Daviz Simango diz não a "fragmentação individualista"
Sitoi Lutxeque (Nampula)
5 de dezembro de 2017
No começo do II Congresso do MDM em Nampula, o seu líder apelou à unidade e coesão. O evento ocorre numa altura em que a segunda maior força da oposição atravessa uma crise, em especial no lugar onde decorre o congresso.
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A crise política interna do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) dominou a abertura do segundo congresso do partido nesta terça-feira (05.12.). Na província nortenha de Nampula, a crise agudizou-se com o assassinato do edil Mahamudo Amurane e com a escolha do candidato menos votado no partido para concorrer às eleições intercalares de 24 de janeiro.
O líder da segunda maior força da oposição, Daviz Simango, condenou o comportamento de alguns dos seus colegas que se têm distanciado das ideologias do partido.
"São oito anos de muito sacrifício e nessa caminhada há valores que são inegociáveis. Todos gozamos dos mesmos princípios e valores, somos todos iguais enquanto membros do MDM", disse.
Simango foi mais longe ao afirmar que "não podemos destruir a confiança mútua pela fragmentação individualista. Não podemos destruir aquilo que construímos com muito sacrifício".
Problemas do país também na agenda do MDM
O líder do MDM voltou a defender a revisão da Constituição da República para a eleição de governadores provinciais e para reduzir os poderes do chefe do Estado. Além disso, pediu a inclusão do partido nos grupos de diálogo para o alcance da paz efetiva no país.
Daviz Simango diz não a "fragmentação individualista"
No congresso do MDM participam mais de mil delegados e convidados.
A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) foi representada pelo chefe do Departamento dos Assuntos Sociais do Comité Central, Samuel Massango, que pediu para que se discuta no congresso temas que possam contribuir para o desenvolvimento do país.
Para o representante do partido no poder, "com este congresso, a democracia vai-se consolidar ainda mais''.
CASA-CE inspira-se para as autárquicas em Angola
Outro dos convidados foi a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), representada pelo seu líder Abel Chivukuvuku, que desejou a vitória do MDM nas eleições de janeiro. E Chivukuvuku apelou: "Pelos moçambicanos, não cruzem os braços. Vêm aí as eleições intercalares, voltem a ganhar as eleições de Nampula do próximo ano."
Angola poderá realizar as primeiras eleições autárquicas já em 2019 e Abel Chivukuvuku aproveitou a ocasião para pedir apoio ao MDM.
"Vou pedir ao presidente Daviz Simango para que a CASA-CE possa enviar para a cidade da Beira, durante o ano de 2018, uma equipa de dirigentes para aprenderem e colherem ensinamentos da vossa experiência do exercício de poder local", afirmou.
No congresso do MDM, que termina na sexta-feira (08.12), serão eleitos novos membros do Conselho Nacional e o presidente do partido. Definir-se-ão ainda estratégias para as eleições autárquicas e presidenciais de 2018 e 2019, respetivamente.
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.