A situação é grave na província de Inhambane, sul de Moçambique. As campanhas agrícolas são um fracasso e há milhares de famílias a passar fome. O governo assegura que já tem um plano para responder aos problemas.
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Os agricultores dizem que, nas últimas campanhas agrícolas, pouco ou nada colheram. Helena Luís, uma camponesa no distrito de Massinga, contou à DW que está a passar por dias difíceis para comer.
"Na machamba, a couve está estragada. Não se aproveita nada. Mesmo o repolho está muito roto, o amendoim e o milho morreram sem produzir, a mandioca pior – semeámos, mas não saiu nada. Fui arrancar mudembe [folhas de batata doce] para vir cozinhar com tomate", relata.
José Bambo, outro camponês em Morrumbene, diz que cada dia é um drama. "Milho, não há nada, por causa da seca. Só agora é que estamos a cultivar arroz. Há muita fome mesmo, não há nada - nem dinheiro, nem emprego, nem para sustentar as crianças na escola. É difícil. Nem sequer há um apoio aqui", lamenta.
"É só miséria"
Maria Daimone, outra camponesa de Inhambane, acrescenta que, nas lojas, está tudo caro. Diz que já apanhou 25 quilos de arroz a 1.300 meticais (o equivalente a 15 euros). E o salário, às vezes, não chega aos 1.500 meticais (cerca de 17 euros).
Profissionais de saúde sem material para prevenir Covid-19
01:24
"Ainda está grave, há fome bem mesmo. Nas machambas, não temos produção, todas as coisas só nas lojas e as coisas estão caras. Vai fazer o quê? É só miséria e estamos a sofrer", conta à DW.
Em junho, o governo provincial estimava que mais de 60 mil famílias estão em situação de fome. Novos números deverão ser anunciados no final de outubro, no lançamento da campanha agrícola 2020/2021.
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Governo tem plano para controlar a fome
O governo assegura que já tem na manga um plano para controlar a situação da fome nesta região de Moçambique, porque as alterações climáticas afetam cada vez mais os camponeses.
"O governo deve abrir mais furos de água e poços, já não deverá haver uma chuva grande como fazia antigamente para produzir milho e mapira, temos de fazer trocas comerciais. Então, vamos semear, mas sem grande esperança, porque a chuva não cai", explica Filomena Maiope, diretora provincial de Agricultura e Segurança Alimentar em Inhambane.
Albino Saíde, presidente da União dos Camponeses em Inhambane, olha para o projeto "Sustenta" com alguma esperança. O "Sustenta" é um programa do Governo que prevê ajudar os pequenos agricultores a integrar a cadeia de valor de produção.
Segundo Saíde, uma das prioridades deve ser melhorar os sistemas de irrigação nas machambas. Mas falta a "luz verde" das autoridades. "O ano não foi produtivo devido à falta de precipitação uma vez que muitos dos camponeses da província ainda não estão munidos de sistemas de rega, porque em relação ao próprio 'Sustenta', ainda não tivemos capacitação. A União Provincial, assim como as suas delegações distritais, ainda não foram notificadas para fazer parte disto", revela.
De capulanas a máscaras: alfaiatarias de Moçambique inovam em tempos de Covid-19
Em Moçambique, a grande procura levou muitas pessoas a investirem na produção e no comércio de máscaras faciais feitas de capulana.
Foto: DW/R. da Silva
As máscaras de capulana
As pessoas procuram pelas máscaras na tentativa de conter a propagação do coronavírus no país. O uso da máscara é também uma recomendação do Governo e, em alguns casos, obrigatório. As müascaras feitas de capulana estão a ganhar o mercado, conquistar os clientes e render um bom dinheiro.
Foto: DW/R. da Silva
Nova utilidade da capulana
É a capulanas como estas que muitos produtores recorrem para fabricar o seu mais novo produto: máscaras faciais. A capulana passou a ter mais esta utilidade por causa do coronavírus. O preço da capulana continua a ser o mesmo, custando entre o equivalente a 1,20 a pouco mais de 4 euros, dependendo da qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Tradição em capulanas
Na baixa de Maputo, a "Casa Elefante" é uma das mais antigas casas de venda de capulana da capital moçambicana. Vende variados tipos do produto. São muitas as senhoras que se deslocam ao local para a compra deste artigo para a produção das máscaras. As casas de venda de capulana passaram a ter muita afluência para responderem à grande procura pelos artigos por causa do coronavírus.
Foto: DW/R. da Silva
Produção caseira
Esta alfaiataria caseira funciona há cerca de 15 anos, em Maputo. Antes, a proprietária dedicava-se a costurar uniformes escolares. Por causa do coronavírus, passou a investir mais na produção de máscaras. Ela vende aos informais a um preço de 0,20 euros cada unidade.
Foto: DW/R. da Silva
Aproveitar a demanda
A alfaiataria da Luísa e da Fátima dedica-se à produção de vestuário de noivas e não só, mas também à sua consertação. Quando começou a procura pelas máscaras de produção com recurso à capulana, as duas empreendedoras tiveram que redobrar os esforços para produzi-las sem pôr em causa a confecção habitual. O rendimento diário subiu de cerca de 40 euros para 60 euros, dizem.
Foto: DW/R. da Silva
Produção a todo o vapor
Estes alfaiates, no mercado informal de Xiqueleni, costumam dedicar-se ao ajustamento de roupas de segundam mão, compradas no local. Mas devido à intensa procura pelas máscaras, dedicam a maior parte do tempo a produzir estes protetores faciais à base da capulana. Também eles estão a aproveitar a grande demanda pelo acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Informais a vender máscaras
Desde que o Governo determinou a obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes e aglomerações, há pouco mais de uma semana, muitos vendedores informais, mulheres e homens, miúdos e graúdos compraram-nas para a posterior revenda. Um dos principais locais para a venda ao consumidor final são os terminais rodoviários.
Foto: DW/R. da Silva
Máscara para garantir a viagem
Os maiores terminais rodoviários, como por exemplo a Praça dos Combatentes, são os locais de aglomerados populacionais e onde muitos cidadãos acorrem para comprar as máscaras caseiras. Quando um passageiro não tem a máscara, sabe que pode encontrar o produto sem ter que percorrer longas distâncias e garantir o embarque nos meios de transporte.
Foto: DW/R. da Silva
Grande procura em Maputo
Neste "Tchova", carrinho de tração humana, há vários artigos. Os clientes estão a apreciar as máscaras, e não só, que o vendedor informal exibe. Os clientes referem que compram as máscaras não só para evitar a propagação do coronavírus, mas também porque os "chapeiros" exigem o uso das mesmas, sob pena de não permitirem a viagemm de quem não tiver o acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Bons rendimentos
Os vendedores informais aproveitam a muita procura pelas máscaras caseiras para juntar ao seu habitual negócio. Jorge Lucas, além de vender acessórios de telefones, diz que "há muita procura" pelas máscaras feitas de capulana e que este negócio está a render "qualquer coisa como 20 euros por dia".
Foto: DW/R. da Silva
Quase 20 euros por dia
António Zunguze vende uma máscara pelo valor equivalente a 0,80 euros. Por dia, diz que consegue levar para casa o equivalente a quase 20 euros e explica que a procura é muita nos mercados informais. António compra as máscaras nas alfaiatarias e vai, posteriormente, revendê-las nos terminais de semi-coletivos.
Foto: DW/R. da Silva
Propaganda, "a alma do negócio"
Este jovem montou um megafone para anunciar que, além das sandálias, já tem igualmente máscaras para a venda. Na imagem, as máscaras podem ser vistas no topo da sombrinha e o megafone instalado no muro. O jovem refere que na sua banca não tem havido muita procura, mas acredita que melhores dias virão.
Foto: DW/R. da Silva
Máscaras até nos salões de beleza
Alguns salões de beleza também não perderam a oportunidade e estão a revender as máscaras. Neste salão, já não há clientes devido ao período de restrições para conter a propagação do coronavírus. O salão também investe na venda de máscaras feitas de capulana.