Cerca de 43 mil famílias na província moçambicana de Inhambane sofrem com a falta de alimentos devido à estiagem, que contribuiu para a baixa produção agrícola. Governo convocou parceiros para intensificar assistência.
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A campanha agrícola 2019/2020 foi um fracasso para os camponeses da província de Inhambane, no sul de Moçambique. Uma forte estiagem, principalmente nos distritos de Mabote, Govuro, Massinga, Panda, Funhalouro, Vilankulo, Inhassoro e Homoíne, castigou os camponeses.
Júlio Mabasso, agricultor de Inhambane, contou à DW África que a produção foi muito baixa devido à falta de chuva nos últimos três meses. "Semeei, só que a produção foi baixa porque a chuva atrasou muito, chegou enquanto já estava a secar amendoim, milho e feijão-nhemba", lamenta.
As famílias da região estão a sofrer com a escassez de alimentos provocada pela estiagem. Segundo a Direção Provincial de Educação e Desenvolvimento Humano de Inhambane, cerca de 25 mil alunos das escolas primárias necessitam de lanche escolar com urgência para evitar o abandono das escolas.
Crianças com fome nas aulas
O professor Alfredo Manhique, de Inhambane, revela que muitas crianças acabam por não perceber o conteúdo apresentado na sala de aula por causa da fome. "As crianças chegam com fome e nos últimos tempos, um quarto ou um quinto das crianças não estão atentas por causa da fome", relata.
Faltam alimentos em Inhambane após seca prolongada
Para mitigar a situação da insegurança alimentar, várias organizações foram mobilizadas pelo Governo para assistirem os necessitados com intervenções pontuais nas comunidades. O Programa Mundial de Alimentação (PAM) é uma das organizações que já atua em vários locais.
A Plan International, uma organização não-governamental de resposta à estiagem, iniciou um projeto com mais de cinco mil crianças nas escolas, que passa pela distribuição de papas nutritivas em alguns distritos onde vivem famílias com dificuldades em garantir uma alimentação equilibrada.
Cândido Mapute, delegado provincial do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais (INGC) em Inhambane, disse à DW África que, na avaliação feita até janeiro último, foram registadas mais de 27 mil famílias assoladas pela seca. "Visto isto, o Governo viu-se obrigado a convocar os seus parceiros para intensificar as ações de assistência alimentar", diz o delegado do INGC, que assegura que a maior parte das famílias já está a beneficiar de apoios.
Idosos abandonados em Inhambane
Maltratados, acusados de feitiçaria e sem apoio. Em Moçambique, muitos idosos são rejeitados pelos familiares, vivem sem abrigo e passam a maior parte do dia nas ruas a pedir esmola. Governo diz que faltam fundos.
Foto: DW/L. da Conceição
Viver na rua sem abrigo e comida
Isabel Bato vive há cinco anos nas ruas da cidade de Maxixe, na província de Inhambane. Os familiares rejeitaram-na, alegando que estava a enfeitiçar os filhos e netos para que não tivessem sucesso nos seus trabalhos e negócios. Sem apoio do Governo, a idosa vive pedindo esmola nas lojas dos comerciantes locais.
Foto: DW/L. da Conceição
Caminhar sem destino
Como muitas pessoas da terceira idade, Jortina João caminha pelas ruas do distrito de Morrumbene a pedir ajuda às pessoas. É "caminhar sem ter destino e descanso", diz. Se ficar sentada, ninguém a apoiará com alimentação e roupas, sublinha.
Foto: DW/L. da Conceição
Pedir ajuda
Nos mercados, lojas e mercearias, os idosos pedem ajuda todos os dias para conseguir algo para comer, mas nem todos satisfazem os seus pedidos. Abandonada pela família, Joana de Vaz precisa de sair para pedir ajuda, mas nem sempre sai satisfeita. "Às vezes, recebo dois quilos de arroz, um pouco de óleo, mas muitas pessoas não são solidárias", conta.
Foto: DW/L. da Conceição
Olhar de fome
Tal como outras idosas no interior da província de Inhambane, Joana Wacitela passa fome devido à seca que assola esta região de Moçambique. A colheita não foi boa na sua machamba: "Estou a passar mal de fome, estou a pedir ajuda". Segundo o governo provincial, o apoio não chega a todos os idosos devido à falta de fundos.
Foto: DW/L. da Conceição
Poucos idosos recebem apoio
A Associação dos Aposentados de Moçambique (APOSEMO), o Instituto Nacional de Ação Social (INAS) e a Associação Gupuanana em Inhambane confirmam que os apoios direcionados aos idosos não chegam a todos. Em Inhambane, nem metade das pessoas da terceira idade beneficia dos programas sociais básicos. Estas pessoas são cada vez mais excluídas.
Foto: DW/L. da Conceição
Cesta básica com poucos produtos
O artigo 5º da Lei 03/2014, aprovada pelo Parlamento moçambicano, estabelece que cabe às famílias, à comunidade, à sociedade e ao Estado assegurar o direito à alimentação da pessoa idosa. Em Moçambique, algumas pessoas da terceira idade recebem uma cesta básica, mas com pouquíssimos produtos, como óleo, açúcar, arroz e sal.
Foto: DW/L. da Conceição
Amizade para sempre
Apesar de tantas dificuldades, os idosos gostam de fazer novas amizades enquanto a vida lhes permite. Sitoe Manuel e Ernesto José enfrentam juntos os problemas e reclamam do pouco apoio que recebem do INAS. "Mesmo com dificuldades, temos que ter fé e recordar os bons momentos que passámos. A amizade faz bem a uma pessoa", dizem.
Foto: DW/L. da Conceição
Sem alternativas
Japao Boane perdeu o emprego de motorista por causa da sua idade. Sem ter outra alternativa para se sustentar, decidiu abrir uma pequena banca em frente à sua residência para vender pequenos produtos, como rebuçados e bolachas. Ele diz sentir-se excluído da sociedade.
Foto: DW/L. da Conceição
Investir em pequenos negócios
Joana Chaquir luta todos os dias para sobreviver. Os filhos não lhe dão nenhum apoio. Ela decidiu começar um negócio para vender caldo e alface no mercado distrital de Morrumbene, em Inhambane. Com o que vende, consegue comprar um copo de arroz, meio litro de óleo e arroz.
Foto: DW/L. da Conceição
A perder as forças para trabalhar
Hawa Leka recebe um subsídio de 300 meticais fornecido pelo INAS. Com o dinheiro, começou a vender camarão e peixe seco em Inhambane. Ela afirma que está a perder as forças a cada dia que passa e não sabe o que será do seu futuro, caso não consiga mais trabalhar.
Foto: DW/L. da Conceição
Idosos assassinados pelos familiares
Araujo Nhanice, líder comunitário do povoado de Guicico, no distrito de Morrumbene, não recebe apoio do Governo e não sabe porquê. Ele alerta que, na sua comunidade, os casos de assassinato de idosos prosseguem e que os principais autores são familiares das vítimas.
Foto: DW/L. da Conceição
Esperança em dias melhores
Embora passem muitas dificuldades no dia-a-dia, os idosos de Inhambane ainda têm esperança de que melhores momentos virão. O rosto, no entanto, não esconde as marcas do sofrimento.