Filho de Dhlakama vai concorrer às presidenciais de 2024
Lusa
11 de setembro de 2020
Henriques Afonso Dhlakama, filho mais velho do antigo líder da RENAMO, anunciou esta sexta-feira (11.09) a sua candidatura às presidenciais de 2024, dizendo que pretende evitar que o país entre "num precipício".
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Henriques Dhlakama anunciou a sua participação na corrida eleitoral, que se vai realizar dentro de quatro anos, numa declaração na sua página da rede social Facebook. A agência de notícias Lusa tentou contactar o candidato, mas sem sucesso.
A candidatura foi confirmada à Lusa por uma fonte partidária, apesar de o novo candidato não fazer referências a partidos no seu anúncio. "Estamos à beira de um precipício e é altura de os moçambicanos reagirem com a ferocidade que se lhes conhece ao longo da sua história", refere, na declaração.
Henriques Dhlakama considera que Moçambique está mais de 50 anos atrasado em relação a outros países e funciona com instituições corruptas. Os moçambicanos devem rejeitar a estagnação, o imobilismo e o conformismo e provarem que são capazes de superar as dificuldades, diz.
"Cabe agora às atuais gerações, no seu amor pelo país, com fé e ombro a ombro, com os seus irmãos e irmãs, travar o maior combate na história deste país: o combate pela justiça e igualdade e por um futuro que pode ser esplendoroso", avança, na declaração.
Moçambique: Um ano após a morte de Afonso Dhlakama
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Heroísmo moçambicano
O primogénito de Afonso Dhlakama assinala que na sua história Moçambique já conheceu tempos de extrema violência, dificuldades e miséria, mas soube resistir. "Não há maior heroísmo que esse, de ver a fera da guerra e da barbaridade e dos desastres naturais a abater-se sobre nós e, resistindo, voltar à luta e gritar: nunca seremos vencidos. Nunca iremos desistir!", refere.
Henriques Afonso Dhlakama assume-se como candidato de todos os moçambicanos e considera que o país está farto do atual rumo.
"Tenho a absoluta certeza de que os moçambicanos querem mudar e estão fartos. Fartos de sofrer e ver morrer as suas crianças, de não ter o que comer, de não conseguir ter acesso a uma assistência digna na saúde, de não conseguir ter dinheiro para estudar e não ter emprego e de guerras e conflitos", diz.
Está na altura, prossegue, de os líderes pensarem no povo e de abdicarem, caso não tenham capacidade de dialogar e agir.
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Vida política
O anúncio da candidatura presidencial de Henriques Dhlakama acontece depois de recentemente o filho do antigo líder do principal partido da oposição ter divulgado a intenção de participar na vida política ativa, "face aos pedidos insistentes por parte de atores políticos e sociais, nacionais e internacionais, bem como diversas fações da RENAMO".
Na mensagem, Dhlakama avança que "a decisão pessoal de participação na vida política ativa surge na sequência das divisões políticas no seio da RENAMO". O filho mais velho de Afonso Dhlakama refere que é também movido pela "extrema apreensão" em relação à situação política e de segurança no país.
Afonso Dhlakama dirigiu a Renamo durante 39 anos e morreu em 2018. A RENAMO, atualmente dirigida por Ossufo Momade, ainda não se pronunciou sobre o anúncio de Henriques Afonso Dhlakama.
Afonso Dhlakama, homem de causas
O percurso de Afonso Dhlakama enquanto político e militar quase se confunde com a história de Moçambique independente. Em nome da democracia não hesitou em entrar numa guerra. Herói para uns, vilão para outros.
Foto: picture-alliance/dpa
Dhlakama, um começo na FRELIMO que não vingou
Afonso Macacho Marceta Dhlakama nasceu a 1 de janeiro de 1953 em Mangunde, povíncia central de Sofala, Moçambique. Entra para a FRELIMO perto da época da independência em 1975, mas não fica muito tempo. Em 1976 sai do partido que governa o país para co-fundar a RNM (Resistência Nacional de Moçambique), um movimento armado, com o apoio da Rodésia do Zimbabué. O objetivo: por fim a ditadura.
Foto: Imago/photothek
Dhlakama: Desde cedo líder da RENAMO
A guerra civil entre a RNM, depois denominada RENAMO, Resistência Nacional de Moçambique, e o Governo começou em 1976. Dhlakama assume a liderança da RNM depois da morte de André Matsangaíssa em combate em 1979. Já era líder quando o primeiro acordo que visava por fim a guerra foi assinado entre o Governo e o regime do apartheid na África do Sul em 1984. Mas o Acordo de Inkomati fracassou.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
AGP: Democracia entra no vocabulário com Dhlakama
Depois de 16 anos de guerra Dhlakama assina com o Governo o Acordo Geral de Paz de Roma em 1992 no contexto do fim da guerra fria e do apartheid na África do Sul. Começa uma nova era para o país, depois de uma guerra que fez perto de um milhão de mortos e milhões de refugiados. A democracia passa então a fazer parte do vocabulário dos moçambicanos, com Dhlakama a auto-intitular-se o seu pai.
Foto: picture-alliance/dpa
O começo das derrotas de Dhlakama nas eleições
Moçambique entra para a era do multipartidarismo e realiza as suas primeiras eleições em 1994. Dhlakama e o seu partido perdem as eleições. As segundas eleições acontecem em 1999 e Dhlakama volta a perder, mas rejeita a derrota. E desde então não parou de perder, facto que provocou descontentamento ao partido de Dhlakama. Reclamava de fraudes e injustiças. E nasceram assim as crises com o Governo.
Foto: Reuters/Grant Lee Neuenburg
Dhlakama: O regresso às matas como estratégia de pressão
O regresso do líder da RENAMO à Serra da Gorongosa em 2013, um dos seus bastiões militares, foi uma mensagem inequívoca ao Governo da FRELIMO. Dhlakama queria mudanças reais, que passavam pelo respeito integral do AGP, principalmente a integração dos militares da RENAMO no exército nacional, e mudança da legislação eleitoral. Assim o país voltou a guerra depois de mais de vinte anos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Armando Guebuza e Dhlakama em braço de ferro permanente
A 5 de agosto de 2014 o então Presidente Armando Guebuza e Afonso Dhlakama assinaram um cessar-fogo. Estavam criadas as condições para o líder da RENAMO participar nas eleições gerais de outubro de 2014. Dhlakama e o seu partido participam nas eleições e voltam a perder. As crise volta ao rubro e Dhlakama regressa às matas da Gorongosa.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Emboscada contra Afonso Dhlakama
A 12 de setembro de 2015 a caravana em que seguia Afonso Dhlakama foi atacada na província de Manica. Ate hoje não se sabe quem foram os atacantes. A RENAMO considerou a emboscada como uma tentativa de assassinato do seu líder. A comunidade internacional condenou o uso da violência.
Foto: DW/A. Sebastião
Aperto ao cerco contra Afonso Dhlakama
No dia 9 de outubro de 2015, a polícia cercou e invadiu a casa de Afonso Dhlakama na cidade da Beira. As forças governamentais pretendiam desarmar a força a guarda do líder da RENAMO. Os homens da RENAMO que se encontravam no local foram detidos. A população da Beira, bastião da RENAMO, juntou-se diante da casa de Dhlakama manifestando o seu apoio ao líder.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Dhlakama e Nyusi: Menos mãos melhores resultados
O líder da RENAMO e o Presidente da República decidiram prescindir de mediadores e passaram a negociar o acordo pessoalmente. Desde então consensos têm sido alcançados, um deles relativo à revisão pontual da Constituição, no âmbito do processo de descentralização em fevereiro de 2018. A aprovação da proposta pelo Parlamento é urgente, pois as próximas eleições de 2018 e 2019 dependem dele.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
Dhlakama: Não foi a bala que ditou o seu fim
Na manhã de 3 de maio o maior líder da oposição em Moçambique perdeu a vida vítima de doença. Deixa aos seus correlegionários a tarefa de negociar outro ponto controverso na crise com o Governo: a desmilitarização ou integração dos homens armados da RENAMO no exército nacional. Há quase 40 anos à frente da liderança da RENAMO teve de negociar com todos os Presidentes de Moçambique independente.