Governo não consegue cumprir promessa de abastecer água em dias alternados. Populares desviam condutas de água e outros lavam roupa nas valas de drenagem. Ainda assim recebem regularmente faturas sem alteração do preço.
Foto: DW/R. da Silva
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O desespero tomou conta de Madalena Matusse, residente no bairro da Malanga, a oeste da capital Maputo. A água, que devia chegar às torneiras da sua casa em dias alternados, não corre há mais de duas semanas.
Madalena prefere ir à vala de drenagem lavar roupa. O Governo moçambicano não está a conseguir cumprir a promessa de abastecer água em dias alternados: "Eu não fico em casa, trabalho, mas estou aqui. Não fui trabalhar por causa disto [procurar água]."
No bairro Trevo, na cidade da Matola, Marta Matlombe mobilizou residentes para desviar uma conduta de água que abastece outros bairros: "A água não jorra nos nossos quintais nem tão pouco. Então hoje decidimos invadir o tubo geral porque já não temos outra opção. Estamos a viver de água de poço e vendem por cinco meticais um bidon."
Mulher enchendo o seu bidon de água numa fonteFoto: DW/R. da Silva
No bairro periférico de Mavalane, norte da capital, os moradores não têm água há mais de três semanas, mas continuam a receber faturas sem alteração no preço.
Estevão Chiota tem uma conta de quatro euros para pagar. "Como é que a água está a contar até a estes níveis se não estamos a usar?", pergunta o morador. "As torneiras estão secas há mais de três semanas, mas eles trouxeram faturas que estão acima de 500 meticais."
Falta água, mas não faltam faturas
A água também não jorra em casa de Verónica Zacarias. Ela queixa-se do facto de a empresa Águas da Região de Maputo continuar a mandar faturas: "Aqui já estamos dois meses sem água, mas recebemos faturas regularmente. Em Mavalane não sai água. Temos que ir para outros bairros vizinhos. Para Hulene, por exemplo."
28.02.17 Maputo crise água - MP3-Mono
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A empresa Águas da Região de Maputo nega que haja bairros que têm água 24 horas por dia. O porta-voz Afonso Mahumane refere que estão todos em regime de restrição.
"A decorrer um ou outro caso devem ser casos isolados. A haver esses casos temos de intervir no sentido de restringir. A acontecer pode ser que seja uma área isolada que pode estar a receber direitos diferentes de tal forma que quando é um dia sim recebem e quando dia não tmabém recebe", afirma Afonso Mahumane.
Em relação às faturas, esclarece: "Nós enviamos as equipas para a verificação. Consoante a situação no local faz-se algum reajuste."
As restrições de água em Maputo, Matola e Boane devem-se à escassez de água no rio Umbeluzi, que baixou drasticamente o seu caudal devido à seca que afetou o país no último ano.
Água potável em Angola, privilégio para poucos
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana. Todos os dias, muitos angolanos fazem uma maratona para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
Abastecimento, uma maratona diária
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana, segundo a Universidade Católica de Angola (UCAN). Todos os dias, os angolanos fazem uma maratona que consume uma quantia considerável de tempo e dinheiro para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
O dia começa no chafariz púlico
Nas regiões periféricas da capital de Angola, Luanda, o dia começa cedo a caminho do chafariz público. No município de Cazenga, esta é uma cena comum. Mulheres e crianças são as principais responsáveis pelo abstecimento de água das famílias angolanas. O consumo diário é geralmente limitado pela capacidade de aquisição e transporte da água.
Foto: DW/C. Vieira
Preço alto e falta d'água
Segundo um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), as fontes mais comuns para o abastecimento de água segura em Angola são: chafarizes (16%), furos protegidos (12%) e cacimbas (6%). Em Luanda, um galão de 20 litros de água custa 10 kwanzas no chafariz – o equivalente a 0,10 dólares. As famílias chegam cedo. Mas, muitas vezes, o chafariz está fechado por falha no abastecimento.
Foto: DW/C. Vieira
O sonho de ter água em casa
Aqueles que têm condições constroem tanques para armazenar a água em casa. O custo da obra supera os 1.500 dólares – uma despesa pesada com a qual poucos podem arcar. A água é entregue por um caminhão pipa privado e cada fornecimento de 20 mil litros custa 20 mil kwanzas – o equivalente a 0,20 dólares por 20 litros de água.
Foto: DW/C. Vieira
Água, um bom negócio?
Apesar de custar o dobro do preço pago no chafariz público, o tanque pode se tornar um bom negócio. Muitas pessoas vendem parte de sua água a 50 kwanzas por galão – o equivalente a 0,50 dólares por 20 litros. Uma margem de revenda de 150%. Esta mulher de Luanda compra água de sua vizinha e armazena em tonéis em casa.
Foto: DW/C. Vieira
Situação difícil também nas províncias
A falta de abastecimento de água leva a população a enfrentar muitas dificuldades para o transporte. Mulheres transportam a água até suas casas. Na foto: a cidade do Lobito, na província de Benguela. Além de ter que suportar o peso da bacia cheia, é preciso muito equilíbrio para não deixar a água pelo caminho.
Foto: DW/C. Vieira
Armazenar para garantir o abastecimento
As residências onde há encanamento são um privilégio para poucos angolanos. Ainda assim, não há garantia de que haverá sempre água. O abastecimento falha com frequência. No Lobito, muitos moradores investem em tanques para a armazenagem. Este comporta 3.000 litros de água e é a garantia para uma família de oito pessoas. O investimento foi de 560 dólares.
Foto: DW/C. Vieira
Criatividade para vencer a dificuldade
O transporte da água depende da criatividade e das possibilidades de cada um. Depois de adquirir a água, será preciso prepará-la para o consumo. Apesar da transparência, a água precisa ser tratada ou fervida para ser considerada potável - ou seja, livre de impurezas e que não oferece o risco de se contrair uma doença.
Foto: DW/C. Vieira
Água potável é saúde
A população de Luanda enfrenta muitas dificuldades para o transporte da água. Além disso, muitas crianças morrem de diarreia ou de outras doenças relacionadas com a água e o saneamento em Angola. Em 2006, um surto de cólera afectou mais de 85.000 pessoas e ceifou cerca de 3.000 vidas em 16 das 18 províncias angolanas.
Foto: DW/C. Vieira
Cobertura sanitária pouco abrangente
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 2,6 mil milhões de pessoas no mundo não têm acesso a condições sanitárias adequadas. Na África sub-saariana, a cobertura sanitária abrange apenas 31% da população. Em Angola, apenas cerca de 25% da população têm acesso ao saneamento básico, segundo a Universidade Católica de Angola. Em Luanda, é preciso conviver com esgotos a céu aberto.
Foto: DW/C. Vieira
Saneamento básico para combater doenças
A falta de saneamento básico é um pesadelo também para os moradores do município de Cazenga, em Luanda. Não há como escoar a água das ruas e enormes poças se formam. A água parada é o paraíso para a reprodução dos mosquitos transmissores da dengue e da malária – esta última ainda é a principal causa de mortes em Angola.
Foto: DW/C. Vieira
Higiene, uma questão de saúde
A falta de saneamento básico aumenta o risco da transmissão de doenças como a diarreia, a cólera e o tifo. Em toda a África, 115 pessoas morrem a cada hora de doenças ligadas à falta de saneamento, empobrecida higiene e água contaminada. Lavar as mãos após defecar, antes de cozinhar e antes das refeições ajuda a evitar doenças e pode reduzir em até 45% a incidência da diarreia.