Há sinais que podem atrair investimento estrangeiro
Lusa | ni
25 de novembro de 2019
A Capital Economics, que acompanha a economia de Moçambique, considera que a decisão da Standard & Poor's de retirar o país do incumprimento financeiro abre a porta ao FMI e encoraja os investidores.
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O analista da Capital Economics, empresa de análise económica com sede em Londres, Virág Fórizs, disse à agência Lusa que "a decisão da Standard & Poor's (S&P) de melhorar o 'rating' de Moçambique [para CCC+], tirando-o do 'default', vai melhorar o sentimento dos investidores, ajudar o país a ganhar acesso aos mercados internacionais e pode reabrir a porta para um acordo com o Fundo Monetário Internacional".
A S&P foi a terceira das três maiores agências de 'rating' a tirar o país da categoria de default (incumprimento financeiro), atribuindo à economia do país uma perspetiva de evolução estável.
O analista da Capital Economics acrescentou que apesar das autoridades quererem deixar para trás o escândalo das dívida ocultas, "a elevada dívida de Moçambique continua a ser uma preocupação".
O acordo com os credores dos títulos de dívida soberana, apontou, "representa apenas 4% do total da dívida", mas ainda assim, concluiu, "as perspetivas económicas do país são boas com o desenvolvimento dos investimentos no setor do gás natural".
Previsões de abrandamento e subida
No documento da agência de notação financeira S&P prevê-se que o país abrande para os 2,5% este ano e que o rácio da dívida pública face ao produto interno bruto (PIB) suba para 116,2%.
"O desempenho económico deste ano foi significativo e negativamente afetado pelos dois ciclones tropicais, Idai e Kenneth, em março e abril, e em resultado a produção agrícola e de eletricidade deverá ser fraca durante o ano devido aos estragos causados nas acolheitas e na infraestruturas, incluindo o porto da Beira, um dos grandes portos para as exportações de matérias primas", escrevem os analistas.
Impacto da crise na vida dos moçambicanos
Trabalhadores em Maputo relatam as dificuldades que enfrentam todos os dias, com o país mergulhado numa crise financeira. Alguns ainda conseguem pequenos lucros, enquanto outros tentam estratégias para atrair clientes.
Foto: DW/Romeu da Silva
Novos tempos, menos lucros
Ana Mabonze tem uma loja de gelados há pouco mais de sete anos e diz que os rendimentos não têm sido bons ultimamente. Por dia, lucra apenas o equivalente a cerca de dois euros. O negócio é feito na ponte cais, também conhecida por Travessia. Nestes dias, os lucros baixaram porque os automobilistas que iam de ferryboat para Katembe agora usam a nova ponte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"Boa cena"
O negócio de transferência de dinheiro por telefone conhecido por Mpesa está a alimentar muitas famílias. É o caso de Angélica Langane, que na sua banca "Boa Cena" diz ter clientes frequentemente, porque muitos estão preocupados em transferir dinheiro, seja para pagar dívidas, fazer compras ou apenas para ter a sua conta em dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
O dinheiro não aparece
Numa das ruas de Maputo também encontramos Dulce Massingue, que montou a sua banca de venda de fruta. Para ela, este negócio não está a dar lucros. Diz que o pouco que ganha apenas serve para pagar o seu transporte. Nestes dias de crise, Dulce pensa em mudar de negócio, mas tudo depende do dinheiro que não aparece.
Foto: DW/Romeu da Silva
Trabalhar para pagar o transporte?
O trabalho de Jorge Andicene é recolher garrafas plásticas para serem recicladas pelos chineses. Sem ter revelado quanto ganha por este negócio, Jorge diz que não chega a ser bom, porque o mercado está muito apertado. Os preços de vários produtos subiram, por isso também os lucros são apenas para pagar o transporte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"As pessoas comem menos na rua"
A dona desta barraca não quis ser identificada, mas confessa que por estes dias o negócio baixou bastante. Vende hambúrgueres e sandes. As pessoas agora preferem trazer as suas refeições de casa para poupar dinheiro, diz. O negócio rende-lhe por dia o equivalente a dois euros, dinheiro que também deve servir para comprar outros bens para as crianças.
Foto: DW/Romeu da Silva
Costureira também não vê lucros
O arranjo de roupas é outro negócio pouco rentável, mesmo nos tempos das "vacas gordas". É oneroso transportar todos os dias esta máquina, por isso Maria de Fátima decidiu ficar num dos armazéns na cidade de Maputo, pagando um determinado valor. São poucos os clientes que a procuram para arranjar as suas roupas.
Foto: DW/Romeu da Silva
Negócio já foi mais próspero
Um dos negócios que tinha tendência de prosperar na capital era a venda de acessórios de telefones. Mas como há muitas pessoas que fazem este negócio, a procura agora é menor e o lucro baixou muito. O que salva um pouco estes empreendedores é o facto de cada dia haver novos tipos de telefones.
Foto: DW/Romeu da Silva
Poder de compra reduzido
Nesta oficina trabalham jovens mecânicos especializados na reparação de radiadores. Não quiseram ser identificados, mas afirmam que durante anos este negócio lhes rendia algum dinheiro para pagar a escola. Mas com a crise que se vive agora, a situação agravou-se. São poucos os clientes que os procuram e alegam que muitos moçambicanos perderam poder de compra.
Foto: DW/Romeu da Silva
Nada de brilho
O negócio de engraxador é outro que já não está a render, segundo os profissionais. Os únicos indivíduos que os procuram são estrangeiros de origem europeia, sobretudo portugueses. Os nacionais, diz Sebastião Nhampossa, preferem fazer o serviço por conta própria em casa. Com esta crise, é normal os engraxadores serem visitados apenas por um ou dois clientes por dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
Estratégias para atrair o cliente
Quando as atividades da Inspeção Nacional das Atividades Económicas (INAE) trouxeram à tona a real situação de higiene nos restaurantes, muitos cidadãos passaram a não frequentar estes locais. Como forma de deleitar a clientela, o dono deste pequeno restaurante promove música ao vivo de cantores da velha guarda e ten uma sala de televisão para assistir a jogos de futebol.