Má gestão e corrupção na origem da decandência da LAM, consideram algumas correntes de opinião em Moçambique. Há quem seja a favor de um financiamento, tal como há quem defenda a entrega da companhia aérea a privados.
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Nesta segunda-feira (10.04) a LAM, Linhas Aéreas de Moçambique, emitiu um comunicado a informar que está a operar apenas com três aviões. A empresa, que só têm sete aparelhos, está com o seu maior avião fora de circulação devido a uma avaria. A situação afeta dezenas de passageiros que viram os seus voos cancelados ou reprogramados. Este é mais um golpe contra os passageiros que já têm queixas sem fim na sua lista de reclamações contra a companhia.
Alves Gomes é especialista em aviação civil e acredita que "devido a problemas financeiros gerados por má gestão, a LAM está numa situação muito difícil de obter equipamento de reposição para as suas aeronaves, estou a falar de sobressalentes. E isso faz com que várias aeronaves não possam voar porque não estão em condições operacionais de o fazer."
Também se sabe que a LAM planeava comprar novos aparelhos, mas a crise financeira e económica que o país atravessa deixou o plano apenas no nível da intenção. No final das contas, a LAM está a oferecer um produto aos clientes quando dá sinais evidentes que não tem capacidades para o fazer.
Financiamento do Estado ou gestão privada?
Sobre uma possível solução para a companhia aérea nacional Gomes diz: "É uma situação bastante grave, não sei como se vai resolver de imediato. Penso que o Ministério das Finanças terá de encontrar alguma fórmula para desembolsar o dinheiro para que a LAM possa comprar material de reposição."
No começo de 2017, a segunda maior força da oposição, o MDM, pediu no Parlamento esclarecimentos ao Governo sobre a saúde financeira e a capacidade de funcionamento da LAM. O Governo garantiu que estava tudo sob controlo, mas para o MDM está cada vez mais claro que a situação não é exatamente assim como o Governo quer fazer parecer.
Lutero Simango é chefe da bancada do partido e defende que "é muito urgente que a LAM vá para hasta pública para vender as suas ações ao setor privado, esta pode ser uma via. A outra via, sendo a LAM uma empresa pública é importante que o Instituto de Gestão de Participações do Estado, o IGEPE, aprove uma estratégia de tal maneira que entregue a gestão da LAM a um privado para permitir que a empresa possa adquirir novas aeronaves e para que possa competir no mercado nacional e regional."
Corruptores seguem impunes
De lembrar que um caso de corrupção abalou a empresa em 2016 e até hoje o Gabinete Central de Combate à Corrupção não apresentou um desfecho. O fabricante brasileiro Embraer terá pago 741 mil euros a gestores da LAM e a um intermediário, também moçambicano, pela venda de duas aeronaves em 2009.
Lutero Simango sublinha que "o grande problema em Moçambique é que vivemos uma corrupção generalizada em que ninguém é punido, ninguém é julgado e condenado. Nós sabemos o que aconteceu no processo de aquisição dos dois aviões Embraer no Brasil, foi subfaturação. E os acusados até hoje estão por aqui na cidade a passear a sua classe, não são chamados, não são julgados e nem são condenados."
ONLINE LAM Decadencia - MP3-Mono
Dakar-Níger: a lenta morte de uma via-férrea
A tradicional ferrovia Dakar-Níger já foi a mais importante artéria de ligação entre os países do Oeste Africano, Senegal e Mali. Mas há décadas, a rota vem sendo ignorada.
Foto: DW/S.Martineau
Todas as rodas paradas
Muitas estações da ferrovia Dakar-Níger, de 90 anos de idade, estão negligenciadas. Esta já foi a mais importante ligação entre as capitais do Senegal e do Mali: Dakar e Bamako. Recentemente, os presidentes dos dois países, Macky Sall e Ibrahim Boubacar Keita, concordaram em reativar a rota. Uma tarefa gigantesca.
Foto: DW/S.Martineau
Grama no lugar de plataformas
A Estação Central de Dakar está localizada no extremo oeste da ferrovia de quase 1.300 quilómetros. Mas há muito tempo, os trens já não transitam aqui. Depois de um grave acidente, o transporte de passageiros foi interrompido em grande parte em 2009. Além disso, o plano de transformar a estação num museu, ainda não foi realizado.
Foto: DW/S.Martineau
Pouco espaço, muita poeira
Todas as noites o Petit Train de Banlieu (ou Pequeno Trem de Subúrbio) percorre um pequeno trecho de 60 quilómetros que separa Dakar de Thiès. Na manhã seguinte, o trem retorna. A viagem pelos subúrbios pobres de Dakar é lenta e tão empoeirada que alguns passageiros usam máscaras de proteção.
Foto: DW/S.Martineau
Kayes vive da ferrovia
Após da fronteira do Mali, fica a cidade de Kayes. No passado, a localidade viveu da ferrovia. Naquela época, dizia-se que cada segundo filho de Kayes trabalhava para a empresa ferroviária. Atualmente, a maioria dos habitantes vai de táxi coletivo, quando quer ir à capital Bamako, a 500 quilómetros de distância.
Foto: DW/S.Martineau
Duração imprevisível
Apenas duas vezes por semana, um trem ainda vai de Kayes a Bamako. De acordo com o plano, a viagem dura 15 horas. Frequentemente, no entanto, há atrasos ou descarrilamento do trem. O fim da antigamente importante via-férrea começou anos atrás.
Foto: DW/S.Martineau
Falta tudo
Sob pressão do Banco Mundial, os governos do Senegal e do Mali tiveram que privatizar a companhia ferroviária, em 2003. Desde a sua fundação, a empresa Transrail mudou várias vezes de proprietário. A condição da linha férrea foi só piorando. De trilhos a plataformas, tudo teria de ser substituído urgentemente, dizem os funcionários.
Foto: DW/S.Martineau
Pouco cliente-amigável
O serviço na bilheteria em Bamako não é uma prioridade da Transrail. Recentemente, a empresa transportou equipamentos do porto de Dakar até o Mali para a Operação Serval, a intervenção militar francesa no norte do Mali. Semelhante ao que aconteceu no início do século XX, quando o poder colonial transportava matérias-primas pelo rio Níger até o porto de Dakar. Por isso, o nome Dakar-Níger.
Foto: DW/S.Martineau
Demora na operacionalização
Frequentemente, os governos do Mali e do Senegal falam do potencial económico da ferrovia. Com investimentos, o comércio entre os países poderia se intensificar significativamente e aliviaria também a rede rodoviária, desgastada pelo trânsito de caminhões. Até agora, esses planos não foram implementados. Segundo novos rumores, investidores chineses estariam interessados na tradicional ferrovia.