O Presidente de Moçambique inaugurou esta segunda-feira (29.11) um aeroporto com o seu nome na província de Gaza. Nyusi está a ser acusado, entre outras coisas, de falta de humildade. O PR não é pioneiro desta prática.
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Localizado no distrito Chongone, o aeroporto "Filipe Jacinto Nyusi" foi financiado por fundos chineses e tem capacidade para receber perto de 220 mil passageiros por ano.
Nas redes sociais, o Presidente de Moçambique está a ser criticado por permitir que a infrastutura que inaugurou esta segunda-feira (29.11) tenha o seu próprio nome. Os moçambicanos entendem que se trata de um descaramento do seu lado, falta de humildade, entre outras coisas.
Argumentam que há moçambicanos com feitos que justificam merecer ter o nome em infrastruturas de grande dimensão. Este tipo de prática, entretanto, não começou com Filipe Nyusi, já Armando Guebuza assim o fez durante o seu mandato como Presidente de Moçambique.
Mais um elefante branco?
Também há moçambicanos que receiam que a infrastrutura venha a ser mais um elefante branco, à semelhança do aeroporto de Nacala. A infrastrutura até já foi usada para acolher eventos sem relação com o setor da aviação, como forma de tirar proveito do espaço.
Mas o ministro dos Transportes e Comunicações, Janfar Abdulai, garantiu a viabilidade da obra: "As potencialidades da província não deixam qualquer dúvida de que este aeroporto é viável", disse o governante, que o apresentou ainda como uma eventual alternativa ao aeroporto internacional de Maputo para algumas aeronaves.
Após a inauguração da infraestrutura, o chefe de Estado garantiu que "a sustentabilidade do aeroporto de Gaza não será garantida apenas pelo turismo. Não fizemos o aeroporto apenas pelo turismo".
Preços das passagens pela hora da morte
As críticas não se ficam por aqui: os preços das passagens aéreas praticados pelas Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) são exorbitantes. Nesta fase, a preço promocional, o bilhete de ida e volta custa 13.800 meticais, o equivalente a cerca de 185 euros. E a LAM praticamente tem o monopólio do mercado.
Para Filipe Nyusi, a província tem um forte potencial nos setores agrícola e de recursos minerais, o que deve ser aproveitado para rentabilizar a infraestrutura.
É o primeiro aeroporto da província de Gaza, sul do país, e custou cerca de 53,2 milhões de euros, valor atualizado hoje e revisto em baixa pelo chefe de Estado.
Tem uma pista de 1,8 quilómetros de dimensão e ainda não foram anunciados voos regulares. Mas, segundo fontes das empresas Aeroportos de Moçambique (ADM) e LAM, um dossiê nesse sentido está em preparação.
Os aeroportos dos presidentes em África
São uma espécie de monumento auto-instituído: vários líderes africanos construíram os seus próprios aeroportos em locais remotos. Hoje, são estruturas esquecidas, paralisadas ou dão grandes prejuízos.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
O aeroporto esquecido de uma capital esquecida
Nos anos 60, o Presidente Félix Houphouët-Boigny decidiu fazer da sua cidade natal, Yamoussoukro, a capital da Costa do Marfim. Construiu avenidas imponentes, uma enorme igreja, vários edifícios e um aeroporto. Tanto a cidade como o Aeroporto Internacional de Yamoussoukro acabaram por cair na insignificância. Hoje em dia, o aeroporto está praticamente abandonado.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
Perdido na selva
Também Mobuto Sese Seko, ex-Presidente da RDC, se instalou com toda a pompa e circunstância na sua cidade natal, Gbadolite, com três palácios e edifícios representativos. Há também um aeroporto, rodeado por floresta tropical. Não há indústria nem turismo nas redondezas e a capital, Kinshasa, fica a 1400 quilómetros. Mobutu e a mulher gostavam de voar de Gbadolite para Paris – num Concorde alugado.
Foto: Getty Images/AFP/J. Wessels
O ditador com a sua própria pista de aterragem
Mobutu foi também recebido pelo ditador da vizinha República Centro-Africana, Jean-Bedel Bokassa (segundo à direita). Na residência de Bokassa, a cerca de 80 quilómetros de distância, havia também uma pista de aterragem para passageiros. Há muito que Bokassa morreu e a sua pista desintegra-se – tal como os seus palácios.
Foto: Getty Images/AFP/OFF
Boas-vindas a um convidado alemão
Mesmo antes de se tornar um aeroporto internacional - a mando do antigo Presidente Daniel Arap Moi - o aeródromo de Eldoret, no centro-oeste do Quénia, recebia o chanceler Helmut Kohl, em 1987. Eldoret é o centro económico dos Kalenjin – o grupo étnico do Presidente Moi. Apesar do nome, o aeroporto serve apenas para voos domésticos.
Foto: Imago Images/D. Bauer
O aeroporto inviável do ex-Presidente da Nigéria
O ex-Presidente da Nigéria, Umaru Yar'Adua, também converteu o aeroporto da sua cidade natal, Katsina, em aeroporto internacional durante o seu mandato (2007-2010). Mas o projeto preferido do antigo Presidente, que morreu em 2010, não é rentável. O Governo está a ponderar a entrada da autoridade aeronáutica nacional na equipa de gestão do aeroporto de Katsina.
Foto: Getty Images/AFP/P. Utomi Ekpei
Rumo a Chato?
A companhia aérea tanzaniana Precision Air poderá voar em breve para Chato, cidade natal do Presidente John Magufuli. O chefe de Estado quer expandir este aeroporto para impulsionar o turismo. Mas uma comissão parlamentar apela à renovação das infraestruturas já existentes em vez de novos projetos. Apenas 5 dos 58 aeroportos e pistas de aterragem do país contribuem para o PIB, dizem os deputados.