Moçambique: Falta o básico nos hospitais públicos em Maputo
13 de julho de 2024Em Maputo, pacientes e respetivos familiares relatam que a falta de alimentação nos hospitais já se tornou rotina. E em muitos casos, os doentes são obrigados a depender da caridade de parentes para suprir as suas necessidades básicas de alimentação, enquanto estão internados e em tratamento nas unidades sanitárias.
A ausência de medicamentos vitais agrava ainda mais a situação. Muitos pacientes são obrigados a comprar remédios nas farmácias privadas, o que aumenta o peso financeiro sobre famílias já vulneráveis.
Além disso, os pacientes também enfrentam o atendimento desumano. Em entrevista à DW, uma paciente do Hospital Geral José Macamo, revelou que os pacientes estão sujeitos a condições de atendimento indignas e desrespeitosas.
"As pessoas saem de casa com a doença e ao invés de estar curadas, voltam mais doentes devido ao atendimento que não é eficaz. Fazemos análises médicas e desaparecem e ninguém sabe explicar onde foram parar e não somos permitidos reclamar", lamentou a paciente que preferiu falar à DW em anonimato.
Criação de condições
Apesar destes relatos, a vereadora para a área de Saúde e Ação Social no Conselho Municipal da Cidade de Maputo, Alice de Abreu, garante que a edilidade tem estado a trabalhar para a melhoria das condições nos hospitais da capital.
"Nós estamos conscientes que na nossa cidade os níveis de procura pelo entendimento hospitalar aumentaram e, com isso, aumentou também a pressão nas unidades sanitárias, mas temos criado condições de ter disponíveis medicamentos para os pacientes e laboratórios para as análises", disse Alice de Abreu.
Falta água nas maternidades
Na província de Maputo, há igualmente relatos de um cenário crítico numa das maternidades, onde chega a faltar até água para as parturientes, o que compromete os cuidados com as mães e recém-nascidos, segundo uma denúncia feita por uma enfermeira na província.
"Na nossa unidade sanitária, por vezes trabalhamos em condições não muito boas. Agora por exemplo, não temos água e quando temos pacientes que vão a maternidade, os familiares são obrigados a trazer água", relatou a técnica que também preferiu o anonimato.
António Mathe, do Observatório do Cidadão para a Saúde, entende que os problemas que a saúde enfrenta estão relacionados a uma estratégia ineficaz para o financiamento do setor.
"Era importante incrementar o orçamento da saúde no plano económico e social e orçamento do Estado”, afirma Mathe para quem “neste caso, os sectores sociais são os sectores mais sacrificados, mas na verdade deviam ter um nível de prioridade maior", lamenta.