Filipe Nyusi: RENAMO deve ser mais flexível no desarmamento
Lusa
8 de abril de 2019
Presidente moçambicano pede à nova liderança da RENAMO que seja "mais flexível" para "evitar frustração crescente" de guerrilheiros que aguardam reintegração.
Publicidade
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, pediu neste domingo (07.04) maior flexibilidade à Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, na concretização do acordo sobre desarmamento de guerrilheiros com vista ao alcance da paz no país.
"Apelamos à nova liderança da RENAMO no sentido de ser mais flexível, no mesmo espírito que culminou com a aprovação do pacote de descentralização", ainda com o antigo líder, Afonso Dhlakama, falecido em maio de 2018, referiu.
Um novo acordo de paz assenta em dois dossiês, a descentralização do poder e a desmilitarização, desarmamento e reintegração (DDR) dos guerrilheiros da RENAMO.
Sobre este último, foi assinado um memorando em agosto de 2018 por Filipe Nyusi e Ossufo Momade, novo líder do partido da oposição, e é sobre esse que o chefe de Estado pede maior flexibilidade, "de modo a evitar a frustração crescente da esperança de guerrilheiros que aguardam pela restauração das suas vidas", referiu.
Os guerrilheiros "depositam total esperança neste processo", disse Nyusi, acrescentando que o mesmo representa a "vontade de todo o povo moçambicano".
"O Governo já deu os passos acordados", no âmbito do memorando de assuntos militares, acrescentou.
Filipe Nyusi admitiu ainda haver interferências no processo negocial por parte de terceiros e apelou aos países interessados para que intervenham "através do grupo de contacto e não isolados", porque, "por vezes, agindo dessa forma, retrocedem o processo de paz em Moçambique".
Desarmamento concluído antes da campanha eleitoral?
Nyusi apelou à "conjugação de esforços" de todos, referindo que "muitas intervenções divergentes ou mesmo o surgimento de muitos conselheiros internos, que por vezes pretendem acomodar as vontades individuais, não estão a ajudar à implementação dos consensos plasmados no memorando de entendimento dentro dos prazos estabelecidos".
O ministro do Interior moçambicano disse na quinta-feira que o Governo fará tudo para que o desarmamento da RENAMO seja concluído antes do início da campanha para as eleições gerais de 15 de outubro - a campanha arranca a 31 de agosto.
Desde a assinatura do memorando de entendimento de agosto, o Governo enquadrou em lugares de comando e de chefia das Forças Armadas um total de 14 oficiais da Renamo e dez oficiais deverão ser integrados em postos da Polícia da República de Moçambique (PRM), tal como previsto no documento.
Filipe Nyusi: RENAMO deve ser mais flexível no desarmamento
O principal partido da oposição espera ainda que o executivo moçambicano aceite a integração de quadros da Renamo nos Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE), a secreta moçambicana.
Forças de segurança tomam base em Cabo Delgado
O chefe de Estado, Filipe Nyusi, discursava em Maputo por ocasião das celebrações do Dia da Mulher Moçambicana, quando saudou a "operação" que forças especiais realizaram no sábado e em que "atingiram uma base de malfeitores" no distrito de Macomia, província de Cabo Delgado.
As forças do Estado assaltaram a base "depois de dois combates" e conseguiram capturar membros dos grupos e recuperar bens, referiu, sem mais detalhes.
O anúncio do presidente moçambicano foi feito depois de, na sexta-feira, ter sido noticiado que dois soldados moçambicanos morreram após um ataque de grupos armados a uma base militar em Maculo, distrito de Mocímboa da Praia, na mesma província de Cabo Delgado.
O ataque durou perto de 15 minutos e ocorreu na noite de terça-feira, disseram fontes locais citadas pelo jornal eletrónico Carta de Moçambique.
Segundo as fontes, além de matar dois soldados, o grupo roubou uma "quantidade significativa" de material bélico, além de alimentos e uniformes militares.
Desde outubro de 2017, os ataques de grupos armados não identificados em Cabo Delgado, que tiveram origem em mesquitas, já provocaram, pelo menos, 150 mortos.
20 Anos de Paz em Moçambique: Uma viagem
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos.
Foto: Marta Barroso
A guerra presente todos os dias
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos. Joula estava grávida de oito meses quando uma mina anti-pessoal lhe arrancou um pé em 1991. Na noite anterior, a RENAMO tinha atacado a aldeia e plantado minas em redor.
Foto: Marta Barroso
De armas a enxadas... ou cadeiras
Desde 1996, o projeto "Armas em Enxadas" dá um novo destino ao material bélico que destruiu milhares de vidas durante a guerra civil. O objetivo da iniciativa, lançada pelo Conselho Cristão de Moçambique, é criar, com as armas, obras de arte com mensagens de paz. Muitas peças foram encontradas pelo país, outras foram recolhidas a privados.
Foto: Marta Barroso
Ataques inesperados
São as mesmas armas que há 20 anos eram usadas para atacar seres humanos como estes refugiados em Chamanculo, perto da capital, Maputo, em 1992. Chamanculo nunca recuperou da chegada de milhares de refugiados da guerra civil. Ainda hoje, é um bairro pobre. Foi aqui que nasceram figuras ilustres do país como Maria de Lurdes Mutola.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Ruas desertas em Maputo
A guerra, que se arrastou por 16 anos, atrasou o desenvolvimento do país. Também a vida social sofreu, até mesmo na capital. Engarrafamentos eram, durante a guerra e nos primeiros anos seguintes, algo raro como se pode ver nesta fotografia do centro de Maputo de 1992.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da guerra
Em 1990, Moçambique era considerado o país mais pobre do mundo. Em 2011, ocupava o lugar 184 entre 187 Estados no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD. 20 anos depois de assinada a paz, os moçambicanos continuam a viver, em média, 50 anos.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da paz
20 anos depois do Acordo Geral de Paz, ainda há muito que fazer no combate à pobreza em Moçambique. As províncias do Niassa, de Maputo, Cabo Delgado e Tete (na imagem) são, segundo o Programa da ONU para o Desenvolvimento, PNUD, as que têm maior incidência de pobreza no país.
Foto: Marta Barroso
Casa de Espera
Iniciativas como esta na aldeia de Vinho, no Parque Nacional da Gorongosa, província de Sofala, contribuem para diminuir a mortalidade infantil e materna. Atualmente, em Moçambique cerca de 500 mães morrem por cada 100 mil crianças nascidas vivas. Para evitar que isso aconteça na aldeia de Vinho, a Casa de Espera assiste as mulheres grávidas das redondezas na preparação dos partos.
Foto: Marta Barroso
Economia dominada por megaprojetos
A paz possibilitou megaprojetos, como o da exploração de carvão em Moatize, Tete. De futuro, a esperança é de que os rendimentos destes projetos beneficiem mais a população. Devido aos incentivos fiscais de que gozam as multinacionais ligadas a eles, o Estado moçambicano deixa de ganhar mais de 200 milhões de dólares por ano, segundo o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE).
Foto: Marta Barroso
Carvão, a euforia de Tete
74 toneladas de carvão já estão carregadas nesta transportadora que pode levar até 400 toneladas. O carvão da província central de Tete tem vindo a atrair investidores nacionais e internacionais à procura do "El Dorado" que tem limitado a diversificação da economia nacional na segunda década de paz em Moçambique.
Foto: Marta Barroso
Cahora Bassa...
Durante a guerra civil, as linhas de transmissão de Cahora Bassa foram alvo de ataques da RENAMO. Hoje, a barragem funciona em pleno. Cahora Bassa tem uma capacidade instalada de 2.075 megawatts, a maior parte da energia é exportada para os países da região: 70% para a África do Sul e 5% para o Zimbabué. Apenas um quarto da eletricidade aqui produzida é consumida em Moçambique.
Foto: DW/M. Barroso
... um elefante branco para esta área do país?
Ainda há poucas casas em redor de Cahora Bassa com acesso regular à eletricidade. Para o economista moçambicano Carlos Castel-Branco do IESE, dever-se-iam estender as bases do desenvolvimento do país às aldeias e vilas em torno da barragem para que também aqui a vida económica se transformasse num elemento de estímulo para o investimento.
Foto: Marta Barroso
Gentes ligadas
A reabilitação das infraestruturas permite agora uma maior mobilidade e fomenta o comércio interno. A linha férrea de Sena liga a província de Tete, no interior de Moçambique, à cidade portuária da Beira. No tempo da guerra civil, foi encerrada e acabou por ser completamente destruída. Nos últimos anos, o corredor ferroviário foi reabilitado para escoar sobretudo o carvão da região de Tete.
Foto: Marta Barroso
Gentes apertadas
O comboio é um dos meios de transporte mais baratos em Moçambique. Em fevereiro de 2012, a Linha de Sena abriu a passageiros em toda a sua extensão. A reconstrução foi feita por troços e acabou por tomar muito mais tempo que o previsto, porque o consórcio indiano responsável pelas obras não cumpriu diversos prazos. Grande parte do dinheiro veio do Banco Mundial.
Foto: Marta Barroso
Há esperança em Moçambique
Idalina Melesse viajou de comboio pela primeira vez em 2012. Durante a guerra civil, os ataques impediram-na de se mover dentro do país. Desde então e até à reabertura da Linha de Sena, não tinha tido dinheiro para longas viagens. A Linha de Sena e outras infraestruturas não só unem moçambicanos, mas devolvem-lhes a liberdade de movimento e a facilidade de comunicação confiscadas pela guerra.