Moçambique e parceiros empenhados em reduzir a desnutrição
Amós Fernando (Tete)
6 de fevereiro de 2018
O governo de Tete e parceiros lançaram segunda-feira (05.02) o projeto "Ligando Agricultura e Nutrição", para reduzir a taxa de desnutrição. O programa visa melhorar as práticas nutricionais e de higiene.
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Em Moçambique, 43% de crianças entre os 0 e os 5 anos sofre de desnutrição crónica moderada, 20% sofre de desnutrição crónica grave e 8% de desnutrição aguda, de acordo com dados do Inquérito Demográfico de Saúde (IDS) de 2011. As províncias de Tete, no centro, e Cabo Delgado, no norte, apresentam níveis muito elevados.
O governo de Tete e parceiros como a organização não-governamental Helen Keller Internacional e Visão Mundialquerem inverter a situação. Lançaram esta segunda-feira (05.02), na cidade de Tete, o projeto "Ligando agricultura e nutrição", que pretende reduzir a taxa de desnutrição crónica e aguda na província, através da melhoria das práticas nutricionais e de higiene nas comunidades.
O projeto está orçado em mais de 2 milhões de dólares (cerca de 1,6 milhões de euros). O valor será desembolsado pela organização Helen Keller Internacional. Serão abrangidos pelo projeto cinco distritos da província de Tete – Changara, Cahora Bassa, Mutarara, Moatize e Tsangano, considerados mais críticos, num período de três anos e meio.
Projeto oportuno
No terreno, o projeto traduz-se em campanhas de sensibilização e mudança de comportamento, sobre a utilização de água, saneamento, e alimentação nutritiva nas famílias com crianças menores de cinco anos.
O diretor provincial da Agricultura e Segurança Alimentar de Tete, José Mendonça, destaca o cariz multissectorial do programa, passando por temas como a Saúde, Agricultura, Mulher, Criança e Ação Social.
"O projeto LAN é oportuno, colabora com os anseios do governo para a produção de comida, proporcionando fácil acesso uso e utilização dos alimentos de modo a avaliar a erradicação da fome", acredita.
A província de Tete tem uma taxa de desnutrição crónica de 44.2% de acordo o Inquérito Demográfico de Saúde de 2011. E o governo de Tete quer mudar este cenário, segundo o governador provincial Paulo Auade: "Reiteramos o empenho do governo em fazer da desnutrição um desafio a altura das nossas capacidades e uma oportunidade para de mãos dadas caminharmos até aos 20% da taxa de prevalência aceitável pela organização mundial da Saúde".
Evitar desvios de fundos
Por outro lado, Paulo Auade exige maior participação de todos os envolvidos neste projeto e recomenda a "adopção de estratégias na base de evidências cobrindo agregados familiares vulneráveis a má nutrição com maior destaque para aquelas chefiadas por mulheres, crianças e ou vivendo em zonas recônditas".
O governador de Tete pede ainda aos parceiros do projeto que discutam com os distritos abrangidos os planos de atividades para que não haja desvios de aplicação dos fundos.
Em Moçambique, duas de entre cinco crianças menores de cinco anos sofrem de desnutrição crónica, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF).
Fortalecimento de parcerias
Moçambique: Governo e parceiros empenhados em reduzir a desnutrição
Vários programas estão a ser desenvolvidos pelo governo e parceiros para a redução deste índice, conforme explica Osvaldo Neto, gestor nacional de programas da Helen Keller Internacional em Moçambique.
"Nós, a Helen Keller Internacional, queremos reafirmar cada vez mais o nosso compromisso em trabalhar de mãos dadas com o governo moçambicano, na busca de solução para o combate à desnutrição crónica", reitera Osvaldo Neto.
De acordo com a médica-chefe provincial de Tete, Rosa Maendaenda, o projeto lançado nesta segunda-feira é de maior importância porque "uma pessoa subnutrida tem maior risco de contrair várias doenças e outras complicações que advêm da má nutrição", afirmou a dirigente, realçando que "uma pessoa bem nutrida tem a possibilidade de recuperar mais rapidamente e fica menos susceptível a contrair doenças".
O projeto deverá beneficiar mais de 108 mil pessoas nos cinco distritos abrangidos.
Artistas da CPLP unidos contra a fome
Mais de 50 artistas doaram as suas obras para a campanha "Juntos contra a Fome". Os trabalhos estão expostos na galeria da UCCLA em Lisboa. O objetivo: angariar fundos para ajudar a erradicar a fome nos países lusófonos.
Foto: DW/João Carlos
Exposição na sede da UCCLA
Por uma causa nobre, mais de 50 artistas dos países de língua portuguesa doaram as suas obras para a campanha "Juntos contra a Fome". Mais de 90 trabalhos estão expostos até ao dia 22 de setembro na Galeria da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), em Lisboa. O objetivo: angariar fundos para ajudar a erradicar a fome nos países que falam português.
Foto: DW/João Carlos
Direitos humanos longe de serem realidade
A exposição, cuja organização contou com a ajuda do artista angolano Carlos Bajouca, foi inaugurada a 5 de setembro pela secretária executiva da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Maria do Carmo Silveira disse que, apesar dos "grandes esforços" no plano nacional e internacional, o direito humano a uma alimentação adequada está longe de ser uma realidade.
Foto: DW/João Carlos
Não depender sempre da ajuda externa
A mostra abre com um painel do são-tomense Estanislau Neto, que, tendo recorrido a imagens de vacas, valoriza a importância da agricultura e da pecuária no processo de produção alimentar. A criação de gado, de acordo com o artista, seria uma das vias sustentáveis no combate à fome, para contrariar a dependência de donativos.
Foto: DW/João Carlos
Estratégia para segurança alimentar
O desafio é mobilizar apoio para milhões de pessoas que vivem com falta de uma alimentação adequada. Nos países onde se fala português, mais de 20 milhões de pessoas enfrentam esta realidade. Na imagem, fotografias da portuguesa Maria João Araújo.
Foto: DW/João Carlos
Envolvimento da sociedade civil
A campanha "Juntos contra a Fome", lançada em fevereiro de 2014, tem mobilizado a sociedade civil, incluindo escritores, académicos, jornalistas, desportistas e políticos. O angolano Marco Kabenda, autor desta obra, é um dos artistas que apadrinha a iniciativa. A ele juntam-se vários pintores, escultores e tecelões dos nove países onde se fala português.
Foto: DW/João Carlos
Abrir mentes contra o preconceito
Júlio Quaresma também ofereceu um dos seus quadros, que representa a explosão das convenções na atual dinâmica da modernidade. O artista angolano acredita que só se consegue dinamizar e fazer avançar as sociedades quando abrirmos as nossas mentes sem preconceitos, em defesa de uma causa como esta: a da luta contra a fome e a pobreza.
Foto: DW/João Carlos
O poder e a gestão da água
Entre os quadros de Ismael Sequeira, destaque para a temática da gestão da água. O artista são-tomense expressa assim a sua inquietação perante a carência deste líquido precioso. Lembra que a água é importante para a vida e necessária para a agricultura, embora não seja distribuída com racionalidade.
Foto: DW/João Carlos
Amor ao próximo para acabar com a fome
As esculturas do moçambicano Frank N’Taluma transportam sempre consigo uma mensagem apelativa. Aqui, o artista apela ao amor ao próximo. "Para acabar com a fome temos que amar o próximo", afirma, condenando o facto de muita comida ser desperdiçada e deitada para o lixo quando se sabe que há milhares de pessoas a necessitarem de alimentação.
Foto: DW/João Carlos
Outros contributos moçambicanos
De igual modo, o conceituado artista plástico moçambicano Lívio de Morais não ignorou o sofrimento dos que fazem parte das estatísticas da fome nos países lusófonos. A sua contribuição é tão valiosa quanto a dos seus conterrâneos Roberto Chichorro ou Malenga, Sérgio Santimano e José Pádua, também representados na exposição.
Foto: DW/João Carlos
Cinco projetos já financiados
Até agora, de acordo com a CPLP, a campanha "Juntos contra a Fome" já angariou 175 mil euros na campanha ", que permitiram viabilizar cinco projetos em Cabo Verde, na Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Moçambique. Este quadro do guineense João Carlos Barros é mais um grão no esforço para angariar mais recursos financeiros para apoiar outros países.
Foto: DW/João Carlos
Promover a agricultura familiar
Os projetos são implementados a 100% por organizações não-governamentais locais, visando promover a agricultura familiar sustentável, assim como reduzir o número de famílias afetadas pela fome nos países lusófonos. Abel Júpiter ofereceu este quadro para o acervo de peças doadas pelos mais de 50 artistas.
Foto: DW/João Carlos
Expetativas para o leilão
No final da exposição, no dia 22, será feito um leilão, para o qual os promotores pediram a participação de todos os que querem dar o seu contributo e engrandecer esta causa. Rui Lourido, diretor do Setor Cultural da UCCLA, também abraça a causa. Na foto, alguns dos artistas que apadrinham a campanha "Juntos contra a Fome".