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Moçambique: Governo tenta silenciar padre católico?

30 de julho de 2024

Frei Lafim Maria, conhecido pelas suas homilias críticas e inspiradoras, enfrenta ameaças de morte e perseguição política. Ativista diz que "há tentativas de silenciá-lo" e que uma transferência estará a ser planeada.

Frei Lafim Maria
Frei Lafim Maria: Homilias críticas e consciencializadoras levam a ameaças e perseguiçãoFoto: privat

As suas críticas à fraude eleitoral nas autárquicas moçambicanas de 2023 valeram-lhe perseguição política. Estamos a falar do frei Lafim Maria, que pelas suas homilias diferenciadas e consciencializadoras, hoje é ameaçado de morte, perseguido pela secreta e até por membros da própria Igreja Católica. Nas redes sociais, agora recebe uma onda de apoio promovida principalmente por jovens que repetem o seu lema religioso: "Deus sabe, Deus cuida".

Em entrevista à DW, o ativista social e crente católico David Fardo denuncia uma alegada tentativa de silenciar a voz incómoda com uma transferência para o Brasil, à semelhança do que aconteceu com o bispo de Pemba, Luiz Fernando Lisboa, que denunciava irregularidades no contexto da insurgência no norte de Moçambique.

Fardo descreve o frei Lafim Maria como uma figura de inspiração, especialmente para os jovens. Ele destaca a importância das homilias do Frei, que abordam não só questões espirituais, mas também sociais e políticas, incentivando a juventude a lutar pela verdade e pela justiça.

DW África: Quem é o frei Lafim Maria?

David Fardo (DF): Ele é conhecido como o padre da Igreja Católica. É um frei jovem, dinâmico e proativo, especialmente preocupado com causas sociais, que, além da Igreja Católica na qual administra, em algum momento também tende a consciencializar os jovens sobre boas práticas, sobre a juventude amar a verdade, sobre a juventude e a sociedade como um todo, seja pelo respeito mútuo, e, ao mesmo tempo, as suas homilias, que também têm feito esse trabalho, que nós, como jovens, também nos sentimos, digamos, cada vez mais inspirados.

DW África: O frei Lafim Maria insurgiu-se contra a fraude durante as eleições autárquicas. Foi isso que lhe valeu a perseguição política que enfrenta hoje?

DF: Bem, queremos acreditar que sim, porque sabemos que em Moçambique, geralmente, quando falamos de questões políticas, especialmente questões relacionadas ao Governo atual, muitas vezes somos vistos como inimigos do próprio Governo. Mas, além do facto de que frei Lafim levantou questões relacionadas às eleições autárquicas de 2023, durante as suas homilias, ele é aquele frei que toca mais em questões relacionadas à consciencialização da juventude, à participação da sociedade no desenvolvimento do país. Nos últimos tempos, temos visto que há uma tentativa de intrusão do próprio Estado na vida religiosa das diferentes seitas ou religiões que estão praticamente estabelecidas aqui em Moçambique.

Denúncias de fraude eleitoral resultam em perseguição e ameaçasFoto: privat

DW África: Nem mesmo essa intrusão e as ameaças do SISE pararam Frei Lafim nas suas orações?

DF: Em nenhum momento as suas orações pararam, e vemos o frei Lafim como um espelho de força, de robustez, de firmeza naquilo em que acreditamos. Porque mesmo durante as várias homilias e vigílias que frei Lafim organizou com os jovens, ele nunca deixou de encorajar os jovens a serem perseverantes e fortes, da mesma maneira que ele tem o seu lema, que é "Deus sabe, Deus cuida”.

Quando falamos dessa intrusão do Governo na vida religiosa, tivemos várias situações, uma delas recente, da transferência do bispo de Pemba [Luiz Fernando Lisboa] quando ele falava sobre as situações de Cabo Delgado, da insurgência, e da noite para o dia, foi transferido para o Brasil.

É também dessa ameaça que frei Lafim atualmente sofre uma tentativa de silêncio religioso, além do facto de que ele também tem sido ameaçado de morte, tendo sido colocada a inteligência atrás dele e controlando as suas homilias. Agora temos informações de uma possível transferência do mesmo para o Brasil. Então vimos que aqueles padres, aqueles religiosos que tendem a abrir a consciência dos jovens e da sociedade, são vistos como inimigos no final do dia, pelo governo do dia.

DW África: E essa perseguição política começa na própria Igreja Católica?

DF: Nesse assunto, pode ser difícil dizer sim ou não, mas por um lado a Igreja pode até estar sob ameaça pelo Governo do dia, em uma situação contemporânea, no sentido de que frei Lafim teve abordagens que estão fora da religião, fora da Igreja, e que é uma necessidade da própria Igreja controlar ou encontrar soluções para si mesma. Então, quero dizer que essa perseguição, essa intimidação, não é o fruto primário dentro da própria Igreja, mas sim uma consequência do sistema do governo do dia.

 

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