Junta Militar ameaça voltar a atacar centro de Moçambique
Arcénio Sebastião (Beira)
7 de janeiro de 2020
André Matsangaíssa Júnior, membro da autoproclamada "Junta Militar" da RENAMO, promete novos ataques caso membros da sua família, que foram raptados, não sejam libertados. FRELIMO diz-se preocupada com violência.
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André Matsangaíssa Júnior diz que o último contacto que teve com os seus familiares, que terão sido raptados há quase um mês, foi a 27 de dezembro. A partir daí, não teve mais informações.
Em entrevista à DW África, o guerrilheiro da autoproclamada "Junta Militar" conta que os supostos raptores lhe disseram que pertenciam às Forças de Defesa e Segurança, exigindo-lhe dois milhões de dólares em resgate e que se entregasse às autoridades. Mas Matsangaíssa diz não ter dinheiro para pagar e recusa ceder. "Não me vou apresentar nem em nenhum dia", afirma.
A polícia rejeita comentar o caso, alegando que ainda não recebeu qualquer queixa sobre o alegado rapto.
Regresso às aulas
Por telefone, a partir de local desconhecido, Matsangaíssa volta a ameaçar com ataques da "Junta Militar" no regresso às aulas, em fevereiro, se os seus familiares não forem libertados.
"Na província de Manica e Sofala não quero ver, este ano, [as turmas] da primeira à sétima classe. Não quero ver sequer a cara de nenhum professor nestas escolas", diz.
Moçambique: Junta Militar ameaça atacar centro do país no regresso às aulas
Recentemente, o líder da autoproclamada "Junta Militar" da RENAMO, Mariano Nhongo, também prometeu novos ataques se, na próxima semana, os deputados do partido da oposição ocuparem os seus assentos no Parlamento e Filipe Nyusi tomar posse como Presidente da República.
Pelo menos 21 pessoas morreram desde agosto de 2019 em ataques de grupos armados no centro de Moçambique, atribuídos a guerrilheiros da RENAMO.
FRELIMO preocupada
Na segunda-feira (06.01), Jaime Neto, primeiro secretário do comité provincial da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) em Sofala, disse estar preocupado com a situação. "Queremos condenar os atos belicistas da 'Junta Militar' da RENAMO e apelamos à RENAMO que encontre a melhor forma para pôr fim a estes ataques, de modo a preservar a paz", afirmou.
Para Jaime Neto, não faz sentido que, em todos os pleitos eleitorais, a Resistência Nacional Moçambicana reclame dos resultados eleitorais e, na sequência disso, ataque alvos civis nas estradas e nas aldeias. Desta forma, diz, a população não consegue explorar a terra para garantir a sua sobrevivência.
"Por via disso a nossa população nunca foi capaz de utilizar todas potencialidades que a província possui para gerar riqueza e melhorar a sua vida por causa do medo imposto pelos homens armados da RENAMO", explica Neto, que não tem dúvidas de que os ataques estão a retrair o desenvolvimento económico na região.
Acordo de Paz histórico em Moçambique
Em Moçambique, o Presidente Filipe Nyusi e o líder da RENAMO, Ossufo Momade, formalizaram na quinta-feira (01.08) o fim das hostilidades militares no país. O acordo, já considerado histórico, é o terceiro em 25 anos.
Foto: DW/A. Sebastião
Acordo histórico
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da RENAMO, Ossufo Momade, erguem o acordo de paz e fim das hostilidades, que foi assinado na Serra da Gorongosa, província de Sofala, centro do país. O local é conhecido como bastião da RENAMO. O acordo tem como objetivo acabar com os confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/A. Sebastião
Anos de hostilidade
"Estamos aqui em Gorongosa para dizer a todos moçambicanos e ao mundo inteiro que acabámos de dar mais um passo, que mostra que a marcha rumo à paz efetiva é mesmo irreversível", declarou Filipe Nyusi, referindo-se ao acordo assinado com a RENAMO. É o terceiro documento após anos de hostilidades. O primeiro foi assinado em 1992, em Itália - o chamado Acordo Geral de Paz de Roma.
Foto: DW/A. Sebastião
Virar a página
"Com esta assinatura do acordo de cessação das hostilidades militares, queremos garantir ao nosso povo e ao mundo que enterramos a lógica da violência como forma de resolução das nossas diferenças", afirmou o líder da RENAMO, Ossufo Momade, ressaltando que "a convivência multipartidária será o apanágio de todos partidos políticos".
Foto: DW/A. Sebastião
Silenciar das armas
O pacto cala oficialmente as armas e prolonga de forma definitiva uma trégua que durava desde dezembro de 2016, depois de vários anos de confrontos armados entre as forças governamentais e o braço armado da RENAMO.
Foto: DW/A. Sebastião
Abraço da paz
Na cerimónia de assinatura do acordo, o Presidente de Moçambique Filipe Nyusi mostrou-se otimista em relação aos próximos anos, dizendo que "a incerteza deu ligar à esperança e o futuro de Moçambique é promissor".
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"Paz vai ser testada nas eleições"
Este novo acordo é um passo muito importante para Moçambique e também para todos os partidos. Daviz Simango, líder do MDM, esteve na cerimónia e alertou: "Temos que trabalhar muito neste processo eleitoral que se avizinha. Portanto, se o STAE nos proporcionar o teatro, que tem vindo a fazer de ciclo em ciclo eleitoral, pode proporcionar o retorno a essas situações de conflitos militares".
Foto: DW/A. Sebastião
Unidos pelo acordo
Horas depois da assinatura do acordo, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse na Beira que o Governo e a RENAMO vão unir-se para debelar qualquer tentativa de prejudicar o acordo de cessação definitiva de hostilidades militares.