Na província de Inhambane, sul de Moçambique, os jovens dizem que lhes são exigidos o equivalente entre 100 e 500 euros para conseguirem um emprego. Agastados, exigem que o Governo intervenha para acabar com a extorsão.
Publicidade
Muitos jovens em Inhambane têm dificuldades em encontrar emprego, mesmo quando têm uma formação técnico-profissional ou licenciatura. E quando há vagas, muitas vezes têm de pagar somas elevadas para obterem um contrato.
Cintia José revelou à DW, que anda há três anos à procura de emprego. Mas sem sucesso, porque não tem dinheiro para pagar o que lhe exigem os potenciais patrões.
“Saem vagas de emprego, você vai na correria, "eu quero". Mas o que te dizem lá é: para você entrar aqui tem de pagar algum valor. Podem-te cobrar 12 mil, 30 mil ou 40 mil meticais."
Prática criminosa comum em instituições privadas e públicas
Nildo Chinavane, que se formou em Chicuque como professor há cerca de dois anos, disse à DW que lhe foi exigido pelo facilitador de emprego numa instituição pública, um pagamento inicial de vinte e cinco mil meticais (equivalente a 300 euros). Quando começasse a trabalhar, teria então de pagar mais alguns milhares de meticais.
“Onze mil meticais, já depois de estar a trabalhar. O resto do valor podia pagar, mas não consegui o valor e assim perdi esta oportunidade de emprego”.
Sandra Flávio concluiu o ensino secundário. Conta que também lhe pediram dinheiro em troca de um emprego. Por isso continua desempregada e pede ao Governo que tome medidas para pôr fim à venda de vagas nas instituições públicas e privadas.
Até na polícia
“Deviam parar essas coisas de exigirem dinheiro para emprego, porque nem todos têm dinheiro para pagar o valor que eles precisam. Se nós não temos dinheiro, como é que vai ser?”
A venda de contratos acontece em quase todas instituições públicas e privadas. Juma Aly Dauto, porta-voz da polícia no comando provincial de Inhambane, confirma que tem recebido queixas sobre tentativas de extorsão até na polícia. O agente diz que os cidadãos não devem pagar os valores ilegalmente exigidos.
“Recebemos sempre queixas nas esquadras, mas não é só dentro da corporação. Também acontece noutras áreas com promessas de emprego ou admitidos dentro da instituição”, disse Aly Dauto.
Inhambane: Artistas plásticos e voluntários revitalizam ruínas
Centro de Inhambane, no sul de Moçambique, tem agora pinturas em ruínas de construções do período colonial e não só. Mensagens vão de conservação ambiental a igualdade de género.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Galeria de arte a céu aberto
Após a independência de Moçambique, construções do período colonial ficaram danificadas um pouco por todo o país. Artistas plásticos profissionais e amadores uniram-se no projeto "Inhambane Cidade - Cidade Azul", liderado por Chaná de Sá, para reavivar esta parte da cidade e não só. Valorizam a sociedade e o meio ambiente locais. Aqui retratam o Dugongo, mamífero presente nas águas da região.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Mãe natureza ou "deusa mãe"
Uma mulher negra protetora da biodiversidade e do ecossistema é retratada aqui. A mãe natureza ou "deusa mãe" tem um coração enorme no qual cabem todas espécies e plantas, considera Chaná de Sá. A obra tem sido uma das mais visitadas pelos turistas no centro da cidade de Inhambane.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Preservar a tartaruga-marinha
As tartarugas-marinhas têm sido uma atração para turistas internacionais e nacionais que gostam de mergulhar nas águas cristalinas da costa moçambicana. Por ser considerada uma espécie ameaçada de extinção, a sua proteção é um dos temas abordados pelos voluntários. Querem consciencializar as novas gerações sobre a sua importância para a sociedade, o meio ambiente e o ecossistema.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Florestas e vida selvagem
A província de Inhambane possui um parque nacional onde vários animais selvagens têm sido abatidos pelos caçadores furtivos, principalmente os elefantes que possuem presas de marfim. A floresta é devastada por quem procura lenha para cozinhar. Nos últimos anos, alguns animais selvagens estão a ser repovoados. A pintura foi feita por voluntários num parque infantil na cidade da Maxixe.
Foto: Luciano da Conceição/DW
O canto da baleia corcunda
É uma espécie pré-histórica muito rara no mundo, mas ainda presente nas águas do Oceano Índico. As baleias corcunda viajam milhares de quilómetros de uma região para outra para o acasalamento, amamentação e em busca de alimentos. Anualmente, chegam a Inhambane turistas para a prática do mergulho e observação de baleias, principalmente nas praias de Tofo, Vilankulo, Inhassoro e Zavala.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Arte no contentor do lixo
Para além de serem aproveitadas paredes das ruínas antigas, os artistas plásticos também deram nova imagem aos contentores de lixo na Praia do Tofo, retratando a vida dos animais aquáticos como forma de mostrar as riquezas que a costa de Inhambane tem para oferecer. Mas, para garantir que a homenagem seja concretizada, é preciso que o esforço para a preservação das espécies seja de todos cidadãos.
Foto: Luciano da Conceição/DW
União pelas mulheres
Várias mulheres sofrem violência doméstica, principalmente nesta época de pandemia. Algumas organizações da sociedade civil têm evidenciado o seu esforço na proteção das mulheres nas comunidades rurais e centros urbanos. Com ajuda de organizações não governamentais, aproveitaram paredes das ruínas e muros de vedação nas escolas para deixar a mensagem de união da sociedade a apoio das autoridades.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Reconhecer a contribuição das mulheres
Várias organizações vocacionadas para a proteção das mulheres uniram-se à iniciativa e pintaram alguns muros no centro da cidade de Inhambane. O teor das mensagens vai no sentido de reconhecer os esforços das mulheres na luta contra o coronavírus, pela igualdade de género e pelo contributo feminino para o bem-estar social. Jovens ativistas e voluntários empenham-se para colorir a cidade.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Mulheres a trabalhar durante a pandemia
Com a pandemia da Covid-19, centenas de mulheres não ficam em casa como recomendado nos decretos presidenciais aprovados pelo Parlamento. Muitas continuaram com os seus negócios a lutar pela sobrevivência nas ruas. Grande parte delas recorre ao distanciamento social, lavagem das mãos e uso das máscaras faciais para se proteger. O artista plástico Chaná de Sá quis homenagear essas mulheres.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Retratar a cultura local
Na Casa da Cultura, os artistas fizeram uma pintura para representar os hábitos e costumes da região e o respeito aos mais velhos. A região de Inhambane possui diversas culturas e povos. A pintura faz referência à forma como evoluiu a cultura local, sem interferências de outras culturas. Homens e mulheres convivem juntos sem, no entanto, esquecer as suas raízes, consideram os autores da pintura.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Chaná de Sá: O artista por trás do projeto
Chaná de Sá é o artista responsável pelo projeto "Inhambane Cidade - Cidade Azul". Trabalha com artes visuais desde a infância e já formou vários jovens nesta área. Conta que, para realizar este projeto com foco nas ruínas de Inhambane, teve apoio de cerca de 667 euros e algumas latas de tinta oferecidas por empresários locais. Tem outros projetos em vista e pede apoio para a sua realização.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Procuram-se mais parceiros
A ideia de revitalizar as paredes dos edifícios antigos surgiu há alguns anos, mas não avançou como deve ser por falta de material. Os artistas apelam ao apoio de mais parceiros para que o projeto avance, a arte de qualidade não desapareça e seja mais difundida entre os jovens.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Temas atemporais
Pinturas do passado continuam a retratar a vida da população local no seu dia-a-dia. São comuns temas como política, religião, superstição, entretenimento e trabalho, além de desafios enfrentados pela sociedade na área da saúde, como é caso do HIV/SIDA.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Apoiar os artistas
Muitos artistas que se dedicam às artes visuais encontram-se filiados na Casa da Cultura, onde têm aprendido e mostrado os seus talentos. O governo provincial tem canalizado algum apoio financeiro para as artes plásticas. Entretanto, segundo alguns artistas, o apoio não tem chegado a todos.