Alexandre Chivale negou.
"Nunca foi confrontada com dado algum. É a primeira vez que é ouvida na Procuradoria. As pessoas que a detiveram disseram que havia ordem de detenção porque não a conseguiam encontrar, o que é uma pura mentira”, disse.
InêsMoiane está "tranquila"
Ex-secretária de Armando Guebuza é ouvida na PGR
Alexandre Chivale sublinhou ainda que Inês Moiane sempre esteve em Maputo. "Até porque um dia antes ela foi chamada e estava num funeral, respondeu à chamada. A justificação que deram para isso é o facto de não a estarem a encontrar, o que não corresponde à verdade”, afirmou.
Os jornalistas perguntaram ao advogado se os fundamentos da detenção são suficientes ou não.
"Isto está em sede de recurso que nós já interpusemos e vamos discutir isso lá. Ter que discutir aqui convosco tem a ver com violar regras e procedimentos que têm a ver com deontologia”, declarou.
O advogado de Inês Moiane escusou-se, no entanto, a afirmar que a detenção da sua constituinte tinha sido ilegal, tendo se limitado a afirmar que "o juiz já decidiu por isso, então seria imiscuir-me em decisões do juiz”.
A audição desta quarta-feira durou cerca de três horas sem o acesso dos jornalistas. O advogado Alexandre Chivale comentou sobre o estado de espírito de Inês Moiane.
"Ela está tranquila. Como devem calcular, tem que estar tranquila, tem que confiar no trabalho que está a ser feito. É só isso”, contou.
Novos capítulos
A arguida Inês Moiane faz parte de um grupo de nove cidadãos que foram detidos desde a última quinta-feira, no âmbito da investigação das dívidas ocultas, que está a ser levada a cabo pela Procuradoria-Geral da República moçambicana.
Nesta quarta-feira, as Organizações da Sociedade Civil moçambicana e membros do Fórum de Monitoria do Orçamento anunciaram uma campanha internacional e petição online contra as dívidas ilegais.
"O objectivo é a investigação dos bancos envolvidos no escândalo das dívidas, facto que deverá conduzir a um processo criminal e ao cancelamento das dívidas”, referem os organizadores.
Na mesma altura, o jornal O País noticia que o serviço nacional de investigação criminal está a investigar uma alegada tentativa de envenenamento à família de Armando Guebuza. O diário cita uma fonte próxima à família do antigo Presidente da República como tendo dito que a tentativa de envenenamento terá ocorrido entre junho e julho do ano passado.
A denúncia tinha sido feito na última segunda-feira por Ndambi Guebuza, filho do antigo Chefe de Estado, um dos arguidos no caso das dívidas ocultas, perante um juiz de instrução criminal.
Trabalhadores em Maputo relatam as dificuldades que enfrentam todos os dias, com o país mergulhado numa crise financeira. Alguns ainda conseguem pequenos lucros, enquanto outros tentam estratégias para atrair clientes.
Foto: DW/Romeu da Silva
Novos tempos, menos lucros
Ana Mabonze tem uma loja de gelados há pouco mais de sete anos e diz que os rendimentos não têm sido bons ultimamente. Por dia, lucra apenas o equivalente a cerca de dois euros. O negócio é feito na ponte cais, também conhecida por Travessia. Nestes dias, os lucros baixaram porque os automobilistas que iam de ferryboat para Katembe agora usam a nova ponte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"Boa cena"
O negócio de transferência de dinheiro por telefone conhecido por Mpesa está a alimentar muitas famílias. É o caso de Angélica Langane, que na sua banca "Boa Cena" diz ter clientes frequentemente, porque muitos estão preocupados em transferir dinheiro, seja para pagar dívidas, fazer compras ou apenas para ter a sua conta em dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
O dinheiro não aparece
Numa das ruas de Maputo também encontramos Dulce Massingue, que montou a sua banca de venda de fruta. Para ela, este negócio não está a dar lucros. Diz que o pouco que ganha apenas serve para pagar o seu transporte. Nestes dias de crise, Dulce pensa em mudar de negócio, mas tudo depende do dinheiro que não aparece.
Foto: DW/Romeu da Silva
Trabalhar para pagar o transporte?
O trabalho de Jorge Andicene é recolher garrafas plásticas para serem recicladas pelos chineses. Sem ter revelado quanto ganha por este negócio, Jorge diz que não chega a ser bom, porque o mercado está muito apertado. Os preços de vários produtos subiram, por isso também os lucros são apenas para pagar o transporte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"As pessoas comem menos na rua"
A dona desta barraca não quis ser identificada, mas confessa que por estes dias o negócio baixou bastante. Vende hambúrgueres e sandes. As pessoas agora preferem trazer as suas refeições de casa para poupar dinheiro, diz. O negócio rende-lhe por dia o equivalente a dois euros, dinheiro que também deve servir para comprar outros bens para as crianças.
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Costureira também não vê lucros
O arranjo de roupas é outro negócio pouco rentável, mesmo nos tempos das "vacas gordas". É oneroso transportar todos os dias esta máquina, por isso Maria de Fátima decidiu ficar num dos armazéns na cidade de Maputo, pagando um determinado valor. São poucos os clientes que a procuram para arranjar as suas roupas.
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Negócio já foi mais próspero
Um dos negócios que tinha tendência de prosperar na capital era a venda de acessórios de telefones. Mas como há muitas pessoas que fazem este negócio, a procura agora é menor e o lucro baixou muito. O que salva um pouco estes empreendedores é o facto de cada dia haver novos tipos de telefones.
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Poder de compra reduzido
Nesta oficina trabalham jovens mecânicos especializados na reparação de radiadores. Não quiseram ser identificados, mas afirmam que durante anos este negócio lhes rendia algum dinheiro para pagar a escola. Mas com a crise que se vive agora, a situação agravou-se. São poucos os clientes que os procuram e alegam que muitos moçambicanos perderam poder de compra.
Foto: DW/Romeu da Silva
Nada de brilho
O negócio de engraxador é outro que já não está a render, segundo os profissionais. Os únicos indivíduos que os procuram são estrangeiros de origem europeia, sobretudo portugueses. Os nacionais, diz Sebastião Nhampossa, preferem fazer o serviço por conta própria em casa. Com esta crise, é normal os engraxadores serem visitados apenas por um ou dois clientes por dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
Estratégias para atrair o cliente
Quando as atividades da Inspeção Nacional das Atividades Económicas (INAE) trouxeram à tona a real situação de higiene nos restaurantes, muitos cidadãos passaram a não frequentar estes locais. Como forma de deleitar a clientela, o dono deste pequeno restaurante promove música ao vivo de cantores da velha guarda e ten uma sala de televisão para assistir a jogos de futebol.