A integração dos homens da RENAMO no SISE é o atual "cavalo de batalha" nas negociações de paz entre o maior partido da oposição e o Governo. O líder da RENAMO espera uma cedência do Governo em nome da reconciliação.
Publicidade
A integração dos homens da RENAMO no SISE, os Serviços de Informação e Segurança do Estado, é uma das reivindicações do partido rejeitado pelo Governo da FRELIMO. Mas o Presidente Filipe Nyusi já fez algumas cedências e até as partes já falam em datas para o acordo de paz definitivo. A DW África entrevistou Ossufo Momade, líder da RENAMO, sobre o dossier da paz que já vai na sua reta final:
DW África: Prevê-se um acordo de paz definitivo em agosto. Já estão satisfeitas as reivindicações da RENAMO?
Ossufo Momade (OM): O compromisso é de termos a resolução de todos os problemas existentes até agosto deste ano. E isso vai depender da boa vontade da parte [da FRELIMO], nós vamos cumprir com a nossa parte e vamos ver se os nossos irmãos do Governo vão poder cumprir, isso em relação ao que colocamos, que observamos durante este tempo. O que queremos é a paz, o povo quer a paz. A nossa vontade é de vermos as duas partes a cumprirem com o que foi discutido na mesa. Encorajamos o povo de Moçambique que espere pela solução que há-de vir desse processo. É um processo complexo, mas é preciso que cumpramos com o que foi discutido.
DW África: Há uma agilidade "extra" para se finalizar o acordo de paz definitivo antes das eleições. Isso não levanta riscos de se alcançar um acordo "imperfeito"?
OM: Não, nós vamos trabalhar para que o acordo tenha lugar até agosto deste ano e esse trabalho é para garantir a integração e desmobilização das nossas forças. Penso que havendo boa vontade isso vai acontecer.
DW África: E em relação à integração dos homens da RENAMO no SISE, os Serviços de Informação e Segurança do Estado, como ficou?
OM: Estamos a discutir, é um assunto que está na mesa, e esperamos que isso venha a acontecer.
DW África: Esse é agora o ponto mais polémico na mesa de discussão...
OM: Mas se Moçambique quer uma reconciliação nacional é preciso que a outra parte aceite porque os oficiais e guerrilheiros da RENAMO são moçambicanos e os que fazem parte dos serviços secretos são moçambicanos. Não há nada a temer ou desconfiar, enquanto houver boa vontade não pode haver desconfiança entre as partes.
DW África: E se por ventura o acordo não for alcançado antes da data prevista para as eleições o que fará o seu partido?
Homens da RENAMO no SISE "é a nossa exigência", diz Momade
OM: Nós estamos a trabalhar para que tudo aconteça e nunca colocar um obstáculo a nossa frente, porque o que queremos é que tudo aconteça consoante o que combinamos e através da ajuda da comunidade internacional.
DW África: O processo de desarmamento, desmobilização e integração (DDR) carece de capital financeiro, as duas partes pretendem realizar uma cimeira para angariar apoio. Faz sentido que se busque apoio externo para resolver um problema de caráter interno desta natureza?
OM: Nós queremos que seja a comunidade internacional a apoiar esse processo porque o país não tem capacidade financeira para resolver o problema, então temos de recorrer a comunidade internacional. E principalmente porque queremos a transparência neste processo, já vimos muitos fundos a serem desviados e nós gostaríamos que houvesse uma integração das três partes, a comunidade internacional, a RENAMO e o Governo.
Guerrilheiras da RENAMO aguardam paz e reintegração
A desmilitarização também se faz no feminino. As mulheres estão prontas para entregar as armas, assegura a Liga Feminina da RENAMO, e aguardam com expetativa a reintegração nas forças governamentais.
Foto: DW/M. Mueia
Na expetativa do acordo
Muitas mulheres na RENAMO são guerrilheiras e aguardam a sua reintegração social. Estão interessadas em entregar as armas e exercerem outras atividades profissionais. Esperam pelo acordo final entre as principais partes envolvidas no processo de deliberação, neste caso as bancadas parlamentares da RENAMO e A FRELIMO.
Foto: DW/Marcelino Mueia
O aguardado regresso à vida civil
Teresa Abdul, da província do Niassa, começou a combater quando tinha apenas 14 anos. Aguarda o desarmamento e o regresso à vida civil com muita expectativa. “Este processo é muito melhor. Temos muitas pessoas que passaram pela guerra, lutaram, mas até agora não estão a ser reintegradas nos seus lugares, é triste. Caso este processo ocorra, estaremos agradecidos porque todos estarão na linha”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Luta de quase quatro décadas
As mulheres do maior partido da oposição comemoraram o 38º aniversário da criação da Liga Feminina a 5 de Julho de 2018. As celebrações a nível nacional tiveram lugar na província moçambicana da Zambézia, juntando representantes do partido oriundos maioritariamente das províncias.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Que se cumpra o acordo feito com Dhlakama
Albertina Naene, ex-guerrilheira, ingressou nas fileiras militares da RENAMO com apenas 13 anos. Hoje, com 46, apela ao Presidente para prosseguir com os acordos de cessação definitiva das hostilidades militares."O Governo da FRELIMO está a atrasar o processo. Deveria cumprir o que ficou acordado com o presidente Dhlakama. Queremos que aqueles nossos irmãos saiam para virem conviver connosco”.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Encontros para motivar e mobilizar apoiantes
A morte do líder da RENAMO não significa o fim do regime partidário. As autoridades políticas da RENAMO na província da Zambézia, têm mantido encontros constantes depois da morte de Afonso Dhlakama. Os encontros não visam apenas traçar planos de atividade para as delegações distritais e membros do partido, também servem para motivar os seus simpatizantes e eleitores.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Maria Inês Martins - presidente da Liga da Mulher da RENAMO
Para a presidente da Liga da Mulher da RENAMO, a integração dos guerrilheiros nas forças governamentais podia começar pelos que, depois dos acordos de paz de 1992, foram integrados e depois afastados “sem justa causa”. “Foram desmobilizados e despromovidos, a outros foram dadas reformas compulsivas. Esta seria uma prova de que o Presidente Nyusi está disponível para cumprir o que acordaram".
Foto: DW/M. Mueia
O desejo de uma vida em paz
Populares querem paz, para continuar a produzir comida, dizem as vendedeiras ao longo da estrada EN1 em Malei, distrito de Namacurra, na Zambézia. Apesar da zona não ter sido afetada pelo conflito no ano passado, algumas vendedeiras dizem que
temiam a situação. Dormiam em prontidão, com malas preparadas para abandonarem as suas casas, em caso de conflito.
Foto: DW/Marcelino Mueia
Partido "envelhecido"
A RENAMO, continua a ser um partido político com muitos membros idosos. De acordo com o politólogo Ricardo Raboco, a derrota da RENAMO nos pleitos eleitorais está também associada a este fator. Mas o politólogo também opina que, em Moçambique, os mais velhos são mais fiéis à RENAMO e poucos emigram para outras formações políticas. E há cada vez mais idosos a filiar-se pela RENAMO.