Conferências, cursos, iniciativas para empoderar as mulheres, leituras de declarações públicas foram alguns dos eventos que aconteceram nos países africanos neste 8 de março por ocasião do Dia Internacional da Mulher.
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Em Moçambique o dia internacional da mulher foi assinalado esta quinta-feira (08.03) sob o lema "Igualdade para mulheres é progresso para todos".
Participantes de uma mesa redonda realizada em Maputo defenderam que deve haver maior investimento na equidade do género, como uma condição para o desenvolvimento económico e social do país.
A mesa redonda debruçou-se sobre o tema "mudança e progresso nos direitos das mulheres em Moçambique: que avanços?".
Graça Machel, Presidente do Fundo de Desenvolvimento da Comunidade, considerou que existe visibilidade da mulher no Parlamento e no Governo ao contrário do que se verifica ao nível do setor produtivo e da academia. Lamentou que apesar deste ganho o nível de debate sobre os assuntos relacionados com a mulher continua baixo.
Desafios quotidianos
O debate tocou ainda várias questões que as mulheres enfrentam no seu dia a dia e constituem um desafio, nomeadamente os atos de violência, a discriminação no trabalho o assédio sexual e os casamentos prematuros.
Relativamente aos casamentos prematuros, dados divulgados esta semana pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) indicam que apesar de ter diminuído em 15% o nível de casos de casamentos prematuros na última década, em Moçambique a situação ainda é tida como preocupante com as estimativas a indicarem que quase uma em cada duas raparigas casou antes dos 18 anos.
Benilde Nhalivilo, da organização Forum da sociedade civil para a criança, reconhece a situação mas apontou, que se registam alguns avanços com o resgate de várias crianças vitimas de casamentos prematuros.
"Usa-se muito a cultura para violar os direitos das mulheres, das raparigas. Estamos a trabalhar numa lei para criminalizar os casamentos prematuros mas também existe muito trabalho de sensibilização e prevenção aos casamentos prematuros ao nível dos distritos".
O papel dos mediaPara Selma Inocência, jornalista, os media podem desempenhar um papel fundamental para se ultrapassar o atual cenário.
"É necessário que os media reportem adequadamente de uma forma holística para que os problemas possam ser discutidos e façam parte das agendas da organização de políticas e também o reforço de necessidade de reformas de algumas leis".
Os participantes apelaram a harmonização de políticas públicas e apontaram que existe uma dissonância entre a lei da família que permite o casamento de uma criança com 16 anos e a Constituição da República. Condenaram igualmente o facto da legislação descriminalizar um homem que viole uma mulher ou criança desde que aceite casar-se com ela.Os participantes consideraram ainda que as autoridades devem pensar em políticas de desenvolvimento do campo porque em caso de problema a mulher é o elo mais fraco. Citaram como exemplo que para resolver um problema material algumas famílias entregam as suas filhas.
Moçambique: “Igualdade para mulheres é progresso para todos”
"Iniciativas do género são necessárias"
O moderador do debate Bayano Valy dá nota positiva a iniciativa. "Eu acho que foi um debate muito positivo e iniciativas deste género são necessárias de modo que possamos discutir e debater aquilo que são os nossos problemas enquanto moçambicanos".
Participaram na mesa redonda organizações da sociedade civil, políticos, o público interessado e embaixadores de vários países.
Esta iniciativa foi patrocinada pela União Europeia e outros países como o Canadá e enquadra-se na semana da mulher durante a qual estão a ser promovidos debates, exposições, exibição de filmes e atividades culturais e desportivas.
Dez cantoras dos PALOP que fazem sucesso na Europa
Cada vez mais cantoras da África lusófona singram na Europa. Cultura, histórias das suas pátrias e o papel da mulher na sociedade são temas recorrentes nas músicas. Cabo Verde é um dos países mais bem representados.
Foto: Wikipedia/Lindaines1995
Aline Frazão
Cantora e compositora de Luanda, detentora de uma voz doce e poética que contrasta com o caráter interventivo e político da sua música. Foi uma das vozes pela libertação dos 15 ativistas detidos em Angola em 2015. Perto de completar 30 anos, conta já com três discos no portfólio e inúmeras passagens por palcos internacionais.
Foto: P. Szymanski
Elida Almeida
Com 25 anos, Elida Almeida pertence à nova geração de músicos de Cabo Verde. Interpreta os ritmos da sua ilha natal, Santiago, como o batuco, funaná e tabanka. Na sua música, é frequente encontrar tópicos que visam a situação das mulheres em Cabo Verde, como a educação e a gravidez na adolescência.
Foto: DW/A. Gensbittel
Cesária Évora
Ícone maior da música cabo-verdiana, levou a história do seu país a todo o mundo. Fonte de inspiração e figura incontornável para as novas gerações conterrâneas. Faleceu em 2011, aos 70 anos. Em março, vai ser homenageada pela ONU no festival "Over the Border" que se realizará em Bona.
Foto: Over the Border Festival
Lura
Nascida em Portugal, só conheceu Cabo Verde na adolescência. A música é a forma de se aproximar das suas origens e dar a conhecer a história do país e do seu povo. Vê na mulher cabo-verdiana uma fonte de inspiração. Entre os reconhecimentos internacionais, destaca-se o álbum "Herança", que, em 2015, foi distinguido entre os dez melhores em todo o mundo, pela revista britânica "Songlines".
Foto: DW/A. Gensbittel
Mayra Andrade
É uma verdadeira cidadã do mundo, mas não esquece as origens cabo-verdianas. Canta em várias línguas, incluindo crioulo. Ao longo da carreira já colaborou com diversos artistas, como a conterrânea Cesária Évora. Chega a ser vista por alguns como a sua sucessora. Em 2008, foi considerada a artista revelação para a BBC3.
Foto: Sony Music
Sara Tavares
Portuguesa mas com as raízes cabo-verdianas bem presentes, a "terra mãe", como canta num dos seus temas. Conta com uma longa e sólida carreira que inclui colaborações com diversos artistas e projetos musicais e até uma participação no Festival Eurovisão da Canção. Depois de um hiato, voltou ao ativo e continua a reinventar-se como artista.
Foto: Günther Klebinger
Karyna Gomes
Em 2016, Karyna Gomes foi a primeira artista guineense a subir ao palco do Africa Festival, o maior e mais antigo festival de música africana na Europa, que se realiza anualmente na Alemanha. Misturando sons tradicionais e modernos, da sua voz saem as histórias da sua terra, com particular destaque para a força feminina.
Foto: DW/A. Gensbittel
Eneida Marta
Sonhadora e otimista que canta a Liberdade. Aliás, esta guineense nasceu quando o seu país caminhava para a independência. Além da música, abraça também as questões sociais: é embaixadora da boa vontade da UNICEF na Guiné-Bissau, focando-se no problema do casamentos infantis. Em 2017, passou pelo palco do Africa Festival, na Alemanha.
Foto: DW/J. Carlos
Mariza
Mariza nasceu em Moçambique, filha de mãe moçambicana pai português. Apesar de se destacar no fado, estilo tipicamente português, é uma artista versátil e não é difícil encontrar ritmos africanos no seu trabalho. Mundialmente reconhecida, esgota as salas de concertos por onde passa. Já foi por duas vezes nomeada para os reconhecidos prémios Grammy.
Foto: q-rious music
Deolinda Kinzimba
Pode ainda não andar pela ribalta internacional, mas, aos 20 anos, a angolana Deolinda Kinzimba fez história ao sagrar-se vencedora da terceira edição do programa "The Voice Portugal", em 2015. A poderosa interpretação de "I will always love you" de Whitney Houston conta com mais de 1 milhão de visualizações no YouTube. Em 2017, lançou o primeiro álbum.