Os alimentos nos hospitais de Inhambane, no sul de Moçambique, são insuficientes e os pacientes são obrigados a confecionar a própria comida. As autoridades de saúde confirmam, mas esperam dias melhores "em breve".
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Vários doentes internados em hospitais da província de Inhambane, no sul de Moçambique, estão a comer refeições confecionadas pelos seus familiares, porque nas unidades sanitárias há falta de alimentos.
Ana Paula João está com a filha e a cunhada no Hospital Rural de Quissico, no distrito de Zavala, e diz que cozinha para várias pessoas: "A comida é para os doentes e, ao mesmo tempo, para mim", conta.
A situação repete-se noutros hospitais. Ao visitarmos o Hospital Rural no distrito de Massinga, encontramos Horácio João, um dos pacientes, a cozinhar arroz com feijão.
"Estou a comer com a minha mulher, porque ela também não tem comida", diz em entrevista à DW África.
Falta comida nos hospitais de Inhambane
No Hospital Rural de Chicuque, no município de Maxixe, Octávio Tinga queixa-se da alimentação pouca própria para o pai, que sofre de diabetes. Por isso, a família resolveu fazer as suas próprias refeições.
No hospital, "não é fácil preparar [refeições] só para a pessoa que tem diabetes", conta Tinga. "Estamos aqui a tentar fazer este pouco de alimentação, sem sal. A minha mãe é que prepara. Obviamente, tem de se gastar e não tem como."
Crise levou a falta de alimentos
Tânia João, diretora substituta no Hospital Rural de Chicuque, está a par da situação. A responsável reconhece que houve uma diminuição de alguns produtos alimentares nos estabelecimentos hospitalares moçambicanos, por causa da crise económica que o país atravessa.
"Em média, o gasto [mensal] era de 150 mil meticais [aproximadamente 2.180 euros], mas depois da diminuição caímos para 98 a 100 mil meticais [entre 1.420 e 1.450 euros]", adianta Tânia João. "A nível interno, houve uma diminuição das quantidades de alguns produtos para fazer face ao período de crise: Por exemplo, na quantidade de frango e de carne de vaca. Mas mantivemos a quantidade de peixe, feijão, arroz e farinha."
Solução em breve?
Mas, questionado pela DW África, o porta-voz da Direção Provincial de Saúde em Inhambane, Stélio Tembe, garantiu que a situação será resolvida "brevemente", porque os serviços já estão a receber algumas ajudas dos parceiros internacionais.
Tânia João, do Hospital Rural de Chicuque, também espera melhores dias: "Já estamos a ter libertação [de verbas] e ao nível da assistência médica por parte da Direção Provincial, e estamos a amortizar as aquisições [dívidas aos fornecedores de alimentos] que vínhamos fazendo."
Carências do principal hospital de Bissau
O Hospital Nacional Simão Mendes é considerado a unidade hospitalar de referência na Guiné-Bissau. Mas falta quase tudo: pessoal especializado, medicamentos básicos, aparelhos de diagnóstico.
Foto: Gilberto Fontes
Crise política deixa hospital a meio gás
Com a instabilidade política agravaram-se as necessidades no principal hospital da Guiné-Bissau e caíram por terra as expectativas da equipa hospitalar que esperava mais atenção por parte das autoridades. A Cruz Vermelha e os Médicos Sem Fronteiras prestam apoio. Mas, mesmo assim, perdem-se muitas vidas por falta de condições básicas de assistência.
Foto: Gilberto Fontes
À espera da hemodiálise...
O país ainda não consegue tratar doentes com insuficiência renal. O hospital tem estas instalações novas para iniciar tratamentos. Só falta a máquina da hemodiálise. Curioso é que o equipamento está no hospital, fechado há anos numa sala, cuja chave está com o Ministério da Saúde, segundo fonte hospitalar. Um nefrologista e vários técnicos fizeram formação em diálise, que ainda não podem aplicar.
Foto: Gilberto Fontes
Enquanto isso a população sofre
Doentes, como esta senhora, só podem receber tratamentos de hemodiálise no Senegal. No entanto, cada sessão chega a custar 150 euros. O que é insustentável para muitos doentes que, normalmente, necessitam de várias sessões semanais. Quando a doença é detetada numa fase inicial, aciona-se a evacuação para Portugal. Mas o processo é moroso. Muitos doentes acabam por falecer por falta de tratamento.
Foto: Gilberto Fontes
Há equipamentos novos parados...
O técnico de radiologia Hécio Norberto Araújo lamenta que este aparelho novo de radiografias esteja praticamente parado. Só faz alguns exames, em casos de urgência. Também o equipamento de mamografia nunca funcionou devido à falta de acessórios, como o chassi e o aparelho de revelação. O hospital militar continua a ser o único no país a fazer mamografias e tomografias, que podem custar 100 euros.
Foto: Gilberto Fontes
E máquinas obsoletas em uso
Na falta de opções, este velho aparelho de raio x continua a ser muito requisitado. Ninguém sabe quantos anos tem o equipamento que funciona com arranjos improvisados de fita-cola. A pequena sala de diagnóstico está desprovida de qualquer proteção contra as radiações. O único avental de proteção está estragado. Os técnicos de radiologia estão diariamente expostos a radiações eletromagnéticas.
Foto: Gilberto Fontes
Sem mãos a medir na pediatria
Esta unidade costuma estar cheia, principalmente na época das chuvas, com o aumento de casos de malária ou paludismo e diarreia nas crianças. Neste serviço com 158 camas, há apenas nove médicos efetivos e quase 40 enfermeiros. Entre o pessoal médico, conta-se um único especializado em pediatria. A falta de um eletrocardiograma é responsável pelo diagnóstico tardio de cardiopatias entre os menores.
Foto: Gilberto Fontes
Nem medicamentos para emergências
Nos cuidados intensivos há apenas um cardiologista. A maioria do pessoal médico são clínicos gerais. Por vezes, em plena situação de paragem cardíaca, falta medicação de urgência que os familiares do doente têm de se apressar em providenciar. A equipa hospitalar quer mais investimento em formação e em condições de trabalho. Só assim pode salvar mais vidas e diminuir a evacuação para o exterior.
Foto: Gilberto Fontes
Faltam lençóis e comida
O Hospital Nacional Simão Mendes tem mais de 500 camas. Mas não tem lençóis que cheguem para fazer a cobertura de todas elas. Devido à falta de pijamas, muitos doentes ficam hospitalizados com a roupa que trazem no corpo. Além disso, não há como providenciar alimentação aos pacientes que, na maior parte das vezes, ficam dependentes da comida que os familiares conseguem fazer chegar.