Há centenas de desempregados em Inhambane e os preços dos produtos alimentares continuam a subir. Governo prometeu apoiar famílias, mas ainda não cumpriu a promessa. População pede levantamento gradual das restrições.
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Esperança Macamo, residente no distrito de Homoine, disse à DW África que em 2020 perdeu o emprego que tinha numa organização não-governamental estrangeira e precisa de apoio para sobreviver.
"Com esta tristeza da pandemia e fome não somos apoiados, precisamos de muito apoio porque há dias atrás andaram a escrever a muita gente a dizer que iam dar dinheiro, mas não deram nada", lamenta. "Mas quando chegar [o dia do] voto vão precisar de nós", criticou.
Benjamim Chissico, residente na cidade da Maxixe, afirma que a maior dificuldade é a subida dos preços dos produtos de primeira necessidade.
"Devido à pandemia, está tudo parado, mas o problema superior é o preço das comidas nas lojas que está muito elevado. A água também é cara", adverte. "O Governo é que pode criar mecanismos para a gente viver", pede.
Governo local admite dificuldades
Fernando Bambo, presidente do município da cidade de Maxixe, tida como a capital económica da província de Inhambane, diz que o novo coronavírus, SARS-CoV-2, trouxe vários problemas e reduziu o poder de compra nas lojas e armazéns locais.
"A pandemia trouxe problemas sociais e económicos, o que significa que o poder de compra se reduziu em várias pessoas, nomeadamente no comércio, transporte e produção de alimentos", admite.
Por outro lado, o setor do turismo também tem de lidar com enormes prejuízos, como por exemplo o despedimento de trabalhadores nas diversas áreas. Só este ano mais de mil cidadãos perderam o emprego por causa da pandemia.
Para Yassine Amugy, presidente da Associação de Turismo de Vilankulo, deve apostar-se na descentralização das medidas restritivas e fortalecer o controlo da evolução pandémica.
"É porque sabemos que a pandemia vai ficar mais tempo. Mesmo com a vacina, penso que o Estado poderia aproveitar esta oportunidade para começar a desejada descentralização, monitoria a evolução da pandemia e ir adaptando as medidas de acordo com a realidade", sugeriu.
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Mais despedimentos a curto-prazo
Emílio Nhantumbo, diretor provincial da Cultura e Turismo em Inhambane, reconhece que atualmente a situação pandémica está a trazer prejuízos para o setor privado.
"Acabou por afetar significativamente o turismo. O setor privado está com casas quase vazias e isso acaba por obrigar a despedir trabalhadores e a fechar empreendimentos", alerta.
Emílio Nhantumbo acrescenta que a situação pode vir a piorar. Por isso pede o cumprimento das medidas para que haja um relaxamento das restrições caso haja uma diminuição do número de novos infetados com a Covid-19.
"Vamos ter muitos despedimentos, portanto estamos numa crise que precisa do alívio das medidas restritivas", frisou.
O fardo da Covid-19 para as famílias de Inhambane
Milhares de famílias estão a sofrer na província de Inhambane, no sul de Moçambique, desde que eclodiu a pandemia do novo coronavirus. Há pessoas sem emprego, em isolamento, obras paralisadas e os bens escasseiam.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Famílias sofrem por causa da Covid-19
Muitos habitantes da província moçambicana de Inhambane perderam os postos de trabalho por causa da crise provocada pela Covid-19, outros foram dispensados para cumprirem o isolamento social. Por outro lado, há obras paralisadas e faltam vários produtos, principalmente nas zonas rurais. Muita gente está a migrar para as cidades e vilas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
A culpa é do coronavírus
Dulce Eugénio, mãe de dois filhos e residente no bairro Sarrene, na cidade de Maxixe, disse que antes da pandemia o negócio corria muito bem, mas depois ficou sem dinheiro: "Consegui comprar o meu terreno e já estava a construir a minha casa de blocos com este pequeno negócio de vender tomates, cebola, pepino e cenoura, mas essa doença veio atrapalhar toda a situação."
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Coronavírus trouxe mais fome"
Com o confinamento obrigatório decretado em abril de 2020, a situação da fome agravou em Inhambane. Os cidadãos consideram que a pandemia do novo coronavírus "trouxe mais fome e miséria às comunidades". O desespero continua a imperar.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Viver de hortaliças é para quem pode
Há cada vez mais pessoas desempregadas, muitas famílias tiveram de adaptar as receitas em casa e passaram a consumir mais verduras, por exemplo. Mesmo assim, nem todos conseguem comprar, porque as hortaliças também já começam a escassear. Marta Alberto diz que não foi registada para receber o subsídio da Covid-19, concedido pelo Estado, e pede ajuda.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Produção agrícola em queda
Não é só a pandemia que tem sido um problema. Não tem chovido e muitas pessoas abandonaram a atividade agrícola. Os camponeses pedem ao Estado sementes, que estão cada vez mais caras no mercado. Em Inhambane, nem todos os camponeses vão receber o subsídio de dois mil meticais mensais (cerca de 23 euros) para suprir as suas necessidades durante seis meses.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Abandonada pela família e sem apoio
Joana Cândido foi abandonada pela família. Vivia com os netos, mas, com a pandemia, o filho solicitou aos netos que residissem juntos noutro bairro, deixando assim a idosa à sua sorte. Com problemas na perna e dores constantes na coluna, não lhe é fácil ter três refeições por dia. Afirma que não foi selecionada pelo Instituto Nacional de Ação Social (INAS) para receber o subsídio da Covid-19.
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Estamos a sofrer e precisamos de apoio"
Laura Simão foi registada pelo INAS, na cidade de Maxixe, mas ainda não recebeu o dinheiro e afirma não ter comida suficiente. Em situação semelhante estão muitas outras pessoas carenciadas, que foram inscritas mas ainda não receberam os subsídios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Excluída dos apoios, com a panela vazia
Maria João revela que não foi contemplada pelos apoios da Covid-19. Ficou surpreendida, porque não trabalha, tem filhos a seu cargo e a panela vazia. E pede apoio ao Estado.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Enganar a fome
Teresa António trabalhava como doméstica em Inhambane, numa residência, mas, com a pandemia, teve de deixar de trabalhar para os seus patrões. Agora desempregada, diz que é difícil ter arroz na mesa e, muitas vezes, tem de misturar o arroz com tapioca (farinha de mandioca) para conseguir enganar a fome.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Vender mangas para sobreviver à pandemia
Cândida Maurício fazia venda ambulante no centro da cidade da Maxixe, mas - impossibilitada de continuar o negócio na rua por causa da pandemia - teve de se adaptar. Faz agora revenda de mangas na sua residência, mas soma prejuízos e não recebe apoio do Governo.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Perdeu o emprego com a Covid-19
Com o encerramento dos estabelecimentos comerciais em cumprimento do decreto do estado de emergência, João Saul foi demitido do serviço de guarda. Afirma que a pandemia lhe trouxe efeitos negativos que jamais irá esquecer. Sobrevive com o subsídio que recebe por ser desmobilizado - não superior a 50 euros - valor que considera insuficiente.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Sonho perdido?
Nina Cumbe concluiu o 12º ano de escolaridade em Inhambane, em 2019. Antes da eclosão da pandemia, queria concorrer a uma escola técnica profissional, mas não conseguiu, porque muitos estabelecimentos de ensino tiveram que encerrar com a declaração do estado de emergência no país. Agora, tenta ganhar a vida fazendo tranças a amigas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Resta fé e esperança
No meio de tanto sofrimento provocado pela pandemia do novo coronavírus, as famílias estão a lutar para superar a crise. Ilda Joaquim, residente de Inhambane, afirma que o confinamento social agravou a maneira de viver e que está a ser difícil adaptar-se às novas medidas. Reza muito para que consiga ultrapassar esta crise, porque está difícil receber apoios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
À espera de dias melhores
Antes da chegada do novo coronavírus, Maria Alberto fazia trabalhos para terceiros e produzia mandioca para fabricar e vender farinha. Hoje, é uma simples dona de casa que deixa as panelas limpas à espera que o marido traga alguma coisa dos seus biscates diários. Lamenta o sofrimento provocado pela Covid-19, mas vive na esperança de que tudo voltará à normalidade.