Imagens nas redes sociais mostram polícia moçambicana a torturar garimpeiros das minas de rubis em Namanhumbir, Montepuez, na província nortenha de Cabo Delgado. Poderá ser um caso de violação dos direitos humanos.
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Nas imagens postas a circular nas redes sociais é notório o nível de tortura a que foram sujeitos os garimpeiros nas minas de rubis de Namanhumbiri. Para os defensores dos direitos humanos, a imagem de Moçambique fica mais uma vez manchada neste cenário.
São imagens chocantes para o presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos, Custódio Duma. Independentemente das irregularidades que os garimpeiros poderão ter cometido, "aquele tipo de atitudes são hoje condenáveis. Não se percebe [estas atitudes], em pleno século XXI", lamenta Cutódio Duma. O ativista considera que a polícia devia ter agido de outra forma: "independentemente da situação que aconteceu no local aquele não é o tratamento que se deve dar àqueles cidadãos".
Este caso é mais uma batata quente para o Ministério Público. Aliás, Custódio Duma não tem dúvidas de que os polícias não receberam ordens para praticar aqueles atos. Por um lado, "eles mesmos quebraram o código disciplinar e, por outro, aquilo que está a acontecer ali é tortura", classifica, acrescentando que, por se tratar de um crime, "o comando terá de aplicar medidas disciplinares".
Direitos humanos são um desafio em Moçambique
Estes atos revelam que Moçambique ainda enfrenta muitos desafios sob o ponto de vista da defesa dos direitos humanos, diz Custódio Duma."O que temos de fazer é evitar que estas situações aconteçam e, ao acontecerem, estão a criar mais espaços para a crítica e a colocar o país numa situação não muito favorável", alerta.
18.07.2017 Violência contra garimpeiros - MP3-Mono
A presidente da Liga dos Direitos Humanos, Alice Mabote, apesar de ainda não ter tido acesso às imagens, refere que não fica surpreendida, porque a polícia sempre recorreu ao uso excessivo da força, com a qual discorda. "Isso preocupa-nos. Eles acham-se os donos da terra e a melhor forma de retirar as pessoas é usar armas excessivamente, é complicado", considera Alice Mabota.
Leis obrigam à diminuição do excesso de repressão
Alice Mabote refere que o país gosta de ser manchado internacionalmente no que diz respeito aos direitos humanos.Acredita que "uma das melhores formas que se podia fazer [para fazer face a este tipo de casos] é questionar o ministro da Justiça e Assuntos Constitucionais, tendo em consideração que a revisão periódica da legislação recomenda algumas medidas para diminuir o uso excessivo da força", sugere a presidente da Liga dos Direitos Humanos em Moçambique.
Este cenário acontece numa altura em que a Comissão dos Direitos Humanos e Legalidade do Parlamento moçambicano iniciou, na terça-feira (18.07), um debate sobre a revisão da legislação penal.
A revisão visa inserir a preocupação com a dignidade humana e o respeito pelos direitos humanos em Moçambique.
Os filhos perdidos de Chimanimani
Todos os dias há jovens a subir. São eles que alimentam os garimpeiros em Chimanimani, a reserva natural que separa Moçambique do Zimbabué. Quando descem, trazem pepitas de ouro nos bolsos.
Foto: DW/M.Barroso
O ouro de Chimanimani
Em 2006, conta-se, a produção diária em Chimanimani era de 5g por garimpeiro por dia. Hoje, queixam-se, não passa de 3g por garimpeiro por dia.
Foto: DW/M.Barroso
Preciosidades em notas sem valor
É em notas de milhões de dólares zimbabueanos que se transporta o ouro por aqui. Papel não é seguro, porque, quando molha, rasga. A nota é mais fiável: dobra-se uma e outra vez, dobra-se umas quantas vezes e prende-se com um fio de ráfia. E as notas do Zimbabué há muito que não valem os milhões que prometem na figura.
Foto: DW/M.Barroso
Matzundzo, o régulo
Toda a zona que se estende até ao mercado do ouro de Baco Ramambo se encontra sob a autoridade do régulo Matzundzo.
Foto: DW/M.Barroso
Ao almoço, uma pausa
Mateus tem 24 anos. Há três ganha a vida a carregar produtos em Chimanimani. Para conseguir chegar a Baco Ramambo, é preciso fumar, conta. Para ter "power".
Foto: DW/M.Barroso
Para lá dos montes
Por aqui, todos dizem que o caminho até ao mercado demora "duas horas de relógio". Na realidade, o percurso toma dias. Pausas são luxo raro.
Foto: DW/M.Barroso
Quem passa, leva ensopadas as calças
Em Chimanimani, os rios não têm pontes. Os rapazes seguem em frente, água dentro, sem grandes paragens, sem hesitações, vestidos, calçados, a mercadoria a balançar nas cabeças.
Foto: DW/M.Barroso
Neto, o negocianteNeto, o negociante
António Neto Coco com a sua balança de ouro. Desde que foi agredido por bandidos, tem regularmente três rapazes a vender produtos na zona do mercado de Baco Ramambo.
Foto: DW/M.Barroso
Vida sob camuflagem
Muitos em Chimanimani vêm do Zimbabué. Por 600 meticais, nem 14 euros, compram identidade moçambicana. Assim, se forem descobertos com ouro, evitam ser deportados para o país do lado, um país sem futuro.
Foto: DW/M.Barroso
Entre o fumo
Carregadores e garimpeiros moram em cavernas. Aqui cozinham, aqui se aquecem com lenha do mato e aqui dormem. A fuligem que sobe do lume pinta as paredes da rocha, crava-se nos pulmões, queima os olhos.
Foto: DW/M.Barroso
Natureza em erosão
Desde que os fiscais do parque sobem ao planalto para escurraçar os infratores da lei, os garimpeiros dispersam ao longo de vários rios. Assim, a vegetação ribeirinha é destruída, a erosão dos solos espalha-se e os sedimentos são transportados pela corrente, causando turvação das águas.
Foto: DW/M.Barroso
Baco Ramambo, o mercado
Em dias de chuva como hoje, cada um se refugia na sua caverna e o mercado de Baco Ramambo adquire um ar triste. Das negociatas que aqui se fazem em dias bons não há sinal.
Foto: DW/M.Barroso
A camarata do mercado...
Poucos são os que se aventuram a pernoitar na zona de Baco Ramambo com medo dos fiscais. Ainda assim, esta camarata serve de abrigo aos que por aqui ficam.
Foto: DW/M.Barroso
... e a cozinha
O rádio que traz música na caverna da cozinha de Baco Ramambo foi vendido num dia húmido como o de hoje. Em dias assim, só os carregadores faturam, já que poucos garimpeiros ousam entrar nos riachos – nestas condições impiedosas, a água provoca febres.
Foto: DW/M.Barroso
Chimanimani - um El Dorado
É aos americanos, aos sul-africanos e aos libaneses que carregadores e garimpeiros vendem o seu ouro. São eles que fazem as verdadeiras fortunas vindas de Baco Ramambo.