11 garimpeiros morreram nas últimas semanas no distrito de Gilé. Há vários anos que se registam acidentes na região e os críticos dizem que a culpa é da falta de controlo do Governo. Autoridades admitem dificuldades.
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Cinco garimpeiros morreram no final de dezembro na região de Muiane, distrito de Gilé, devido à explosão de uma motobomba enquanto estavam a garimpar. Na semana passada, outras seis pessoas morreram na sequência de um desabamento de terras. Segundo a polícia, os seis eram garimpeiros ilegais.
"Em Gilé, ocorreu um desabamento de terra na extinta empresa Tantalum Mineração, tendo vitimado mortalmente seis indivíduos e ferido gravemente cinco. Foram encaminhados para o hospital provincial de Nampula. Os garimpeiros eram ilegais e, sabendo do desuso da mina, foram até lá sem equipamento de segurança", explica Sidner Lonzo, porta-voz da polícia na Zambézia.
A terra, de acordo com a polícia, terá desabado devido às fortes chuvas que caem na província desde o início do mês. As autoridades pedem, por isso, à população que não se desloque "a qualquer mina que esteja em uso ou em desuso sem a devida autorização e sem os devidos equipamentos".
Falta de fiscalização
O problema não é novo na região. Há anos que garimpeiros ilegais arriscam a vida na antiga mina da Tantalum Mineração, que explorava tantalite. A empresa foi obrigada a abandonar a região há cinco anos, depois de uma rebelião popular, na sequência da morte de um garimpeiro local. Muitos dos garimpeiros são jovens que não vão à escola para explorar a mina.
Moçambique: Garimpo continua a matar nas minas da Zambézia
Dionísio Graciano, membro da Plataforma G20, que junta 40 organizações da sociedade civil, diz que o fraco controlo das autoridades é a principal causa das mortes nas minas da região.
"Nos últimos anos, [na Zambézia], há uma maior exploração dos recursos minerais a vários níveis, caso das areias pesadas e diamantes", lembra, sublinhando que o país "tem leis e decretos que visam a salvaguarda de todos os direitos".
Mas isto não basta, segundo Dionísio Graciano: "Considero estratégica a necessidade de uma monitoria regular que visa auferir o nível da natureza de trabalho e os equipamentos a que os trabalhadores desse setor são expostos. Não há uma boa estratégia para acabar com os acidentes na mina de Muiane, no Gilé".
O diretor provincial dos Recursos Minerais da Zambézia, Almeida Manhiça, afirma que é difícil acabar com os acidentes nas minas, tendo em conta que alguns garimpeiros vão à noite aos locais, escapando ao controlo das autoridades. Segundo o dirigente, a maioria dos acidentes acontece na área concessionada à empresa Tantalum Mineração.
"Os garimpeiros, em princípio, não são autorizados a fazer garimpo numa área concessionada, se se recorda aquela situação de 2015 em que, no âmbito da monitoria e controlo da área, foram detetados e acidentalmente acabou morrendo um. Sempre às escondidas, não foram autorizados por ninguém, a área de mineração é grande e fazem tudo às escondidas", frisa.
Faces de Tete e do carvão de Moçambique
A vida mudou na província de Tete desde a chegada de empresas multinacionais para explorarem o carvão. Os ventos da mudança trouxeram, para alguns, oportunidades para melhorar de vida; para outros, novas preocupações.
Foto: DW/Marta Barroso
Coque, o trabalhador
Coque tem 28 anos. Trabalha há quatro anos na empresa mineira britânica Beacon Hill. Lá, amarra lonas nos camiões que transportam o carvão até ao vizinho Malawi. Tal como muitos jovens na região, dantes Coque fabricava tijolos que vendia no mercado local. Mas hoje, diz, vive melhor. Por camião recebe 800 meticais, cerca de 20 euros, que divide com o colega que estiver com ele no turno.
Foto: Marta Barroso
Paulo, o diretor de operações da Vale
Apesar dos enormes incentivos fiscais de que gozam as empresas dos megaprojetos em Moçambique, como a brasileira Vale, Paulo Horta diz que um projeto de mineração como o de Moatize gera uma cadeia produtiva tão grande que a população local beneficia em grande medida com a sua vinda para Tete: através da criação de outras empresas, serviços, tributos gerados por terceiros e criação de empregos.
Foto: DW/Marta Barroso
Gomes António, vítima de maus tratos
Gomes António Sopa foi espancado e detido pela polícia na sequência da manifestação de 10 de janeiro de 2012, quando os habitantes de Cateme bloquearam a passagem do comboio que transportava carvão das minas até ao porto da cidade da Beira. Muitas das promessas feitas pela Vale, responsável pelo reassentamento de centenas de famílias, continuam por cumprir. Ainda hoje, Gomes António sente dores.
Foto: Marta Barroso
Duzéria, a curandeira
Os habitantes do Centro de Reassentamento de 25 de Setembro, no distrito de Moatize, queixam-se de que muitos aspetos culturais não foram respeitados durante o processo de reassentamento pelas empresas mineiras. A curandeira do bairro, por exemplo, diz que no planeamento do complexo não se teve em conta a construção de uma casa para o seu espírito.
Foto: Marta Barroso
Lória, a rainha
Provavelmente Lória Macanjo e a sua comunidade deverão ser reassentadas brevemente: a multinacional Rio Tinto está já a operar um mina de carvão em Benga, perto da sua aldeia, Capanga. Também aqui, debaixo da terra que herdou do pai, a empresa mineira descobriu carvão. Mas a rainha sabe do destino dos que já se mudaram e recusa-se a deixar a sua casa.
Foto: DW/Marta Barroso
Olivia, a cabeleireira
Olivia (esq.) tem 29 anos e veio em 2008 do seu país, o Zimbabué, fugindo à crise financeira que lá se vive. Tete é agora a terra das grandes oportunidades, tinham-lhe dito. Hoje, é cabeleireira no Mercado Primeiro de Maio e, tal como a amiga Faith (dir.) faz trabalhos de manicure. Diz que, por dia, consegue 500 a 1000 meticais, entre 15 e 25 euros. Com esse dinheiro consegue sustentar-se.
Foto: DW/Marta Barroso
Guta, o empresário
Ao todo, Guta emprega 130 homens nas áreas de carpintaria e construção civil na cidade de Tete. Diz que desde a chegada das grandes empresas à região não sentiu grandes alterações no seu negócio. Os projetos de mineração requerem quantidades às quais não consegue responder. Uma vez, conta, a Vale pediu que fornecesse, juntamente com outra carpintaria da cidade, 5000 portas em 60 dias.
Foto: DW/Marta Barroso
Canelo, o vendedor de amendoins
Canelo diz que tem 11 anos. E diz também que frequenta a segunda classe. Todas as tardes vende amendoins no centro de Tete. "Para ajudar a mãe que não tem trabalho." O pai também está desempregado. Canelo é uma de muitas crianças que vendem amendoins na cidade. Um saco pequeno fica por dois meticais, cerca de cinco cêntimos de euro, o maior custa cinco meticais, treze cêntimos de euro.
Foto: DW/Marta Barroso
Catequeta, o ativista
Manuel Catequeta mudou-se para Tete em 2001. O ativista dos direitos humanos sabe o que custa viver com a subida constante do custo de vida. O seu salário não lhe permite luxos. A sala de sua casa "de dia é sala, de noite vira quarto". Mas mudar de casa, para já, está fora de questão. Hoje em dia, uma boa casa na capital provincial passa dos 5.000 dólares, cerca de 4.000 euros, por mês.
Foto: DW/Marta Barroso
Júlio, o otimista
O músico Júlio Calengo vê oportunidades de negócio, agora que em Tete há tantas empresas novas. O seu objetivo é, em breve, montar uma empresa de limpeza: tanto nos escritórios das empresas mineiras como nos das firmas que entretanto apareceram na cidade. Interessados não vão faltar, diz Júlio. O que é preciso é ter criatividade e, claro, dinheiro.