Moçambique: Farmácias públicas sem medicamentos no Niassa
Manuel David (Lichinga)
26 de novembro de 2018
Faltam medicamentos em muitas farmácias públicas na província nortenha do Niassa. E a procura é cada vez maior. A alternativa são as farmácias privadas, inalcançáveis para a maioria da população.
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A falta de medicamentos nas farmácias públicas na província do Niassa preocupa os pacientes nesta parte do norte de Moçambique. Agostinho Segundo é um dos que se mostra agastado com a situação e conta o seu caso: "É complicado, imagina, eu sofri esta lesão e o comprimido mais importante [para curar] não existe. Procurei saber lá na farmácia onde posso adquirir o medicamento, mas dizem que não sabem . É tudo muito complicado”.
Lucia Aide é uma das pacientes que precisou comprar medicamentos para tratar da sua filha e conta o drama vivido na farmácia: "Só consegui dois tipos de medicamentos e o resto vou ver se encontro na farmácia privada. Não há medicamento, mas quero salvar a vida da minha filha. Vou tentar vender feijão ou milho para conseguir salvar a vida da milha filha, se não fizer isso acabamos por perder a pessoa."
Reposição do stock feita, mas...
Moçambique: Farmácias públicas sem medicamentos no Niassa
José Manuel, o diretor provincial de saúde do Niassa, falando nesta segunda-feira (26.11.) na cidade Lichinga no ato da receção e descarregamento dos medicamentos vindos do depósito regional do norte, disse que a rotura de medicamentos nas farmácias do Niassa se deve à grande procura por parte dos pacientes nas unidades sanitárias.
"Um aspeto que se coloca é a resposta a ser dada à procura. Por essas alturas a febre aumenta de tal forma que o consumo de alguns medicamentos também é maior. Mas atualmente esta situação já está ultrapassada porque acabamos de receber novos stocks", garante José Manuel.
A província do Niassa recebe medicamentos de três em trêsmeses mas emquantidades insuficientes para responder à procura dos pacientes.
Nenhuma fonte ligada às farmácias no Niassa aceitou falar à DW África.
Mulala: Fazer a higiene oral com uma raiz
A mulala é uma raiz usada na higiene oral. É uma opção económica, mais comum em zonas rurais e entre idosos. Dentistas defendem benefícios da raiz, mas alertam para uso excessivo.
Foto: DW/S. Lutxeque
O que é a mulala?
A mulala é uma raiz utilizada na higiene oral e para clarear e fortificar os dentes. Em Moçambique, é particularmente usada em zonas rurais, como na região norte e grande parte da província central da Zambézia. O seu uso remonta a centenas de anos atrás, antes da produção de pastas dentífricas e escovas de dentes.
Foto: DW/S. Lutxeque
Ganhar a vida com a mulala
Fernando André é um vendedor de mulala da cidade Nampula. Conta que percorre longas distâncias, cerca de 70 quilómetros, para encontrar a raiz que lhe dá dinheiro. "A mulala que vendo trago do distrito de Murrupula, aqui na cidade é difícil encontrar. Mas fico feliz, porque apesar de não ter muitos clientes, consigo ter dinheiro para sustentar a minha família", conta.
Foto: DW/S. Lutxeque
Cascas em vez de pasta dos dentes
As cascas são raspadas e podem ser moídas para servir de susbtituto à pasta dentrífica. Tal como a pasta comercializada, atuam na limpeza dos dentes, gengivas e língua.
Foto: DW/S. Lutxeque
Um pau transformado em escova
A ponta da mulala pode ser transformada em escova. Esta é, por isso, uma planta muito completa para uma boa saúde oral: a casca garante os benefícios de uma pasta dentrífica e o pau pode ser usado para escovar.
Foto: DW/S. Lutxeque
Uma opção económica
Uma pasta de dentes custa entre 50 a 70 meticais (0.70€ - 0.90€). A mulala é barata. Um pauzinho custa entre 5 e 15 meticais (0.07€ - 0.20€), dependendo do tamanho e da qualidade. Quanto mais amarela a cor, melhores são as propriedades dentríficas da mulala.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mais comum entre os mais idosos
Com a exceção do fluór, cuja função é fortalecer os dentes, a mulala tem as mesmas propriedades de uma pasta dentrífica, de acordo com médicos dentistas ouvidos pela DW África. Mas, nas zonas urbanas, a mulala tende a ser pouco usada. Os poucos que aderem são os mais idosos.
Foto: DW/S. Lutxeque
Hábito de usar a mulala
Os mais novos não usam tanto a mulala, em parte, por vergonha. Não é o caso de Ana Manuel Paulo, de 37 anos. "Eu uso normalmente a mulala e gosto muito. Além de deixar os meus dentes limpos, também pinta os meus lábios e nem preciso de usar batom", explica.
Foto: DW/S. Lutxeque
Prática transmitida entre gerações
Vânia José usa mulala, mas não de forma constante. "Quando tenho problemas de gengivas, uso a mulala, aprendi com a minha avó. Sempre que vou fazer compras ao mercado grossista do Waresta compro mulala para a minha avó, ela adora. Quando não encontro, até me sinto mal", conta.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mulala sim, mas com conta, peso e medida
Diz o ditado que "tudo o que é demais, faz mal" e a mulala não é excepção. Segundo o médico dentista Belmiro Bonifácio, se usada de forma exagerada, a mulala pode causar lesões ou feridas na mucosa oral (a pele da boca).