O abastecimento de água para consumo doméstico passa a ser feito com restrições a partir desta terça-feira (10.01) em Maputo, Matola e Boane. Motivo será falta deste recurso no rio Umbeluzi, província de Maputo.
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Diminuiu drásticamente o caudal do rio Umbeluzi, o único que abastece com água as cidades de Maputo e Matola e a vila Muncipal de Boane, província sulista de Maputo. O fornecimento do precioso líquido está a ser feito de forma alternada para os 70 bairros destas três regiões.
A DW África ouviu alguns cidadãos afetados. Alguns já sabiam da notícia mas não está a ser fácil lidar com a situação que tem levado habitantes a sofrer, diz a menina Isaura. "É difícil manter a higiene, estamos a sofrer muito", desabafou.
No bairro de Chiango, na periferia de Maputo, Orlando Buque, pedreiro, começou tarde a trabalhar porque não havia água suficiente. "Antes tínhamos água. Acordávamos às quatro horas e começávamos com a atividade. Mas agora, com este problema, temos de ir antes de tudo à busca de água e depois voltamos para começar a trabalhar”, explicou.
No vizinho bairro da Costa do Sol, Laurinda Manjate, não estava preparada para enfrentar este cenário. "Estamos a sofrer por causa da água. Levamos três horas à procura da mesma. Falta dinheiro e transporte. Aqueles que têm transporte carregam mil litros”, disse Manjate.
Estação de tratamento
A Estação de Tratamento de Água de Umbeluzi tem apenas capacidade para produzir 4,5 milhões de metros cúbicos contra os 6 milhões, normalmente produzidos.
Por isso, o administrador da empresa Águas da Região de Maputo (AdeM), Gildo Timóteo, calendarizou o fornecimento de água. "Serão todos os consumidores que terão água um dia sim, um dia não. O que nós vamos fazer é dividir por bairros”, disse Timóteo em entrevista à DW África.
Caso não chova nos próximos dias o cenário poderá ser crítico para os 250 mil consumidores que dependem da água bombeada a partir do rio Umbeluzi.
"Não sabemos o que vai acontecer porque é possível que não chova mesmo. Até aos finais de março, segundo as previsões, não vamos ter chuva suficiente para repôr os níveis da barragem”, explicou o administrador.
Solução
As águas subterrâneas em algumas zonas da cidade de Maputo poderão ser uma solução a breve trecho, disse Gildo Timóteo:
"[...] aproveitar as águas que estão a correr naquela barreira de Maxquene e Desportivo, porque em tempos já se aproveitou essa água. Temos outra barreira na Avenida das Nações Unidas, também há muita água a correr e vamos fazer análises para ver se ela é potável ou não”, acrescentou.
Moçambique /Seca - MP3-Mono
Face a este cenário de crise de água na província e cidade de Maputo a empresa tem estado a fazer campanhas para o uso racional da água.
As mudanças climáticas que também afetam toda a África Austral, têm provocado a seca em Moçambique, e explicam a diminuição do caudal do rio Umbeluzi.
Água potável em Angola, privilégio para poucos
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana. Todos os dias, muitos angolanos fazem uma maratona para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
Abastecimento, uma maratona diária
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana, segundo a Universidade Católica de Angola (UCAN). Todos os dias, os angolanos fazem uma maratona que consume uma quantia considerável de tempo e dinheiro para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
O dia começa no chafariz púlico
Nas regiões periféricas da capital de Angola, Luanda, o dia começa cedo a caminho do chafariz público. No município de Cazenga, esta é uma cena comum. Mulheres e crianças são as principais responsáveis pelo abstecimento de água das famílias angolanas. O consumo diário é geralmente limitado pela capacidade de aquisição e transporte da água.
Foto: DW/C. Vieira
Preço alto e falta d'água
Segundo um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), as fontes mais comuns para o abastecimento de água segura em Angola são: chafarizes (16%), furos protegidos (12%) e cacimbas (6%). Em Luanda, um galão de 20 litros de água custa 10 kwanzas no chafariz – o equivalente a 0,10 dólares. As famílias chegam cedo. Mas, muitas vezes, o chafariz está fechado por falha no abastecimento.
Foto: DW/C. Vieira
O sonho de ter água em casa
Aqueles que têm condições constroem tanques para armazenar a água em casa. O custo da obra supera os 1.500 dólares – uma despesa pesada com a qual poucos podem arcar. A água é entregue por um caminhão pipa privado e cada fornecimento de 20 mil litros custa 20 mil kwanzas – o equivalente a 0,20 dólares por 20 litros de água.
Foto: DW/C. Vieira
Água, um bom negócio?
Apesar de custar o dobro do preço pago no chafariz público, o tanque pode se tornar um bom negócio. Muitas pessoas vendem parte de sua água a 50 kwanzas por galão – o equivalente a 0,50 dólares por 20 litros. Uma margem de revenda de 150%. Esta mulher de Luanda compra água de sua vizinha e armazena em tonéis em casa.
Foto: DW/C. Vieira
Situação difícil também nas províncias
A falta de abastecimento de água leva a população a enfrentar muitas dificuldades para o transporte. Mulheres transportam a água até suas casas. Na foto: a cidade do Lobito, na província de Benguela. Além de ter que suportar o peso da bacia cheia, é preciso muito equilíbrio para não deixar a água pelo caminho.
Foto: DW/C. Vieira
Armazenar para garantir o abastecimento
As residências onde há encanamento são um privilégio para poucos angolanos. Ainda assim, não há garantia de que haverá sempre água. O abastecimento falha com frequência. No Lobito, muitos moradores investem em tanques para a armazenagem. Este comporta 3.000 litros de água e é a garantia para uma família de oito pessoas. O investimento foi de 560 dólares.
Foto: DW/C. Vieira
Criatividade para vencer a dificuldade
O transporte da água depende da criatividade e das possibilidades de cada um. Depois de adquirir a água, será preciso prepará-la para o consumo. Apesar da transparência, a água precisa ser tratada ou fervida para ser considerada potável - ou seja, livre de impurezas e que não oferece o risco de se contrair uma doença.
Foto: DW/C. Vieira
Água potável é saúde
A população de Luanda enfrenta muitas dificuldades para o transporte da água. Além disso, muitas crianças morrem de diarreia ou de outras doenças relacionadas com a água e o saneamento em Angola. Em 2006, um surto de cólera afectou mais de 85.000 pessoas e ceifou cerca de 3.000 vidas em 16 das 18 províncias angolanas.
Foto: DW/C. Vieira
Cobertura sanitária pouco abrangente
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 2,6 mil milhões de pessoas no mundo não têm acesso a condições sanitárias adequadas. Na África sub-saariana, a cobertura sanitária abrange apenas 31% da população. Em Angola, apenas cerca de 25% da população têm acesso ao saneamento básico, segundo a Universidade Católica de Angola. Em Luanda, é preciso conviver com esgotos a céu aberto.
Foto: DW/C. Vieira
Saneamento básico para combater doenças
A falta de saneamento básico é um pesadelo também para os moradores do município de Cazenga, em Luanda. Não há como escoar a água das ruas e enormes poças se formam. A água parada é o paraíso para a reprodução dos mosquitos transmissores da dengue e da malária – esta última ainda é a principal causa de mortes em Angola.
Foto: DW/C. Vieira
Higiene, uma questão de saúde
A falta de saneamento básico aumenta o risco da transmissão de doenças como a diarreia, a cólera e o tifo. Em toda a África, 115 pessoas morrem a cada hora de doenças ligadas à falta de saneamento, empobrecida higiene e água contaminada. Lavar as mãos após defecar, antes de cozinhar e antes das refeições ajuda a evitar doenças e pode reduzir em até 45% a incidência da diarreia.