Homens armados atacaram forças ruandesas este sábado durante uma emboscada na vila de Mocímboa da Praia, província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, matando uma menina, disseram as autoridades locais.
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O administrador de Mocímboa da Praia, Sérgio Cipriano, disse aos média de Moçambique que "a menina foi atingida no abdómen e não resistiu aos ferimentos".
"Ontem [sábado], por volta das 22:12 [cerca de 21:00 em Lisboa] uma patrulha da força ruandesa caiu numa emboscada de terroristas e, durante a troca de tiros, os terroristas puseram-se em fuga", afirmou.
Descrevendo o ataque no "raio autárquico" como "surpresa", dado que é controlado pelas forças do Ruanda, consideradas mais eficazes, o administrador de Mocímboa da Praia disse que os militares daquele país ainda não se pronunciaram sobre eventuais baixas no seu seio nem há ainda dados sobre possíveis insurgentes mortos ou feridos no confronto.
"Ainda não nos informaram absolutamente nada", afirmou o administrador de Mocímboa da Praia.
Sérgio Cipriano disse que populares relataram que os insurgentes terão tentado atacar um quarto do exército moçambicano noutras incursões ocorridas no sábado na região, mas essas investidas ainda não foram confirmadas.
"Não temos dados avançados"
"Alguns populares dizem que sentiram alguns disparos, mas ainda não temos dados avançados", declarou Cipriano.
O administrador de Mocímboa da Praia assegurou que a situação na vila está calma, adiantando que os pescadores voltaram ao mar, os camponeses estão nos campos e os religiosos foram aos cultos de domingo.
"Nós não sentimos que [os acontecimentos de sábado] possam pôr em causa a vida normal da população", disse.
A vila de Mocímboa da Praia esteve sob controlo dos grupos armados que atuam em Cabo Delgado, durante cerca de um ano, tendo sido libertada pelas forças governamentais do Ruanda e de Moçambique, em agosto de 2021.
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Uma província rica em gás
Desde outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, rica em gás,enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
O último grande ataque deu-se em 10 e 11 de maio, à sede distrital de Macomia, com cerca de uma centena de insurgentes a saquearem a vila, provocando vários mortos e fortes combates com as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique e militares ruandeses, que também apoiam Moçambique no combate aos rebeldes.
Desde o início de agosto, diferentes fontes no terreno, incluindo a força local, têm relatado confrontos intensos nas matas do posto administrativo de Mucojo (Macomia), envolvendo helicópteros, blindados e homens fortemente armados, com relatos de tiroteios em locais considerados como esconderijos destes grupos.
O rasto do terrorismo em Macomia teima em não desaparecer
O rasto do terrorismo em Macomia teima em não desaparecer
Foto: DW
Quarta invasão
No dia 10 de maio de 2024, um grupo de terroristas invadiu Macomia, naquela que foi a quarta vez consecutiva que aquela vila de Cabo Delgado se viu entregue aos terroristas. Permaneceram na sede distrital por cerca de dois dias. Após confrontos com as tropas moçambicanas e aliados, o grupo armado abandonou a vila. Mas a destruição permanece.
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Rasto de destruição
Ao abandonarem o local, os terroristas deixaram edifícios públicos como registo civil, a direção de infraestruturas e a secretaria distrital completamente vandalizados. Alguns desses locais continuam de porta fechadas. O comércio vai reabrindo a conta-gotas e a medo.
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Agências humanitárias não escaparam
Também os escritórios e infraestruturas que albergam organizações humanitárias como a Médicos Sem Fronteiras, Cruz Vermelha, entre outras, foram arrasados pelos terroristas. Desses locais, foram subtraídos medicamentos, viaturas e outros bens.
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Reconstrução é urgente
Autoridades governamentais de Cabo Delgado visitaram Macomia no início de junho para avaliar os danos causados pela presença terrorista. Apesar de admitirem que é uma "prioridade repor aquelas infraestruturas para gradualmente os funcionários prestarem os serviços necessários à população", os serviços continuam a funcionar a meio-gás.
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Paz e medo entre os habitantes
A vila tenta regressar à normalidade, mas o clima ainda é de medo. Os residentes reativaram as atividades de autossuficiência, mas não escondem o receio de um novo ataque, preocupação que paira a todo o instante.
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Chitunda, em Muidumbe, sem serviços públicos
Os cerca de 11 mil habitantes que tinham saído do posto administrativo de Chitunda, em Muidumbe, devido à insegurança, voltaram a casa. Mas nenhuma escola ou hospital está neste momento a funcionar, deixando milhares de crianças fora das salas de aula e os residentes sem acesso a cuidados de saúde.
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Governo promete reabrir escolas e hospitais
Para aceder a cuidados de saúde, a população da aldeia de Miangaleua, no posto administrativo de Chitunda, em Muidumbe, recorre ao distrito de Macomia. Mas o governo local garante que em breve os centros de saúde e as escolas na região voltarão a funcionar.
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Chuvas intensas agravaram a fome
A população de Miangaleua, em Muidumbe, que regressa paulatinamente a casa está a dedicar-se à produção agrícola. Porém, as chuvas intensas que caíram entre finais de 2023 e princípios deste ano arrastaram vários hectares de campos agrícolas junto ao rio Messalo. A produção de arroz e de outras culturas perdeu-se, aumentando a fome na região.
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Autoridades exortam população a produzir comida
O governo local ofereceu sementes de milho e feijões, enxadas, catanas e outros materiais de produção para que os camponeses voltem a semear.
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Corrente elétrica em falta
Os habitantes expressam também o desejo de ver restabelecida a corrente elétrica em Macomia, uma vez que as instalações elétricas também foram afetadas pelos ataques terroristas dos últimos anos. Pequenos painéis solares garantem serviços mínimos, mas não permitem a conservação do peixe que é retirado do rio, por exemplo.
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Mais segurança
Os residentes da aldeia de Miangaleua, em Muidumbe, pedem o reforço da presença das Forças de Defesa e Segurança, para que nunca mais tenham de fugir das próprias terras devido ao terrorismo. Mas a ajuda tarda em chegar.