Utentes queixam-se da demora no atendimento em hospitais e centros de saúde devido à greve dos médicos. Unidades sanitárias garantem funcionamento dos serviços de urgência. Médicos criticam nova Tabela Salarial Única.
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O Ministério da Saúde disse na segunda-feira (05.12) que todos os hospitais do país estavam a funcionar "normalmente". No entanto, em algumas unidades hospitalares em Maputo, onde a DW esteve esta terça-feira (06.12), as consultas externas funcionavam de forma condicionada.
"Estamos aqui desde as cinco [da manhã] e não estamos a ser atendidos", disse uma utente. "Também estou aqui desde manhã e não estou a ser atendida", acrescentou outra. "As pessoas estão a abandonar, porque não estão a ser atendidas", lamentou ainda outra doente.
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Consultas externas paralisadas
No Hospital Geral José Macamo, na cidade de Maputo, vários médicos das consultas externas não se apresentaram ao trabalho, o que obrigou à suspensão dos serviços.
"As consultas externas estão paradas. São aquelas consultas marcadas. Não são situações de urgência e, nesse caso, temos médicos de greve, à exceção de consultas de grávidas, que estão a ser encaminhadas para as enfermarias, porque na maternidade e noutros serviços há um médico de escala", explicou a diretora clínica Andrea Neves.
No Hospital Geral de Mavalane, também em Maputo, vários médicos não se apresentaram ao trabalho, e as consultas externas estavam a funcionar a meio-gás.
"Se é um paciente que está descompensado, está lá um médico no serviço de urgência. Normalmente, vê-se caso por caso e depois é remarcado para outro dia. Nisso não há problema, está tudo assegurado", garantiu a diretora clínica Maria Helena, que frisou que os serviços mínimos estão a ser cumpridos.
O ministro da Saúde, Armindo Tiago, criticou os médicos - que tinham adiado a greve em novembro -, defendendo que estes profissionais não se podem colocar numa situação em que querem ser os únicos a ganhar.
"Nós estamos satisfeitos com a boa-fé que o Governo fez nesse processo. Uma boa negociação, uma negociação de verdade, é aquela em que todos crescem com a negociação, mas todos ganham. Se houver a tendência de alguém querer ganhar, perde-se o conceito de uma negociação", criticou o político.
A Associação Médica de Moçambique ainda não se pronunciou sobre o estado da greve, mas numa conferência de imprensa, na sexta-feira passada (02.12), o presidente da agremiação, Milton Tatia, disse que, durante as negociações, apenas quatro das 14 reivindicações foram respondidas.
"O Governo continua até hoje sem querer cumprir a lei. Nós temos o nosso estatuto, uma definição de 40% para o subsídio de exclusividade, e o Governo reduziu para 5% sem nenhuma explicação. É um dos pontos onde houve regressão em relação àquilo que se vinha pagando", sublinhou o responsável.
A greve deverá durar 21 dias e não deve afetar os serviços de urgência.
No interior do hospital de campanha de Macurungo na Beira
As estruturas do centro de saúde que é referência no atendimento de cerca de 35 mil pessoas na região foram severamente danificadas com a passagem do ciclone Idai. Hospital de campanha já atendeu dois mil pacientes.
Foto: DW/F. Forner
A rotina
O hospital de campanha nos arredores do centro de saúde Macurungo, na Beira, está a funcionar desde 24 de março. "Montamos um centro médico avançado com uma tenda para cirurgia e consultas, além de mais duas tendas para avaliação pós-parto das mães", descreve a médica infectologista Telma Susana Vieira Azevedo, que liderou por dois meses a equipa da Cruz Vermelha em Macurungo.
Foto: DW/F. Forner
Um passeio pelas tendas em Macurungo
Um enfermeiro da equipa da Cruz Vermelha caminha pelas tendas de lona do hospital de campanha gerido em parceria com a ONG Médicos do Mundo. Já foram realizadas mais de duas mil consultas, além de uma média de sete partos diários. Este hospital é referência no atendimento de 35 mil pessoas na região, onde as condições habitacionais ficaram muito debilitadas após a passagem do ciclone Idai.
Foto: DW/F. Forner
No interior do hospital destruído
A noite de 14 de março na Beira foi marcada pelos fortes ventos que arrancaram telhas, chapas e coberturas das casas e edifícios públicos. O hospital de Macurungo sofreu sérios danos estruturais. Mesmo assim, algumas áreas do edifício continuam a ser utilizadas. “Nosso objetivo é conseguir reconstruir o centro de saúde e só depois deixar a Beira”, diz a médica Telma Susana Vieira Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
Balanço pós-Idai
Segundo dados do fundo de redução de desastres do Banco Mundial (GFDRR), Moçambique ocupa a terceira posição no ranking de países africanos mais expostos a múltiplos riscos associados às mudanças climáticas, como ciclones periódicos, secas, inundações e epidemias. Esta foto mostra o coração do hospital de campanha montado em um dos bairros que mais carecem de atenção à saúde.
Foto: DW/F. Forner
Os grandes desafios de Beira
Esta é uma foto aérea do hospital de campanha em Macurungo na Beira. Além da reestruturação de hospitais, as cidades afetadas pelo ciclone Idai também encaram os desafios de reconstrução de moradias, escolas e das infraestruturas urbanas. A ONU estima que o país necessite de pelo menos 200 milhões de dólares de ajuda internacional nestes três primeiros meses pós-ciclone.
Foto: DW/F. Forner
O estoque de medicamentos
Além de servirem como consultórios e locais de operação, algumas tendas do hospital de campanha foram construídas para armazenar equipamentos, medicamentos e demais suprimentos médicos. Nesta foto, o médico Luís Canelas opera um dos computadores que realiza exames de ultrassonografia. O hospital de campanha também realiza exames laboratoriais, como exames de sangue e testes de malária.
Foto: DW/F. Forner
Apoio à população
Em momento de descanso, o enfermeiro da Cruz Vermelha de Cabo Verde Mariano Delgado brinca com uma das pacientes no pátio externo. Estima-se que cerca de 400 mil crianças foram afetadas. "Precisamos fazer um trabalho mais ativo de equipas móveis para ir às populações deslocadas", diz Michel Le Pechoux, representante adjunto do UNICEF em Moçambique.
Foto: DW/F. Forner
Pulverização contra a malária
Homens uniformizados com luvas e protetores fazem a pulverização contra a malária em casas nas ruas de Búzi, a 150 km ao sul da Beira. Os casos de malária aumentaram e um mutirão tenta conter a proliferação do mosquito transmissor.
Foto: DW/F. Forner
Cadastro de pacientes
Esta é a tenda de triagem onde os pacientes são recebidos para a marcação de consultas. "Recebemos pacientes com doenças crónicas, hipertensão, doenças cardiovasculares e parasitárias, bem como pacientes que sofrem de desnutrição e portadores do VIH/SIDA", explica a infectologista da Cruz Vermelha portuguesa Telma Susana Vieira Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
À espera de consultas
As salas de espera no centro de saúde Macurungo ficam diariamente superlotadas com pacientes que sofrem das mais variadas doenças. O cólera está sob controle, mas os casos de malária estão a ser acima do habitual. "As chuvas fazem com que haja poças d’água que são óptimas para a proliferação dos mosquitos havendo mais vetores para transmitir a doença", diz a infectologista Telma Susana Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
Atendimento
Esta é uma das tendas do hospital de campanha Macurungo destinada às consultas médicas e atendimento aos pacientes. Nesta foto, o doutor Miguel e o enfermeiro de Cabo Verde Mariano Delgado dividem o espaço realizando atendimentos e curativos.
Foto: DW/F. Forner
Nos bastidores
Num momento de descanso após o almoço, estes três profissionais de saúde aproveitam a pausa no início da tarde antes de continuar com os atendimentos. Esta sala com macas também serve de refeitório e sala de reuniões. As equipas de médicos, enfermeiros e pessoal de apoio técnico trabalham diariamente sem cessar e se revezam a cada três semanas.