Desconhecido na política, Hélder Mendonça é o candidato do PODEMOS às presidenciais, em Moçambique. Sobrinho de Francisco Manyanga, histórico da FRELIMO, o candidato distancia-se do capital político do tio.
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Hélder Mendonça é o candidato do partido moçambicano PODEMOS às presidenciais de 15 de outubro, em Moçambique. Estrategicamente não discute sobre as suas táticas e nem sobre a data da formalização da sua candidatura. É sobrinho de Francisco Manyanga, um renomado militante da FRELIMO, o partido no poder, já falecido, mas distancia-se do seu capital político.
Desconhecido até agora na arena política, Hélder Mendonça foi eleito num grupo composto por três candidatos, durante a primeira sessão do Conselho Central Partido Otimista pelo Desenvolvimento de Moçambique, o PODEMOS.
Em entrevista à DW África, o candidato ao cargo de Presidente da República falou sobre a sua pessoa.
DW África: Candidatar-se à Presidência de Moçambique era um sonho seu?
Hélder Mendonça (HM): Não. Com toda a honestidade, todos sonhamos. Porém, apesar de perceber que comecei a ganhar interesse pela política já algum tempo. Mas, com todo respeito, não tinha pensado em quaisquer hipóteses de candidatura neste momento ou neste ano. Portanto, nunca tive o sonho de ser Presidente, mas há sempre na vida das pessoas um delírio que acaba permanecendo. E há coisas que a gente quer fazer e a vida termina sem sequer conseguirmos fazê-las.
DW África: De onde é que surgiu esta ideia de candidatura? Foi uma ideia do PODEMOS?
HM: Neste momento, eu reflito apenas a vontade do PODEMOS. E estou a proceder uma ação que é o desejo dos membros do partido neste momento.
DW África: O senhor já foi membro da FRELIMO?
HM: Não. DW África: E onde é que surgiu a ligação ao PODEMOS?
Moçambique: “Não acho que Francisco Manyanga seja um elemento para impulsionar o meu capital político”, diz Hélder Mendonça
HM: A minha ligação ao PODEMOS surgiu pela visão que o partido tem. E espelhei-me muito naquilo que são os ideais do partido. Portanto, percebi que é um partido que reflete, discute ideias, abre espaço para discussão. Há quem possa pensar que é uma ação típica de um embrião, mas se dermos continuidade a esta postura, pensamos que poderemos, sim, conquistar o nosso espaço na arena política moçambicana. E, de alguma formar, procedermos com alguma diferença.
DW África: Normalmente, para esse cargo, candidatam-se figuras com algum capital político - o que não é o seu caso. O capital político ou o apelido do seu tio, Francisco Manyanga, neste caso, é o seu capital?
HM: O Francisco Manyanga fez a sua história. Ele chamava-se Francisco Manyanga e eu chamo-me Hélder Mendonça. Somos duas pessoas distintas, não acho que ele seja um elemento para impulsionar o meu capital político. Agora, acho que uma veia política todos temos. Desde quando percebemos a análise da nossa vida social, desde quando podemos olhar com alguma coerência sobre a nossa vida social, acabamos interferindo e percebendo aspetos políticos que poderiam ser convertidos ou que poderiam ser melhorados. Acho que o verdadeiro líder não é o sábio. O verdadeiro líder é quem sabe conduzir junto aos sábios e acima de tudo, quem sabe ouvir. Portanto, essa é a minha postura. E tenho dito que, o que deve ter pesado bastante para a decisão do PODEMOS é, francamente, a minha frontalidade e a forma em que encaro os assuntos. Não sou gente de ir e voltar, não pisco à esquerda e vou à direita. Portanto, há alguns valores que, diga-se de passagem, construídos sobre uma base consistente familiar, que hoje sinto orgulho de poder colhê-los e poder passar para a sociedade.
DW África: Falou dos valores da sua família que estão na base da sua pessoa enquanto indivíduo. Pretende resgatar algum ideal do seu tio, por exemplo, que considere estar perdido ou diluído?
HM: Do meu tio, propriamente, não. Mas pretendo, sim, resgatar valores para a sociedade moçambicana, porque acho que existem muitos aspetos, sob o ponto de vista até psicossocial , que entendo estarem hoje de alguma forma dispersos ou perdidos.
Autárquicas: Quem venceu nas principais cidades de Moçambique
Os resultados eleitorais das eleições autárquicas moçambicanas dão a vitória ao partido no poder em 44 municípios. A RENAMO, a principal força da oposição, venceu em sete autarquias. O MDM conquistou apenas a Beira.
Foto: DW/S. Lutxeque
Eneas Comiche, edil da capital entre 2004 e 2008, venceu em Maputo
Segundo o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e a Comissão Nacional de Eleições (CNE), a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) saiu como grande vencedora em Maputo com 56,95% dos votos, contra os 36,43% da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) foi a terceira força política mais votada com 5,13%.
Foto: DW/R. da Silva
Com margem estreita, Calisto Cossa conquista segundo mandato na Matola
No município da Matola, a FRELIMO foi considerada vencedora com 48,05% dos votos, contra os 47,28% da RENAMO, uma diferença inferior a um ponto percentual. A vitória da FRELIMO foi, no entanto, contestada pela oposição. Membros da Comissão Distrital de Eleições disseram mesmo que houve fraude eleitoral.
Foto: DW/Leonel Matias
Emídio Xavier, da FRELIMO, eleito pelo município de Xai-Xai
Na província de Gaza, concretamente na cidade de Xai-Xai, a FRELIMO venceu com 81,21% dos votos contra apenas 12,36% da RENAMO. Em 134 mesas, Xai-Xai registou 53,90% de votos válidos e uma abstenção de 43,86%.
Foto: DW/C. Matsinhe
Benedito Guimino, da FRELIMO, reeleito em Inhambane
Na cidade de Inhambane, capital provincial, a FRELIMO arrasou com 79,50% contra os 15,55% da RENAMO. Sobraram apenas 4,95% para o MDM. Inhambane contou com 65 mesas de voto e uma abstenção de 35,14%.
Foto: DW/L. da Conceição
Daviz Simango, líder do MDM, mantém-se na Beira
Na cidade da Beira, província de Sofala, o MDM conseguiu a única vitória neste sufrágio. A terceira força parlamentar arrecadou 45,77% dos votos. Em segundo lugar, ficou a FRELIMO com 29,26%. Em terceiro, surge a RENAMO com 24,57%. Neste município registou-se uma abstenção de 36,65%.
Foto: DW/A. Sebastiao
João Ferreira foi aposta da FRELIMO na cidade de Chimoio
Em Chimoio, província de Manica, a FRELIMO obteve maioria absoluta com 52,51% da votação. A RENAMO garantiu 44,51% dos votos válidos. Nesta cidade do centro do país havia 220 mesas e, curiosamente, não foram contabilizados quaisquer votos nulos ou brancos.
Foto: DW/M. Muéia
Manuel de Araújo reeleito em Quelimane - desta vez pela RENAMO
Na província da Zambézia, cidade de Quelimane, a RENAMO venceu com 59,17% da votação contra os 36,09% arrecados pelo partido no poder, a FRELIMO. Quelimane com 168 mesas de votos registou uma taxa de abstenção de 34,72%. Do total de votos, 61,39% foram considerados válidos.
Foto: picture-alliance/dpa
César de Carvalho volta à edilidade de Tete, que liderou entre 2004 e 2013
Na província de Tete, na cidade com o mesmo nome, a FRELIMO levou a melhor com 54,49% contra os 43,02% da RENAMO, num universo de 57,04% votos considerados válidos. Nesta província do Centro Norte de Moçambique havia 184 mesas de voto.
Foto: DW/A.Zacarias
RENAMO vence em Nampula com atual edil Paulo Vahanle
Em Nampula, a RENAMO obteve mais votos do que o partido no poder. 59,42% dos munícipes votaram no principal partido da oposição, contra os 32,20% que votaram na FRELIMO. O MDM surge em terceiro com 6,23%. Nesta cidade contabilizaram-se 196.230 votos válidos, o que corresponde a 57,30% do total da votação. Em Nampula havia 456 mesas de voto.
Foto: DW/S. Lutxeque
FRELIMO vence no município de Lichinga
Na cidade de Lichinga, na província do Niassa, a FRELIMO ganhou com 51,93% contra os 45,19% da RENAMO. O MDM garantiu o terceiro posto com apenas 2,88%. A abstenção situou-se nos 41,91%.
Foto: DW/M. David
Em Pemba, venceu Florete Simba Motarua da FRELIMO
Na cidade de Pemba, província de Cabo Delgado, a vitória foi alcançada pela FRELIMO que arrecadou 54,21% dos votos. A RENAMO não foi além dos 39,01%. Pemba com 134 mesas de votos contabilizou 56,23% de votos válidos. A taxa de abstenção nesta cidade nortenha foi de 40,87%.