Governo promete realojar centenas de famílias de Hulene
Lusa
7 de março de 2018
Centenas de famílias vão começar a ser retiradas das proximidades da lixeira de Hulene, nos arredores de Maputo, anunciou o Governo. Em fevereiro, 16 pessoas morreram devido a um desabamento no local.
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O Executivo moçambicano anunciou que 1.750 famílias serão retiradas das imediações da lixeira de Hulene, onde 16 pessoas morreram em fevereiro, soterradas num aluimento, devendo ser mobilizados cerca de 80 milhões de euros para a operação.
Ana Comoana, porta-voz do conselho de ministros, anunciou esta terça-feira (06.03) no final da reunião do órgão que numa primeira fase serão retiradas cerca de 400 famílias e a operação vai custar 17 milhões de euros.
"São valores que incluem a abertura de vias de acesso, instalação de equipamentos sociais, construção de casas e promoção de projetos de geração de renda", afirmou.
A segunda etapa vai abranger a transferência de 500 famílias, num orçamento estimado em 23 milhões de euros, e a terceira e última implicará a retirada de 800 famílias, operação avaliada em 40 milhões de euros.
Apesar de questionada pelos jornalistas, a porta-voz do conselho de ministros não apontou prazos para as diferentes fases.
"Na prática, o plano de reassentamento está em execução e até que se atinjam todos os objetivos ainda vai levar algum tempo", declarou a porta-voz do Conselho de Ministros.
Novo aterro em 2019
Após o aluimento de lixo já foram retiradas e transferidas para acampamentos provisórios 173 famílias.
Ana Comoana adiantou que a construção do aterro que vai substituir a lixeira de Hulene vai arrancar ainda este ano e a entrada em funcionamento está prevista para 2019.
Uma parte da maior lixeira da capital com altura de um edifício de três andares desabou a 19 de fevereiro devido a chuva forte e abateu-se sobre diversas habitações precárias em redor.
O acidente provocou 16 mortos, sete dos quais eram crianças, de acordo com o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) em Maputo.
Um mundo à parte: a lixeira de Hulene
Em Moçambique, os resíduos sólidos urbanos são depositados em lixeiras a céu aberto, tal como acontece em Hulene, nas proximidades do Aeroporto de Maputo. Isto causa diversos problemas ambientais e sociais.
Foto: DW/Marta Barroso
Resíduos sólidos sem tratamento adequado
Em Moçambique, os resíduos sólidos urbanos são depositados em lixeiras a céu aberto, tal como acontece em Hulene, nas proximidades do Aeroporto de Maputo. Este modelo de gestão do lixo traz consigo graves problemas de diversa ordem. Entre outros a possível poluição do ar, da terra e da água. A queima descontrolada dos resíduos também causa maus cheiros e problemas respiratórios na vizinhança.
Foto: DW/Marta Barroso
Cidades cheias
Desde a independência, a urbanização em Moçambique tem sido rápida e desordenada. Em meados dos anos 1970, nem 10% da população residia em zonas urbanas. A guerra civil empurrou comunidades inteiras para os centros urbanos. Hoje, o número de citadinos é quatro vezes mais alto e em 2025, calcula-se, mais de metade dos moçambicanos viverá em zonas urbanas. Aumentam os problemas com o lixo.
Foto: DW/Marta Barroso
Crescimento desordenado
Em Maputo, o custo de vida aumentou de tal forma que muitos se viram empurrados para a periferia e a cidade foi-se espalhando de forma desordenada. Tal como noutras zonas urbanas, o crescimento da capital não foi acompanhado por serviços públicos. Uma das áreas com graves deficiências é o tratamento dos resíduos sólidos urbanos.
Foto: DW/Marta Barroso
Invisíveis perante a lei
Mais de metade da população ativa de Moçambique trabalha no sector informal. Também em Hulene, a lixeira é, para muitos residentes do bairro, a única fonte de rendimento. Lá dentro, os catadores são tolerados, mas para lá dos muros, permanecem à margem da sociedade que os vê como gente falhada. Excluídos das políticas e estratégias nacionais, os catadores permanecem invisíveis aos olhos da lei.
Foto: DW/Marta Barroso
Poucos avanços na separação do lixo
A Política Nacional do Ambiente, de 1995, define a gestão do ambiente urbano e a gestão de resíduos domésticos e hospitalares como prioridade de intervenção, visando melhorar o sistema de coleta, tratamento e deposição de lixo. Mas apesar de esta legislação ter sido adotada há quase vinte anos, poucos avanços se fizeram na separação do lixo.
Foto: DW/Marta Barroso
Lugar de tudo
De tudo um pouco se procura, se reforma e se vende em Hulene: restos de comida, alimentos enlatados fora do prazo, retirados dos supermercados da cidade, objetos de ferro, alumínio, latão e estanho, fio de cobre de eletrodomésticos avariados, garrafas de vidro e plástico, madeira, cartão, papel, pedras, filtros de cigarro, mobília danificada, algodão, borracha, lixo hospitalar e informático.
Foto: DW/Marta Barroso
Sem espaço para reciclagem
Em Moçambique, a reciclagem é feita de forma muito limitada, normalmente no âmbito de projetos ou iniciativas individuais. Um entrave à promoção da reciclagem no país prende-se com a escassez de indústrias que usem material reciclado e, consequentemente, a escassez de mercados para a sua compra. Muitos materiais têm de ser exportados, daí que este ainda não seja um negócio sustentável.
Foto: DW/Marta Barroso
Recicla, Fertiliza e Amor
Apesar disso, há alguns projetos de reciclagem no país. Recicla, Fertiliza e Amor são alguns exemplos. O primeiro produz paletes de plástico para venda em fábricas locais de utensílios domésticos, o segundo faz adubo a partir de lixo orgânico e o último compra lixo reciclável em ecopontos na capital, Maputo.
Foto: DW/Marta Barroso
Encerramento adiado
A última previsão de encerramento da lixeira marcava o ano de 2014 como prazo para transformar Hulene em espaço verde. Agora diz-se que a lixeira só será encerrada depois de construído um aterro sanitário que deverá ser partilhado tanto pela cidade de Maputo como pela vizinha Matola e custará aos dois municípios, ao Governo e a doadores mais de 20 milhões de dólares.
Foto: DW/Marta Barroso
E o lixo aqui continuará
Até a lixeira de Hulene ser encerrada, o lixo continuará a acumular-se aos montes. Montes que, segundo o Conselho Municipal de Maputo, chegaram já a atingir os 15 metros de altura. Mesmo depois de fechada, a decomposição dos resíduos aqui depositados ao longo de tantas décadas irá levar muitos anos.