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Moçambique: Governo "faz as pazes" com Igreja Católica?

3 de setembro de 2020

Académicos e sociedade civil moçambicana enaltecem os esforços do Presidente Filipe Nyusi em aliviar a tensão entre o Governo e a Igreja Católica, acusada de patrocinar logística militar aos insurgentes em Cabo Delgado.

Papa Francisco chegou a Maputo a 4 de setembro de 2019 e foi recebido pelo Presidente Filipe Nyusi Foto: Reuters/M. Hutchings

Uma certa tensão entre o Governo moçambicano e a Igreja Católica foi sentida até à semana passada. Na origem estariam as denúncias de irregularidades das Forças de Defesa e Segurança (FDS), e não só, no palco da guerra em Cabo Delgado.

Violações dos direitos humanos e outros abusos contra a população foram denunciados pelo bispo de Pemba, dom Luiz Fernando Lisboa. E em jeito de resposta, os defensores do regime acusaram o bispo de "patrocinar logisticamente" os insurgentes.

Contudo, durante a visita do Presidente Filipe Nyusi a Pemba, na segunda-feira (31.08), o Governo "içou a bandeira da paz" ao se aproximar da igreja para dialogar com o bispo sobre a situação em Cabo Delgado.

O académico Teodoro de Abreu elogia os esforços do Presidente Filipe Nyusi e critica "alguns indivíduos" que espalham ódio e violência contra o bispo de Pemba.

Bispo de Pemba: "Estou tranquilo"

01:50

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"O Presidente fez um discurso e, sem citar nomes, e logo a seguir houve gente que teve a responsabilidade de atribuir nomes aos bois e começar a acusar o bispo de dar logística militar [aos insurgentes] simplesmente porque não se concorda com o que ele diz e é alguém a abater", afirma.

Diálogo "pressionado" pela sociedade civil

Também o presidente do Parlamento Juvenil, David Fardo, sustenta que o Presidente da República "fez bem" encontrar-se com o bispo de Pemba, mas notou que isso foi resultado de muita pressão da sociedade civil.

"Nós acreditamos que é mais uma resposta às ações da sociedade civil. O facto de o Presidente ter intervindo com o bispo de Pemba, em algum momento poderá amenizar, mas não porque é o suficiente perante as ameaças que o bispo sofre. Há muito que o Presidente deve fazer como o alto magistrado da nação", defende.

O académico Teodoro de Abreu lembra que há um ano, quando chegou para a sua visita a Moçambique, a 4 de setembro, o Papa Francisco pediu a união dos moçambicanos, fator importante para o desenvolvimento, mas respeitando as diferenças em todos os sentidos.

"As únicas diferenças que nós temos de eliminar são as diferenças de oportunidade. Mas as diferenças de opinião e de ver, essas devem ser valorizadas e isso é o que vem no discurso do Presidente da República ao sair do encontro com o bispo", destaca o analista, que cita ainda o que disse Filipe Nysui sobre Luiz Fernando Lisboa: "Ele como bispo da igreja bastante implantada tem outra visão e eu vim partilhar com ele esta visão."

Desigualdades sociais continuam

Académico Teodoro de AbreuFoto: DW/R. da Silva

Na altura, na sua mensagem aos moçambicanos, o Papa Francisco criticou as desigualdades sociais, lembrando que o país é rico em recursos naturais. Mas aos olhos do Parlamento Juvenil, "os moçambicanos não beneficiam diretamente dos recursos que a sua nação tem.

E a distribuição equitativa dos recursos, acresceneta, ainda vai continuar a ser um desafio, "porque existe a doença da corrupção que apoquenta este punhado de gente", sublinha.

"E nós, sociedade, continuamos sempre naquela expetativa e a juventude moçambicana é aproximada quando estamos em pleitos eleitorais e é instrumentalizada", lamenta o líder do Parlamento Juvenil, David Fardo.

Já o ativista social e jurista Tomás Vieira Mário enaltece que se deve salvaguardar a defesa dos direitos dos cidadãos, sobretudo por causa do momento de conflito que o país vive, sobretudo em Cabo Delgado e no centro.

"Porque os cidadãos não podem gozar os seus direitos e liberdades. Onde há conflitos claramente as liberdades fundamentais são bloqueadas: a livre circulação de pessoas e bens, a discussão de ideias, a liberdade de expressão. Onde há conflitos há sempre bloqueio", lembra.

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