Ilícitos e abstenção mancham intercalares em Nampula
Sitoi Lutxeque (Nampula)
14 de março de 2018
Fraca afluência nas mesas de votação e problemas de cadernos repetiram-se na segunda volta das intercalares em Nampula. Os órgãos da administração eleitoral reconhecem os problemas, mas minimizam-nos.
Publicidade
A votação da segunda volta para a eleição do edil de Nampula, a terceira maior cidade moçambicana, terminou por volta das 18 horas locais, altura que iniciou a contagem de votos. Mas, a semelhança da primeira volta a 24 de janeiro passado, alguns problemas prevaleceram. Um deles foi a falta de fluência e problemas de nomes nos cadernos eleitorais.
Segundo o cidadão Santos Felisberto, "faltou o aconselhamento [educação cívica], fora da campanha eleitoral. O Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) deveria criar alguns mecanismos de como sensibilizar as pessoas a irem votar. Para evitar que esteja alguém no poder que não era do nosso desejo é melhor ir votar."
Edumundo Manuel, outro eleitor, votou na Escola Primária de Namuatho B, próximo da sua residência, sem problemas, mas lamentou a fraca participação: "Como estamos a falar dessa área de Namuatho [nas proximidades de campo agrícolas] alguns munícipes talvez tenham ido as machambas."
Ilícitos mancham processo
Também a Sala da Paz, grupo de organizações da sociedade civil que observou a votação, confirma estes problemas. O grupo suspeita que as abstenções possam ter sido mais elevadas, ultrapassando os 75% da primeira volta.
"Tivemos alguns ilícitos eleitorais que, de alguma forma, mancham o processo eleitoral, como é o caso da detenção de dois jovens que estavam a fazer campanha a favor do candidato da RENAMO, e ainda um caso de ilícito duma senhora que, supostamente, estava a fazer a entrega de uma lista de 24 pessoas estranhas ao presidente de mesa", relata Juma Aiuba, o porta-voz da organização.
"A única coisa que nos preocupa neste momento são os níveis de abstenções. Estamos com receios de que os níveis de abstenção ultrapassem os 75% da primeira volta", diz.
Ilícitos e abstenção mancham intercalares em Nampula
Avaliação positiva da Polícia e da CNE
O porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula, Zacarias Nacute, minimiza os ilícitos eleitorais. "Está tudo controlado até ao momento e não tivemos nenhum caso de sobressalto. E penso que os munícipes comportaram-se de forma ordeira e o processo decorreu sem sobressalto", afirmou.
Os órgãos da administração eleitoral reconhecem igualmente os problemas, mas minimizam-nos, garantindo que foram resolvidos.
"[Os problemas] podem ter sido por questões organizacionais, mas não propositada. Neste momento avalio que o processo decorreu de forma tranquila", diz Martinho Marcelino, presidente da Comissão Distrital de Eleições de Nampula.
Foram inscritos para votar tanto nesta segunda volta, quanto na primeira, um total de 296.590 eleitores distribuídos em 401 assembleias de votos.
Eleições intercalares em Nampula
Já teve início em Nampula, norte de Moçambique, o ato eleitoral que elegerá o sucessor de Mahamudo Amurane. As eleições decorrem até às 18h00 e contam com cerca de 300 mil eleitores e cinco candidatos nos boletins.
Foto: DW/S. Lutxeque
Munícipes chegam cedo
Um pouco por toda a província, os munícipes responderam positivamente ao apelo da CNE para votarem o mais cedo possível e começaram a marcar lugar nas filas para as assembleias de voto duas horas e meia antes da abertura das urnas. As urnas estão abertas até às 18:00, com 296.590 eleitores inscritos e cinco candidatos nos boletins de votos.
Foto: DW/S. Lutxeque
Atrasos na abertura das urnas
Sete horas da manhã desta quarta-feira (24.01.) era o horário previsto para a abertura das 54 assembleias de voto, mas algumas só começaram a funcionar uma ou duas horas mais tarde. Os atrasos registaram-se nos postos de votação instalados nas escolas de Muthita, 12 de Outubro, Mpuecha, Namicopo e Nahene, entre outros.
Foto: DW/S. Lutxeque
Denúncia de ilegalidades
Durante a manhã, Mário Albino, candidato do movimento AMUSI, denunciou a presença "de novos eleitores que não constam nos cadernos eleitorais". As declarações foram feitas depois de ter ido votar. Mário Albino mostrou-se satisfeito e confiante na vitória. Para estas eleições, foram credenciados 1200 observadores nacionais e internacionais e cerca de 150 jornalistas nacionais.
Foto: DW/S. Lutxeque
CNE garante normalidade no processo
Daniel Ramos, presidente da Comissão Provincial de Eleições, negou as acusações. Segundo este responsável, o processo eleitoral está a decorrer sem problemas. Sobre o atraso na abertura de mesas da assembleia de voto, Daniel Ramos explica que ficou a dever-se às chuvas que caíram durante a noite de ontem e início desta manhã.
Foto: DW/S. Lutxeque
Falta de material
Também a plataforma de observadores eleitorais que acompanha o processo denunciou, à margem de uma conferência de imprensa, algumas irregularidades na abertura das eleições. Entre elas, a falta de material de votação. Segundo a organização, 57% das 401 assembleias de voto abriram à hora estipulada. As restantes abiriram com um atraso de cerca de uma/duas horas.
Foto: DW/S. Lutxeque
Assembleia de voto encerrada
A votação foi interrompida na Escola Comunitária de Malimusse. Membros do MDM paralisaram o processo devido a erros nos cadernos eleitorais. Luísa Morroviça (na foto), fiscal do MDM, afirma que o seu partido “não vai admitir brincadeiras do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral. A assembleia de voto em causa já admitiu o problema e confirma que a votação está interrompida desde manhã.
Foto: DW/S. Lutxeque
Cinco candidatos na corrida
Disputam o cargo de presidente do Município de Nampula Carlos Saíde do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Amisse Cololo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Paulo Vahanle da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Filomena Mutoropa do Partido Humanista de Moçambique (PAHUMO) e Mário Albino Muiquissince da Ação Movimento Unido Para Salvação Integral-Nampula (AMUSI).
Foto: DW/S. Lutxeque
Mandato curto
O MDM venceu as últimas eleições, em 2013, com 53,84% dos votos e a FRELIMO, que lidera o Governo em Moçambique, arrecadou 41,04%. Na altura, a RENAMO boicotou as autárquicas. Para além de contarem com mais candidatos, estas eleições diferenciam-se ainda pelo curto mandato que vão ditar, uma vez que as eleições autárquicas em Moçambique estão marcadas para 15 de outubro deste ano.