Expetativas em alta para a conferência de doadores na Beira
Arcénio Sebastião (Beira)
31 de maio de 2019
A conferência tem lugar mais de dois meses depois de o ciclone Idai devastar a cidade. Segundo o edil da Beira, Daviz Simango, a prioridade é a reconstrução de escolas, mercados e estradas e a proteção da costa.
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É com muita expetativa que os habitantes da cidade da Beira aguardam a conferência internacional de doadores, que começa esta sexta-feira (31.05). Há mais de dois meses, o ciclone Idai destruiu dezenas de milhares de casas. Estradas, pontes, a rede elétrica e as redes de comunicação também foram fortemente afectadas. Agora, é preciso reconstruir e muitos habitantes pedem aos doadores material de construção.
"Pelo menos ajudar a população com comida, sacos de cimento, chapas de zinco", sugere Chica João. Florêncio António, outro residente, reforça o apelo: "Precisamos de cimento, precisamos de varões, precisamos de barrotes, precisamos de chapas e precisamos também de alimentação, porque é difícil construir sem ter comida".
Outras pessoas pedem postos de trabalho e empréstimos bonificados, embora o que importa é que a ajuda chegue, diz Felizardo Carlos: "Para mim, se for ajuda de dinheiro é positivo, se for ajuda de chapas ou outro material de construção está positivo".
Objetivos: 2,8 mil milhões de euros... e seriedade
Na conferência internacional de doadores de dois dias, na cidade da Beira, deverão estar mais de 700 participantes, nacionais e estrangeiros. O Governo anunciou este mês que vai pedir aos doadores mais de 2,8 mil milhões de euros em ajuda para reconstruir as zonas afetadas não só pelo ciclone Idai, mas também pelo Kenneth, no centro e norte de Moçambique.
Expetativas em alta para a conferência de doadores na Beira
"A nossa expetativa natural é que os parceiros do diálogo que estamos a ter, nas conversas que estamos a ter com eles e nos 'lobbies' que estamos a fazer, que naturalmente venham a dizer 'sim, senhor, está aqui'. E nós apelamos ao Governo de Moçambique para que aquilo que é entregue à Beira chegue à Beira", diz Daviz Simango, edil da Beira. "É esta cultura que temos de consolidar, para que, de facto, [os apoios] cheguem diretamente e rapidamente, porque as populações precisam", sublinha.
Daviz Simango, que também é presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), afirma que a prioridade é reconstruir escolas, mercados e estradas, além de proteger a costa. "Se não protegermos a nossa costa, dificilmente as empresas virão cá dizer que queremos colocar dinheiro, queremos investir num espaço seguro”, adianta. "É preciso garantir a segurança para que o investimento tenha lugar e para que a nossa cidade possa rapidamente progredir".
O Gabinete de Reconstrução pós-Ciclones Idai e Kenneth disse que já recebeu pedidos para o financiamento de uma centena de projectos nas regiões afectadas.
Moçambique pede ajuda para reconstrução e resiliência
O Governo moçambicano precisa de 2,8 mil milhões de euros para reconstruir zonas afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth. Conferência de doadores arranca a 31 maio na Beira. Setor social e infraestruturas são prioridades.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
2,8 mil milhões de euros para reconstruir o país
Para reconstruir as áreas afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth, o Governo moçambicano precisa de 3,2 mil milhões de dólares (2,8 mil milhões de euros). É esse montante que o Executivo vai pedir aos doadores internacionais, na conferência que terá lugar entre 31 de maio e 1 de junho, na cidade da Beira, a mais atingida pelo Idai.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Infraestruturas e setor social são prioridades
Segundo o Executivo, o dinheiro angariado servirá para responder às necessidades dos setores social, produtivo e infraestruturas. A maioria fatia será canalizada para a reconstrução no centro de Moçambique, devastada em março pelo ciclone Idai. A verba restante será usada para colmatar os prejuízos causados pelo ciclone Kenneth, em abril, na região norte.
Foto: picture-alliance/AP Photo/D. Onyodi
Conferência de doadores na Beira
É esperada a presença de mais de 700 participantes no encontro da Beira. A autarquia vai apresentar aos doadores um orçamento de 890 milhões de dólares (795 milhões de euros) para financiar o Plano de Reconstrução e Resiliência. Quando apresentou o plano, o edil Daviz Simango alertou para a necessidade de melhorar as redes de comunicação, energia e estradas, severamente afetados durante o ciclone.
Foto: DW/A. Sebastião
Plano de Reconstrução e Resiliência
"O município, por si só, não tem capacidade para custear a reconstrução" da Beira, disse o autarca Daviz Simango durante a apresentação do Plano de Reconstrução e Resiliência. A maior fatia das verbas será destinada à habitação (246 milhões de euros), seguindo-se o setor económico e negócios (181 milhões de euros) e drenagem (173,6 milhões de euros).
Foto: DW/A. Kriesch
Proteção costeira também é prioridade
Para a reconstrução de infraestruturas de proteção costeira, o município da Beira vai precisar de 81 milhões de euros. Os planos passam pela construção de esporões e de um muro com mais de 10 quilómetros. Para o saneamento estão previstos 43,8 milhões de euros, para as infraestruturas rodoviárias outros 33 milhões de euros e para os edifícios públicos 10,7 milhões de euros.
Foto: DW/A. Kriesch
"Infraestruturas resilientes" para evitar inundações
Para Daviz Simango, o grande desafio na cidade da Beira é criar "infraestruturas resilientes" que estejam preparadas para ventos fortes ou inundações. "Temos de nos adaptar às várias mudanças climáticas", diz o edil. O banco alemão para o desenvolvimento KfW financia, desde 2016, um projeto para evitar inundações durante o período de chuvas fortes e marés altas.
Foto: DW/A. Kriesch
Ajuda para 1,85 milhões de pessoas
Segundo os números mais recentes da ONU, ainda há 1,85 milhões de pessoas a precisar de ajuda em Moçambique. Até 30 de abril, ainda só tinham sido angariados 22% dos 3,1 milhões de dólares que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) necessita para financiar a sua operação em Moçambique. Faltam recursos para assegurar apoio básico e instalações para os deslocados internos.
Foto: DW/M. Mueia
Preocupações e riscos
O ACNUR está preocupado com a integridade física dos deslocados instalados em centros de acolhimento temporários. Além de problemas de sobrelotação, a agência da ONU para os refugiados também tem alertado para problemas na organização e distribuição de ajuda humanitária, que representam "riscos de discriminação e abusos", sobretudo em casos de crianças, mulheres, idosos e pessoas com deficiência.
Foto: DW/M. Mueia
Idai e Kenneth em números
O ciclone Idai que atingiu o centro de Moçambique em março provocou 603 mortos e afetou cerca de 1,5 milhões de pessoas, além de ter originado 146 mil deslocados internos. O ciclone Kenneth, que se abateu sobre o norte do país em abril, matou 45 pessoas e afetou 250.000 pessoas.