Moçambique: Governo garante "total empenho" contra ataques
DW (Deutsche Welle) | Lusa
1 de maio de 2021
Numa reunião com um alto representante da petrolífera Total, o Executivo moçambicano comprometeu-se em restaurar a segurança em Cabo Delgado para permitir a retoma do projeto de gás natural.
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"Transmitimos à Total o nosso total empenho na restauração de condições de segurança favoráveis ao reatamento de todos os empreendimentos suspensos devido à ação dos terroristas em Cabo Delgado", avançou uma fonte do Governo de Moçambique.
Durante reuniões em Maputo esta sexta-feira (30.04), o Executivo moçambicano garantiu aplicar "total empenho" para restabelecer segurança em Cabo Delgado, norte do país, visando a retoma do projeto de gás da petrolífera.
No encontro, estiveram presentes os ministros dos Recursos Minerais e Energia de Moçambique, Max Tonela, e da Defesa, Jaime Neto, e o presidente para Pesquisa e Produção da Total, Arnaud Breuillac.
A fonte ouvida pela agência de notícias Lusa avançou que os governantes moçambicanos e Arnaud Breuillac "manifestaram sintonia e confiança em relação à viabilidade dos projetos de gás na bacia do Rovuma".
Projetos sofrem atrasos
Na segunda-feira (26.04), a petrolífera francesa anunciou motivos de "força maior" para ter retirado todo o pessoal do norte de Moçambique, após o ataque armado de 24 de março à vila de Palma, junto ao projeto de gás.
Com arranque previsto para 2024, o projeto da Total está avaliado em 20 mil milhões de euros e é o maior investimento privado em curso em África. Neste projeto está ancorada boa parte das expetativas de desenvolvimento de Moçambique na próxima década.
O projeto de exploração de gás natural da Total no norte de Moçambique irá sofrer "pelo menos um ano de atraso", anunciou esta semana o diretor financeiro do projeto, Jean-Pierre Sbraire.
O arranque da exploração e exportação de gás natural está agora previsto para nunca antes de 2025, segundo as declarações do responsável.
Mais de 30 mil deslocados
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), cerca de 30 mil pessoas tiveram que deixar a cidade costeira de Palma desde que foi atacada por grupos armados, em março. A agência da ONU expressou profunda preocupação "com as consequências humanitárias da rápida escalada da violência no norte de Moçambique".
"Estamos especialmente preocupados com a segurança e o bem-estar de pessoas em situação de maior vulnerabilidade, incluindo mulheres e crianças", diz a nota.
Dezenas de pessoas foram mortas durante os ataques, enquanto milhares fugiram a pé, por estrada e por mar. Acredita-se que muitos ainda não tenham conseguido deixar Palma.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.