Conselho Islâmico vê um eventual controlo apertado às mesquitas de Maputo como discriminação e alerta: se a comunidade perder a confiança nas autoridades, a FRELIMO, partido no poder, pode vir a sofrer nas urnas.
Publicidade
A intenção da secreta moçambicana de fazer um mapeamento das mesquitas na capital moçambicana já está a desencadear um mal estar no seio da comunidade muçulmana.
O sheik Aminudin Mohamad, presidente do Conselho Islâmico de Moçambique e do Conselho das religiões no país, alerta para as consequências de um maior escrutínio sem fundamentos sólidos: "Pode haver descontentamento. Nós estamos a viver num sistema democrático e se a população muçulmana estiver, de facto, a ser visada, pode perder boa parte da confiança no partido FRELIMO, o que pode afetar [o partido] nas próximas eleições, isso pode acontecer".
"Se os muçulmanos começarem a sentir-se discriminados, [numa situação] em que uns são tratados como filhos e outros como enteados, uns são perseguidos e outros são tolerados, então isso pode criar um descontentamento, o que é mau para a democracia em que tudo se baseia no voto", acrescenta.
A importância da igualdade de tratamento
O Estado moçambicano é laico. Há várias religiões e os seus crentes convivem há séculos em plena harmonia. Um maior controlo às atividades da comunidade muçulmana, em especial, não seria o acender do rastilho para o surgimento de tensões religiosas ou inter-religiosas no país, até agora isento disso? Hortêncio Lopes, sociólogo, responde: "É preciso sempre acautelar. O facto de visarem uma determinada comunidade religiosa poderá também fazer ascender alguma tensão entre essa comunidade e outra, achando que está a ser discriminada ou que existe alguma exclusão".
O sociólogo recorda que o Estado, até agora, não interfere muito nas atividades religiosas, não deixando, contudo, de fazer a fiscalização das igrejas. Entende, entretanto, que neste âmbito, deve fazê-lo igualmente a outras igrejas.
Por outro lado, há a crença de que o Governo esteja a sofrer pressões externas para uma maior controlo à comunidade muçulmana ou mesquitas. Sobre esta possibilidade, o líder religioso sublinha que a consciência política no país é hoje muito elevada, não cabendo mais a desculpa de interferências desse género.
Moçambique: Comunidade muçulmana alerta para discriminação
"Nós sabemos que ‘está na moda’ perseguir os muçulmanos em toda a parte do mundo e rotulá-los de terroristas e outras coisas. Portanto, esperamos que o nosso Governo seja mais compreensivo e reflita sobre o assunto e não caia nesta onda que muitos outros países estão a seguir cegamente", alerta o sheik Aminudin Mohamad.
Ajuste de contas nas urnas?
Moçambique realiza eleições gerais a 15 de outubro de 2019. E uma ação do partido que governa contra grupos de poder pode resultar em revés nas urnas. Hortêncio Lopes entende que houve défices nas bases que sustentam a vontade de um maior escrutínio: "Esta comunidade específica, a comunidade muçulmana, que tem dado um grande apoio ao partido no poder, também nalgum momento poderá fazer com que virem as suas atenções para outros partidos, apoiando-os, como forma de retaliação por causa do que o Governo está a pretender fazer", considera. "Acho que faltou um pouco de análise profunda das motivações que levam o Governo a tomar esta decisão".
Mas, seguramente, a FRELIMO deve estar consciente das consequências das suas ações, que dão sinais de estarem a começar de forma reservada. Será que o partido no poder vai "apertar o cerco" depois das eleições? Só esperar para ver. Enquanto isso, perguntamos ao sheik Aminudin se já é caso de pensarem em boicote à FRELIMO na urnas já em outubro: "Acho que os muçulmanos não vão chegar a esse ponto, mas vamos saber conversar com as autoridades, fazer o nosso papel", responde.
"Já está nos nossos planos fazermos encontros com as autoridades para falarmos sobre o assunto, porque há muita coisa que acontece e eles também caem na teia se se aperceber. Mas se Deus quiser, tudo vai melhorar, Moçambique é uma terra onde todos são muito tolerantes", afirma o líder religioso.
Edifícios e monumentos históricos de Maputo
Na baixa da capital moçambicana, Maputo, há edifícios históricos ao virar de cada esquina. Quem visita a cidade tem muito para apreciar - desde a Estação Central à Casa de Ferro, desenhada por Gustave Eiffel.
Foto: DW/Romeu da Silva
Desenhada pelo arquiteto da Torre Eiffel
A Casa de Ferro foi construída em 1892. O desenho foi encomendado pelo Governo português ao escritório de Gustave Eiffel, o autor da torre de Paris, especializado em construções metálicas. Foi construída antes de se inventar um sistema de ar condicionado para enfrentar as altas temperaturas em África. A Casa de Ferro destinava-se a ser a sede do governador-geral, mas isso nunca se concretizou.
Foto: DW/Romeu da Silva
O mítico Bazar Central
O Mercado Municipal de Maputo, também chamado de Bazar Central, foi inaugurado em 1901. Aqui vende-se um pouco de tudo: frutas, legumes, especiarias, perfumes, enfeites. O mercado é um ponto turístico bastante visitado em Maputo - mesmo por aqueles que não têm intenções de fazer compras.
Foto: DW/Romeu da Silva
Fortaleza à beira-mar
A Fortaleza de Maputo fica em frente à Baía de Maputo. No local, consta que foi construída no séc. XVIII, num período de rivalidades entre os países europeus que disputavam a "Baía D'Lagoa", uma importante rota comercial para os países do hinterland, sem acesso ao mar. Antes chamava-se Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição.
Foto: DW/Romeu da Silva
Paragem obrigatória: Museu da Moeda
O Museu da Moeda, na Praça 25 de Junho, retrata a história do mercado monetário moçambicano. É uma paragem obrigatória, que fica numa zona com muitas outras atrações turísticas. Construída em 1787, a Casa Amarela, como também é chamada, foi das primeiras edificações convencionais a existirem em Lourenço Marques, hoje Maputo. O edifício é conservado pela Universidade Eduardo Mondlane.
Foto: DW/Romeu da Silva
Museu de História Natural
Tutelado pela Universidade Eduardo Mondlane, o Museu de História Natural exibe vários animais embalsamados: mamíferos, aves, insetos e répteis. Foi em 1911 que se deram os primeiros passos para a criação do atual museu, com a exposição de exemplares marinhos, minerais, madeiras e produtos agrícolas na antiga Escola Comercial e Industrial 5 de Outubro.
Foto: DW/Romeu da Silva
Das mais belas estações do mundo
A Estação Central fica na baixa da capital moçambicana, Maputo. Começou a ser construída em 1908 e foi concluída dois anos depois. A partir desta estação, antes chamada Estação dos Caminhos de Ferro de Lourenço Marques, nasceram vários corredores ferroviários nacionais e internacionais. Em 2009, a revista norte-americana Newsweek classificou-a como a sétima mais bela do mundo. Foto de arquivo.
Foto: picture-alliance / dpa
Conselho Municipal de Maputo
O edifício do Conselho Municipal de Maputo é um imóvel de inspiração clássica inaugurado em dezembro de 1947 para ser a sede da Câmara Municipal de Lourenço Marques. Hoje, é a casa do órgão executivo da cidade de Maputo, constituído por um presidente eleito pelos residentes na capital e por quinze vereadores designados por ele.
Foto: DW/Romeu da Silva
Monumento aos Mortos da I Guerra Mundial
Este monumento foi inaugurado em 1935 para prestar homenagem aos portugueses e moçambicanos mortos na Primeira Guerra Mundial. Lembre-se que Moçambique foi afetado pelo conflito, uma vez que militares alemães estabelecidos na colónia de Tanganica atacaram guarnições militares portuguesas no norte de Moçambique, substituindo-as pela sua guarnição.
Foto: DW/Romeu da Silva
Catedral emblemática
A catedral metropolitana de Nossa Senhora da Conceição é um edifício emblemático de Maputo, projetado em 1936 pelo engenheiro Marcial Freitas e Costa e inaugurado em 1944, como consta no local. Fica na Praça da Independência e tem uma torre com 61 metros de altura. É a sede da Igreja Católica em Maputo, onde dirigentes e classe média da capital vão aos domingos à missa.
Foto: DW/Romeu da Silva
Igreja da Polana
A igreja de Santo António da Polana é igualmente um edifício emblemático, de estilo moderno, em forma de flor invertida. Foi construída em 1962. O arquiteto foi Nuno Craveiro Lopes, filho do Presidente português Francisco Craveiro Lopes (1951-1958), no auge do fascismo liderado por António Oliveira Salazar.
Foto: DW/Romeu da Silva
Vila ao abandono
Vila Algarve, na zona nobre da capital, no bairro da Polana, é um edifício elegante, decorado com azulejos. Foi construído em 1934 e ampliado em 1950. Sede da PIDE em Moçambique, a Vila Algarve testemunhou muitas cenas de tortura perpetradas pela polícia portuguesa contra cidadãos que desobedecessem às ordens do regime fascista. O edifício está ao abandono e alberga sem-abrigo.
Foto: DW/Romeu da Silva
Prédio Pott em ruínas
O proprietário deste prédio era Gerard Pott, um emigrante holandês e pai de Karel Pott, um dos primeiros jornalistas e advogados moçambicano a contestar a discriminação racial no início do século XX. Em 1990, um incêndio destruiu quase por completo o prédio, que também alberga agora sem-abrigo, à semelhança da Vila Algarve.
Foto: DW/Romeu da Silva
Açucareira de Xinavane
A cerca de 140 quilómetros da capital, mas ainda na província de Maputo, investidores ingleses fundaram, em 1914, esta fábrica de açúcar. Este é dos mais históricos edifícios na zona rural de Maputo e ainda conserva a mesma arquitetura. Nos anos 50, passou para as mãos de portugueses e hoje é propriedade da empresa sul-africana Tongaat Hulett.