Filha de Chang compra apartamento de luxo na África do Sul
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7 de fevereiro de 2019
Segundo o CIP, a filha de Manuel Chang terá adquirido um luxuoso imóvel em Sandton, zona luxuosa de Joanesburgo, na África do Sul. Manuela Chang, de 33 anos, é empresária e atua em vários setores, incluindo imobiliário.
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Documentos da escritura pública de compra e venda e transferência do imóvel na posse do CIP, Centro de Integridade Pública, mostram que a filha do deputado da FRELIMO e ex-ministro das Finanças Manuel Chang pagou 5,5 milhões de rands em outubro de 2017 pelo imóvel de 121 metros quadrados no edifício Michelangelo Towers em Sandton, Joanesburgo.
O edifício está localizado em Sandown extension 49 Township, considerada a área com o metro quadrado mais caro de toda a África.
A escritura de compra e venda e transferência de posse do imóvel foi intermediada pela Van Zyl Hertenberger Inc, representada pela advogada Sanet Esther Van Zyl. O escritório em referência é considerado como um dos mais reputados na prestação de serviços de assistência legal em matéria fiscal.
Presente de aniversário
No dia 6 de junho de 2018, Manuela Solange de Martins Chang completou 33 anos de idade. Seis dias depois, a 14 de junho de 2018, obteve "como presente” de aniversário o referido imóvel, destacando-se que se trata de um dos mais caros destinados para habitação em toda África. O apartamento foi adquirido a 30 de outubro de 2017, tendo a escritura pública sido concluída em Pretória, capital da África do Sul.
Documentos dos Serviços Tributários da África do Sul atestam que a filha de Manuel Chang declarou ter adquirido o imóvel, apresentando-se como solteira, com passaporte moçambicano número 13AE16325.
Pela compra do imóvel, a jovem Manuela pagou de direitos fiscais na vizinha África do Sul, a módica quantia de 438 mil randes.
O apartamento localizado na secção 507 da Michelangelo Towers pertencia a Black Ginger 15 Proprietary Limited que, para efeitos da sua venda foi representada por Rafik Mohamed. Por sua vez, Rafik Mohamed nomeou 4 advogados, Antony Muray Theron, Mpho Piet Moya, Petrus Jacobus Lotter e Willem Jacobus Hefer como representantes da empresa na venda do imóvel para a filha de Manuel Chang. Foi Mpho Piet Moya quem assinou a escritura da compra e venda.
Em Moçambique,o nome do seu pai está associado as dívidas ilegais, avaliadas em cerca de dois mil milhões de dólares. Nos Estados Unidos da América é acusado de ter cometido crimes financeiros que estão também relacionados as dívidas ocultas moçambicanas. Neste momento está detido na África do Sul, onde aguarda extradição para os EUA ou para Moçambique, segundo pedido feito pela justiça dos dois países.
A empresária Manuela Chang
Manuela Solange Martins Chang é empresária com cerca de meia dúzia de empresas registadas em seu nome na Conservatória do Registo das Entidades Legais em Moçambique. É mulher de Ingilo Dalsuco, mais conhecido por Gilito Dalsuco, um jovem considerado "bon vivan", famoso nas redes sociais pela postagem de fotografias que retratam a vida de luxo que ostenta, tanto em Moçambique como fora do país.
Em nome de Manuela Chang estão registadas empresas de diferentes ramos, desde o comércio, incluindo o setor imobiliário, carpintaria, importação e venda de medicamentos e gestão de participações financeiras.
As empresas de Manuela Chang
A primeira empresa que consta dos registos legais a favor de Manuela Chang é denominada Tupann Med, Limitada, criada em janeiro de 2008, dedicada à importação, exportação, distribuição e comercialização de equipamentos de laboratório e seus acessórios.
Em abril de 2010, Manuela Solange registou uma segunda empresa, a Quality Electrónica Limitada, dedicada à montagem de vedação eléctrica, câmaras de segurança, alarmes de intrusão, alarmes para viaturas, intercomunicadores, motores para portas elétricas e assistência técnica aos respetivos equipamentos.
Em 2011, registou mais uma empresa, desta vez a Empresa Kulhula Limitada, vocacionada para o mercado imobiliário e de construção civil.
Em 2013, Manuela Solange de Martins Chang constituiu outra empresa, na qual ela e o seu filho menor de nome Apoim Manuel Chang dos Santos são únicos sócios. A empresa denomina-se M.C. Imobiliária e Serviços, Limitada e tem como objeto a implementação, gestão, desenvolvimento e exploração de projetos imobiliários.
Em 2016 registou mais duas empresas, primeiro a Mozcarp, Limitada, dedicada a serviços de carpintaria e de seguida a Meinvest Limitada, de gestão e participação financeira. Nestas duas, tem como sócio o seu marido Ingilo Nortamo Dalsuco.
Alega-se, nos meios forenses que, parte do dinheiro proveniente das famigeradas "dívidas ocultas” foi usado para investimentos no sector imobiliário dentro e fora do país, tendo sido usados como "testas de ferro” familiares dos implicados.
Fonte: CIP, Centro de Integridade Pública
Maxixe: Obras sem qualidade são adjudicadas por milhões
Em Maxixe, Moçambique, somam-se os casos de obras públicas sobrefaturadas. A DW África juntou exemplos de obras cujo processo de adjudicação não foi transparente e nas quais os orçamentos foram inflacionados.
Foto: DW/L. da Conceição
Favorecimento na seleção das empresas
Em Maxixe, parte das obras de construção civil têm sido adjudicadas à empresa SGI Construções Lda. que não se encontra registada no Boletim da República e que apenas tem escritórios em Maputo. A empresa, com laços fortes com o Presidente do município, Simão Rafael, faturou, nos últimos dois anos, mais de 30 milhões de meticais (cerca de 427 mil euros) em obras que até hoje ainda não terminaram.
Foto: DW/L. da Conceição
Falta de transparência
Como se vê na imagem, para além de não se saber a data do início desta obra, não se conhece o fiscal nem a distância exata para a colocação de pavés. Sabe-se apenas que tem um prazo de execução de 90 dias.
Foto: DW/L. da Conceição
Figuras ligadas à FRELIMO criam empresa
Esta obra, orçada em mais de sete milhões de meticais, foi adjudicada à MACROLHO Lda, uma empresa com sede em Inhambane e que tem, segundo a imprensa local, participações de sócios ligados ao partido FRELIMO, como o ex-governador de Inhambane, Agostinho Trinta. Faturou, nos últimos dois anos, mais de 40 milhões de meticais em obras que, até agora, ainda não foram entregues. O prazo já expirou.
Foto: DW/L. da Conceição
Obras faturadas e abandonadas
Esta via é a entrada do bairro Eduardo Mondlane. Desde 2016, o munícipio já gastou na reparação desta estrada - com cerca de 200 metros -, mais de quatro milhões de meticais. Até à data, apenas foram executados 150 metros. Ao que a DW África apurou, o empreiteiro apenas trabalha nos dias de fiscalização dos membros da assembleia municipal. O dinheiro faturado dava para pavimentar mais de 1 km.
Foto: DW/L. da Conceição
Obras sobrefaturadas
Este é o estado atual de várias obras na cidade de Maxixe. Na imagem, a via do prolongamento da padaria Chambone, foi faturada em mais de cinco milhões de meticais (cerca de 71 mil euros) no ano de 2016. No entanto, esta mesma obra voltou a ser faturada este ano, não tendo o valor sido tornado público.
Foto: DW/L. da Conceição
Obras sem qualidade
Desde o ano de 2015, o conselho municipal da cidade de Maxixe já gastou mais de 10 milhões de meticais (cerca de 142 mil euros) com as obras de reparação de buracos nas avenidas e ruas do centro da cidade. No entanto, o trabalho não tem qualidade e os buracos continuam a danificar carros ligeiros. O empreiteiro desta obra é também a SGI Construções Lda.
Foto: DW/L. da Conceição
MDM denuncia corrupção
A bancada do MDM na assembleia municipal de Maxixe denunciou que as viaturas adquiridas pela edilidade não estão a ser compradas em agências, mas no mercado negro em África do Sul. Diz a oposição que as últimas duas viaturas adquiridas custaram mais de sete milhões de meticais. Um preço quatro vezes superior, quando comparado ao valor das duas viaturas no mercado em Moçambique.
Foto: DW/L. da Conceição
“Não interessa qualidade, queremos faturar”
Jacinto Chaúque, ex-vereador do município de Maxixe, está a ser investigado pelo Gabinete de Combate à Corrupção de Moçambique. Da investigação consta, entre outros, uma gravação telefónica entre Chaúque e o empreiteiro desta obra, na avenida Ngungunhane, e em que o ex-vereador afirma que “não interessa a qualidade. Queremos faturar nestas obras”. Chaúque está a aguardar julgamento.
Foto: DW/L. da Conceição
Preços altos nas construções de edifícios
Em 2015, o conselho municipal de Maxixe construiu um posto policial no bairro de Mabil. Esta infraestrutura - com apenas dois quartos, uma sala comum e uma cela com capacidade para cinco pessoas – custou mais de 1,3 milhões de meticais, não contando com a aquisição de material como mesas ou cadeiras. Ao que a DW África apurou junto do mercado, esta obra não custaria mais de 300 mil meticais.
Foto: DW/L. da Conceição
Um milhão de meticais por cada sede do bairro
As sedes dos bairros são outro exemplo. Todas as sedes dos bairros construídas pelo conselho municipal contam com a mesma planta. Cada uma custou cerca de um milhão de meticais (cerca de 14 mil euros). O preço real de mercado para uma casa tipo dois, sem mobília de escritório, é de cerca de 300 meticais.
Foto: DW/L. da Conceição
Empreiteiro exige dinheiro de volta
O empreiteiro Ricardo António José reclamou, em 2015, a devolução do dinheiro que foi exigido pelo ex-chefe da Unidade Gestora Executora e Aquisições, Rodolfo Tambanjane. O montante pago por Ricardo José era referente ao valor da comissão de Tambanjane por ter selecionado esta empresa e não outra. Rodolfo Tambanjane foi preso, tendo saído depois de pagar caução. O caso continua em tribunal.