Insegurança alimentar afeta 3,15 milhões de moçambicanos
Lusa
19 de agosto de 2023
Pelo menos 10% da população de Moçambique, equivalente a 3,15 milhões de pessoas, vive em situação de insegurança alimentar aguda, dos quais 400 mil estão em situação crítica, sobretudo em Cabo Delgado.
Publicidade
"Em relação à avaliação pós-colheitas, temos 3,15 milhões de pessoas no país que estão em situação de insegurança alimentar aguda e neste momento decorre trabalho de assistência humanitária, de assistência para o desenvolvimento, para que essas famílias possam recuperar a sua capacidade produtiva", explicou a secretária-executiva do Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutrição (SETSAN), Leonor Mondlane.
Aquele órgão reuniu-se sexta-feira, em Maputo, sob presidência do primeiro-ministro, Adriano Maleiane, tendo sido anunciado que já foram entregues 120 mil kits de insumos agrícolas e vários kits de insumos pesqueiros, nomeadamente às famílias afetadas pelas inundações nos primeiros meses do ano, para permitir recuperar a capacidade produtiva.
"Temos cerca de 400 mil pessoas que precisam de assistência humanitária - são as que estão a receber assistência humanitária através das organizações - e as restantes precisam de assistência para o desenvolvimento para poderem recuperar sua capacidade produtiva", destacou ainda Leonor Mondlane, após a reunião do SETSAN.
Acrescentou que a maior parte da população em situação de insegurança alimentar está concentrada em Cabo Delgado, província afetada há quase seis anos por ataques terroristas, enquanto as restantes estão numa situação "mais ou menos equilibrada". "Em Cabo Delgado é crítica", descreveu Leonor Mondlane.
No terreno, o apoio humanitário está a ser assegurado pelo Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD) e parceiros, incluindo o Programa Mundial de Alimentação (PMA), Programa Nacional de Nutrição Escolar, uma iniciativa do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH).
Nampula: "Terra prometida" não consegue albergar mais "peregrinos"
Nampula tornou-se, desde o início dos ataques terroristas em Cabo Delgado, uma das "terras prometidas" para os refugiados. Muitos deslocados querem agora fixar ali residência, mas há dificuldades por falta de espaço.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Dificuldades em acolher mais pessoas
Muitos deslocados querem fixar residência em Nampula, uma cidade desenvolvida e calma no norte de Moçambique. No entanto, sentem fortes dificuldades devido à falta de terras disponíveis. O Governo local tenta encontrar soluções, que muitas vezes não são as que os habitantes mais gostam.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Há novas construções em zonas de risco
O fluxo populacional que a cidade de Nampula está a conhecer nos últimos anos, principalmente desde os conflitos em Cabo Delgado, tem contribuído para o aumento da construção de habitações em locais de risco. Até 2017, a cidade contava com mais de 700 mil habitantes, mas atualmente, de acordo com fontes do município, estima-se que sejam cerca de 900 mil.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Vende-se terreno: uma violação da lei que é ignorada
Em Moçambique, de acordo com a lei, a terra não pode ser vendida. Os terrenos são propriedade do Estado e cabe ao mesmo atribuí-los aos cidadãos. No entanto, as vendas ocorrem com regularidade. Em Nampula, em todos os bairros, incluindo os que estão em expansão, os terrenos são vendidos com um olhar indiferente por parte das instituições que velam pela legalidade.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
“Conflito por terras” entre mortos e vivos
A procura de espaço para viver está a originar o aumento de conflitos. Na zona do Muthita, no bairro de Mutauanha, a população invadiu áreas de reserva para construção de diversas infraestruturas do município. Esta imagem mostra uma disputa de terra num cemitério comunitário, entre os mortos e os cidadãos que o invadiram, tirando o sossego dos defuntos.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Naphutha: um rio resistente
O Rio Naphuta é fundamental no abastecimento de água da população do bairro de Mutauanha. Contudo, a sua existência é cada vez mais difícil. O rio sofre uma forte pressão humana, devido às construções de moradias e alterações climáticas.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Moradores unem esforços e abrem estrada
Na Unidade Comunal Muthita, no bairro de Mutauanha, os moradores decidiram unir-se. Recorrendo a enxadas, ancinhos, entre outras ferramentas de trabalho agrícola, decidiram abrir estradas. Embora de dimensões reduzidas, estes caminhos em terra batida permitem a mobilidade de viaturas pequenas.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Terras “sem ninguém”
A cidade de Nampula é a maior do norte de Moçambique. Na sua área ainda permanecem vastas terras férteis e intactas. Contudo, muitos cidadãos preferem ignorá-las devido à falta de condições mínimas. Em algumas destas zonas não ocupadas têm sido feitas delimitações de terrenos, mas a distribuição dos mesmos não tem sido frequente.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Nem tudo é negativo
A lotação da cidade moçambicana de Nampula não está apenas a criar pesos negativos. Os bairros de expansão da cidade estão também a conhecer novas e melhores moradias. Há nestes bairros luz e água. No entanto, a oferta desta última, por parte do Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água (FIPAG), não dura as 24 horas do dia.
Foto: Sitoi Lutxeque/DW
Fábricas consomem mais terras
O “boom” populacional na cidade não está a travar o desenvolvimento. Nos últimos anos, a cidade tem vindo a conhecer um aumento de novas infraestruturas económicas e vários investimentos que consomem extensas terras. Ao longo da Estrada Nacional número 1, desde a entrada até à saída da cidade, há novas construções de indústrias a surgirem.