O preço dos bens alimentares registou uma subida generalizada em vésperas de fim de ano em Moçambique. O frango, o óleo e os ovos são os produtos mais procurados e foram também os que ficaram mais caros.
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Em Maputo, no mercado informal da Praça dos Combatentes, vulgo Xiqueleni, Rachid Sigauque faz compras para as festas do fim de ano, mas admite estar "assustada" com o preço do quilo de frango que está quase nos 5 euros.
"Nestes dias não está a andar muito bem, porque os preços tiveram a tendência de aumentar, então para os consumidores está a ser muito difícil fazer o seu rancho", disse à DW.
A vendedora de frangos Sara Massingue justifica a subida com os custos da criação. "A criação não está fácil, o preço do frango está mais alto, o próprio pinto subiu, a ração não está fácil", relatou. "A procura é menor e o cliente reduziu a quantidade das compras. O cliente que levava dez agora reduziu", admitiu a comerciante.
Má-fé dos agentes económicos
O economista Elcídio Bachita justifica a alta subida de preços neste período do ano com a má-fé por parte de quem vende. "Há uma tendência generalizada por parte dos agentes económicos que querem a todo o custo fazer a maximização de lucros prejudicando o consumidor e isto acaba por criar uma subida de preços", comentou.
Mas não foi apenas o frango que ficou mais caro. Um favo de ovos custa agora o equivalente a 5 euros e cinco litros de óleo chega a valer 7 euros.
No mercado Grossista do Zimpeto, o inspetor nacional das Atividades Económicas, Gabriel Chongo, diz ter havido uma variação dos preços e descarta a existência de especulação.
"Digo variação, porque muitas vezes temos dito que qualquer subida do preço é especulação do preço. Não constitui especulação do preço quando o produto em causa extravasa o limite das margens máximas estipuladas pela lei", considerou.
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Mais fiscalização
O economista Elcídio Bachita diz que por estas alturas a Inspeção Nacional das Atividades Económicas (INAE) tem de apertar o cerco aos especuladores, não apenas pelos elevados preços que se praticam nos mercados.
"Mas também no que diz respeito à própria quantidade que é vendida aos consumidores", indicou.
"Por vezes os consumidores são burlados por agentes económicos porque viciam máquinas de pesagem, o que acaba por prejudicar o consumidor", advertiu.
O economista refere ainda que o país é penalizado nos preços dos produtos alimentares básicos por não ter capacidade de produção local.
"Isto é característica da nossa economia, porque noutros países regista-se uma descida significativa dos preços de bens uma vez que as autoridades e agentes económicos nesses países procuram brindar os consumidores com preços relativamente mais baixos", concluiu.
Custo de vida aumenta em Inhambane
Em Moçambique, a crise económica afetou a vida de comerciantes e clientes, que reclamam dos altos preços. Saiba como os moçambicanos na província de Inhambane, no sul do país, sobrevivem apesar da crise.
Foto: DW/L. da Conceição
"Estamos cansados"
Os moçambicanos e, em particular, os residentes da província de Inhambane, estão ansiosos para ver o fim da crise financeira que o país atravessa, também relacionada com a desvalorização do metical, a moeda local. Manuel Santos, um vendedor de chinelos femininos nas ruas da cidade de Maxixe, conta-nos que está cansado de passar horas a trabalhar debaixo do sol, exposto a vários perigos.
Foto: DW/L. da Conceição
Buscar sustento para a família
António Macicame, residente de Inhambane, fabrica cestos de palha para conseguir algum dinheiro que o permita sustentar a sua família. São ao todo cinco pessoas. Ele diz que não tem sido fácil conseguir vender os seus cestos e por isso circula nas ruas e avenidas para conquistar os clientes.
Foto: DW/L. da Conceição
Onde estão os clientes dos supermercados?
Os clientes desapareceram das lojas e supermercados nestes últimos anos devido ao elevado custo de vida. As compras diminuíram consideralvemente e os supermercados são apenas frequentados pelas famílias quando fazem compras para cerimónias especiais. Muitos preferem comprar nas ruas.
Foto: DW/L. da Conceição
Roupas em segunda mão
Em várias partes da cidade, nos passeios e nas calçadas, há roupas em segunda mão à venda. Por causa do aumento dos preços das roupas importadas da Europa e Ásia, os habitantes de Inhambane passaram a frequentar menos as boutiques modernas, comprando mais roupas usadas. Uma peça usada pode ser vendida por menos de um euro. Já nas boutiques, o preço mínimo é de 10 euros.
Foto: DW/L. da Conceição
Menos pão na mesa
Também várias padarias estão vazias e sem clientes nos balcões. Muitas famílias têm optado por consumir produtos mais frescos e nutritivos, como a mandioca e a batata doce, substituindo o pão na mesa, por estar cada vez mais caro.
Foto: DW/L. da Conceição
Os vários preços do frango
O frango ainda é o prato preferido de muitas pessoas na província de Inhambane, mas os preços variam. O preço mínimo é de cerca de 280 meticais e nas zonas rurais chega a custar 400 meticais, ainda vivo. Preparado nos restaurantes, um prato de frango custa no mínimo 500 meticais. Jovens e senhoras viram uma oportunidade de negócio em vender frangos vivos para terceiros nas ruas e quintais.
Foto: DW/L. da Conceição
Compra-se menos
Devido à crise, compra-se menos produtos de primeira necessidade nas várias comunidades circunvizinhas às cidades. Antes, as viaturas que partiam voltavam cheias, mas atualmente poucos comerciantes vão até às cidades para fazer grandes compras.
Foto: DW/L. da Conceição
Crise na hotelaria e turismo
A hotelaria e o turismo têm sido fundamentais para o desenvolvimento. O Governo moçambicano afirma que houve melhoras nos últimos dois anos. Mas, na realidade, o cenário que se nota é de um fraco número de clientes. Há hotéis que não recebem mais de dez hóspedes no período de um mês - mesmo oferecendo preços promocionais. Por isso, acabam por demitir muitos dos seus trabalhadores.
Foto: DW/L. da Conceição
Crise nos transportes
Muitas pessoas já não viajam com regularidade. Hoje, delega-se alguém de confiança até mesmo para se receber os salários nos distritos onde não há bancos. O objetivo é poupar o dinheiro dos transportes. Os transportadores, por sua vez, dizem que as suas receitas diárias baixaram em 50%.
Foto: DW/L. da Conceição
Salões de beleza vazios
Salões de beleza tem sido caraterizados pelo fraco movimento de clientes. O aumento do custo de vida - e também dos preços de produtos de beleza - afetou a vida de muitas mulheres. Elas poupam dinheiro para comprar produtos da primeira necessidade e já não frequentam salões de beleza como antes. Para essas mulheres o dilema é: comer ou viver de beleza?
Foto: DW/L. da Conceição
"Não é tempo de cruzar os braços"
Cecília Jasse vende bolinhos e pão, juntamente com outras senhoras no mercado central na cidade de Maxixe. Enquanto o seu marido é trabalhador sazonal numa empresa, ela compra pão numa das padarias locais para revender. Acorda de madrugada para fritar bolinhos e diz que não quer ficar em casa à espera do marido. Para ela, "não é tempo de cruzar os braços".