Grupo armado ataca estaleiro em Manica e mata estrangeiro
Bernardo Jequete (Chimoio) | Lusa
7 de abril de 2020
Em ação violenta, grupo invade estaleiro e, segundo testemunhas, manda "recado" para líder da RENAMO. Um cidadão estrangeiro teria sido decapitado durante a ação. Ataques no centro causaram 23 mortes desde agosto.
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Uma pessoa morreu durante o ataque de um grupo armado nesta segunda-feira (06.04) em Matarara, na província de Manica, no centro de Moçambique.
Segundo informações da agência Lusa, homens invadiram um estaleiro utilizado para transporte de madeira ainda durante a madrugada e incendiou sete camiões de carga e dois 'bulldozers'.
O grupo seria composto por sete homens - cinco armados com fuzis e dois com catanas e facas. Um cidadão vietnamita morreu decapitado no ataque. "Mataram com catana e deixaram-no na mata onde fomos recuperar o corpo", disse o sobrevivente José Chimudondo.
Autoridades de saúde de Dombe confirmaram à agência de notícias a entrada do corpo da vítima.
Um outro sobrevivente relatou que os atacantes retiraram os trabalhadores do estaleiro das suas palhotas e os agruparam. O objetivo do grupo com a ação seria dar um "recado".
"Eles diziam que as pessoas estão a morrer por culpa de Ossufo [Momade]", afirmou à Lusa Manuel Jone, um guarda do estaleiro, que escapou das mãos dos atacantes.
Sequência de ações violentas
Momade é o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) - principal partido da oposição em Moçambique - que em agosto de 2019 assinou um acordo de paz com o Presidente Filipe Nyusi. O texto prevê o desarmamento e integração de membros do partido às Forças Armadas de Defesa e Segurança de Moçambique.
Jone disse que o grupo armado foi claro quanto a sua insatisfação: "Nós estamos no mato a sofrer enquanto Ossufo está na cidade", teriam dito durante o ataque.
Segundo as testemunhas, os homens exigiram dinheiro, levaram bens e alimentos, mas durante a retirada não conseguiram carregar a farinha de milho e o peixe seco guardado pelos trabalhadores.
O estaleiro fica cerca de 10 quilómetros da Estrada Nacional 01 - a principal ligação entre o sul e o norte de Moçambique – que tem histórico de incursões de homens armados. Ataques do género intensificaram-se nos últimos dias. Desde agosto, estes ataques já mataram 23 pessoas.
Acordo de Paz histórico em Moçambique
Em Moçambique, o Presidente Filipe Nyusi e o líder da RENAMO, Ossufo Momade, formalizaram na quinta-feira (01.08) o fim das hostilidades militares no país. O acordo, já considerado histórico, é o terceiro em 25 anos.
Foto: DW/A. Sebastião
Acordo histórico
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da RENAMO, Ossufo Momade, erguem o acordo de paz e fim das hostilidades, que foi assinado na Serra da Gorongosa, província de Sofala, centro do país. O local é conhecido como bastião da RENAMO. O acordo tem como objetivo acabar com os confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/A. Sebastião
Anos de hostilidade
"Estamos aqui em Gorongosa para dizer a todos moçambicanos e ao mundo inteiro que acabámos de dar mais um passo, que mostra que a marcha rumo à paz efetiva é mesmo irreversível", declarou Filipe Nyusi, referindo-se ao acordo assinado com a RENAMO. É o terceiro documento após anos de hostilidades. O primeiro foi assinado em 1992, em Itália - o chamado Acordo Geral de Paz de Roma.
Foto: DW/A. Sebastião
Virar a página
"Com esta assinatura do acordo de cessação das hostilidades militares, queremos garantir ao nosso povo e ao mundo que enterramos a lógica da violência como forma de resolução das nossas diferenças", afirmou o líder da RENAMO, Ossufo Momade, ressaltando que "a convivência multipartidária será o apanágio de todos partidos políticos".
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Silenciar das armas
O pacto cala oficialmente as armas e prolonga de forma definitiva uma trégua que durava desde dezembro de 2016, depois de vários anos de confrontos armados entre as forças governamentais e o braço armado da RENAMO.
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Abraço da paz
Na cerimónia de assinatura do acordo, o Presidente de Moçambique Filipe Nyusi mostrou-se otimista em relação aos próximos anos, dizendo que "a incerteza deu ligar à esperança e o futuro de Moçambique é promissor".
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"Paz vai ser testada nas eleições"
Este novo acordo é um passo muito importante para Moçambique e também para todos os partidos. Daviz Simango, líder do MDM, esteve na cerimónia e alertou: "Temos que trabalhar muito neste processo eleitoral que se avizinha. Portanto, se o STAE nos proporcionar o teatro, que tem vindo a fazer de ciclo em ciclo eleitoral, pode proporcionar o retorno a essas situações de conflitos militares".
Foto: DW/A. Sebastião
Unidos pelo acordo
Horas depois da assinatura do acordo, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse na Beira que o Governo e a RENAMO vão unir-se para debelar qualquer tentativa de prejudicar o acordo de cessação definitiva de hostilidades militares.