"Guerra contra o terrorismo está quase a chegar ao fim"
Lusa
13 de maio de 2022
Comandante-geral da Polícia da República de Moçambique diz que a "guerra contra o terrorismo está quase a chegar ao fim", alertando para operações militares finais mais duras, em Cabo Delgado.
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O comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, fez esta sexta-feira (13.05) um ponto de situação sobre o combate contra grupos armados que aterrorizam distritos da província de Cabo Delgado, quando falava com um contingente militar do Ruanda, no Posto Administrativo de Chai, distrito de Macomia.
"Não estamos a dizer que chegámos ao fim, mas está quase", declarou Rafael.
O chefe máximo da polícia moçambicana avançou que já foram executadas 70% das operações militares planificadas contra os grupos armados que atuam na província de Cabo Delgado, faltando concretizar 30%.
"A guerra é mais dura, difícil, quando chega ao fim, quando está quase a chegar ao fim", enfatizou o comandante-geral da polícia.
Balanço dos dois últimos meses
Para ilustrar o sucesso da luta contra a insurgência, Bernardino Rafael adiantou que 54 "terroristas" foram mortos nos últimos dois meses, em confrontos com as forças governamentais de Moçambique, Ruanda e Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Dessas ações resultou ainda a captura de quatro insurgentes, tendo 120 populares fugido durante os combates e 75 escapado de acampamentos dos grupos armados.
Os resultados no terreno de operações demonstram que as forças governamentais estão a "bater duro no inimigo", prosseguiu Bernardino Rafael.
A violência terrorista contra crianças em Cabo Delgado
02:28
"Continuaremos a combater, sem trégua, os terroristas, até ao último reduto", disse, exortando os rebeldes a voltarem para casa, porque estão "encostados" pelas forças governamentais.
Apelo em Macomia
Numa visita a uma posição das Forças de Defesa e Segurança moçambicanas, na Aldeia Nova Zambézia, em Macomia, o comandante-geral da PRM apelou a uma convivência harmoniosa entre os militares e a população, alertando para o risco de abusos dos direitos humanos.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais, com o apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes.
O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Apesar da tendência de retorno das populações às zonas de origem, várias aldeias ainda continuam desertas e o cenário de destruição é visível nessas comunidades.
Foto: DW
Sensação de paz em Macomia
O distrito de Macomia já registou o regresso de grande parte da sua população que se havia evadido para outras zonas com a escalada da violência protagonizada pelos insurgentes, localmente conhecidos por "al-shababes". Na vila, atividades comerciais ganham terreno. Mas a população pede ainda a permanência do exército para lhes proteger. O desejo dos residentes é que a paz tenha vindo para ficar.
Foto: DW
Serviços públicos em Mocímboa da Praia
Após a recuperação do território, em agosto de 2021, as autoridades estão empenhadas no restabelecimento dos serviços públicos de modo a impulsionar o retorno da população que se refugiou em comunidades de Cabo Delgado. O Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos comprometeu-se em alocar escritórios moveis ao governo de Mocímboa da Praia para fazer face à escassez de infraestruturas.
Foto: DW
Local do massacre de Xitaxi
A 7 de abril de 2021, na aldeia de Xitaxi, no distrito de Muidumbe, os terroristas terão morto a sangue frio um grupo de 53 jovens num campo de futebol (ao fundo da imagem). Aparentemente, a causa da chacina foi a recusa desses jovens, que haviam sido raptados localmente e em aldeias já atacadas, em juntar-se ao movimento rebelde que devasta Cabo Delgado desde o ano de 2017.
Foto: DW
Forças Armadas na estrada
A estrada N380 liga o distrito de Ancuabe a Mocímboa da Praia. A via permaneceu intransitável com a escalada da violência terrorista em aldeias atravessadas pela rodovia. Com as ações terroristas enfraquecidas, a N380 voltou a ser transitável, embora de forma tímida. Veículos militares patrulham constantemente, para garantir que nenhuma situação de alteração da ordem venha a verificar-se.
Foto: DW
Destroços visíveis
Sucatas de veículos destruídos denunciam a quem por aqui passa, cenários de violência vividos na estrada principal que liga sul, centro e norte da província.
Foto: DW
Bens abandonados
Terroristas bloquearam durante um ano o acesso aos distritos no norte, com destaque para Mueda e Mocímboa da Praia, com o assalto ao posto de controlo policial no cruzamento de Awasse. Após o seu desalojamento pela força conjunta Moçambique-Ruanda, os terroristas abandonaram alguns dos seus bens, em caves que serviam de esconderijos.
Foto: DW
Ruínas
Casas abandonadas e em ruínas e zonas residenciais tomadas pelo capim são o retrato que se repete em diversas aldeias ao longo das estradas N380 e R698. Denunciam também a crueldade dos terroristas.